21 jan, 2025 - 06:00 • Anabela Góis
Mais de metade das pessoas que vivem em Lisboa sentem frio em casa no inverno (63,2%) e calor no verão (56,5%), indica um inquérito da Agência de Energia e Ambiente de Lisboa (Lisboa E-Nova), a que a Renascença teve acesso.
Um desconforto térmico que afeta, sobretudo, mulheres (em comparação com os homens) e as pessoas em situações financeiras difíceis ou muito difíceis).
O inquérito da Lisboa E-Nova foi feito em três momentos distintos ao longo dos anos de 2022 e 2023, para compreender e caracterizar as experiências relacionadas com a pobreza energética, o conforto térmico e a saúde humana.
Carlos Contente de Sousa, administrador da E-Nova, diz que o principal problema prende-se com a própria construção dos edifícios.
“As pessoas não têm o conforto térmico mais adequado em casa, ou seja, a maior parte dos inquiridos passa frio no inverno e passa calor no verão. Verificamos que este desconforto térmico está muito associado à qualidade da construção e ao desempenho térmico da envolvente das suas casas, portanto, à capacidade das paredes, dos envidraçados da cobertura, limitarem ao máximo as trocas de calor com o exterior.”
Verificou-se uma relação entre a época de construção da habitação e o desconforto térmico, com as casas mais antigas (anteriores a 1960), tipicamente sem isolamento térmico, mais associadas a desconforto térmico no inverno.
“A maior parte dos edifícios da cidade são anteriores a 1960, portanto, bem antes de haver qualquer tipo de regulamentação térmica no país”, refere Carlos Contente de Sousa.
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A primeira regulamentação térmica, adianta, “é do princípio dos anos 90, só a partir daí é que se começou a ter mais cuidado naquilo que é o desempenho térmico da envolvente, tentando proporcionar maiores condições de conforto às pessoas. E ao mesmo tempo, procurando que as faturas com a eletricidade e gás fossem menores. Portanto, há uma relação muito evidente entre conforto térmico e desempenho térmico da envolvente” conclui.
Mais de um quinto dos participantes neste estudo (22,0%) admitiu que não tem capacidade financeira para manter a casa a uma temperatura confortável durante os meses de inverno e de verão.
Carlos Contente de Sousa sublinha que “no inverno 95% das pessoas disseram que utilizam algum tipo de aquecimento, mas aquecimento de baixa eficiência, como resistência elétrica ou radiador a óleo. Aquecimento central, por exemplo, só 6,7% dos participantes é que têm, ao passo que no verão, um terço das pessoas que inquirímos relatou ter ar-condicionado em casa. Mas desses só 13% é que utilizam o ar-condicionado sempre que precisam, e isto por causa do preço da eletricidade”.
O estudo da Lisboa E-Nova procurou também avaliar os efeitos do desconforto térmico em casa e a saúde dos seus moradores.
As conclusões não surpreendem Carlos Contente de Sousa: “o que nós vimos foi que o desconforto térmico agrava problemas de saúde crónicos, como doenças cardiovasculares, colesterol alto, tensão arterial, doenças respiratórias, como asma, etc. As questões do foro psiquiátrico, depressões, ansiedades também não melhoram”.
Foram inquiridas 1.139 pessoas, com mais de 25 anos, residentes numa casa há mais de seis meses. Uma amostra representativa de toda a cidade de Lisboa.
Este estudo foi feito em parceria com o Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e a colaboração do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.