28 jan, 2025 - 08:52 • Tomás Anjinho Chagas
É mais um dia para quem atravessa o Rio Tejo de comboio para ir para Lisboa trabalhar ou estudar. Só que desde o início do ano há uma diferença: há mais comboios a chegar, apesar de alguns terem menos carruagens.
A solução encontrada pela Fertagus funciona quando passam as composições maiores, mas nas mais pequenas o comboio chega ao Pragal completamente a abarrotar, e os utentes não são mais do que sardinhas que tentam entrar no pouco espaço que a lata tem.
Muitos fracassam ou desistem. Adelaide Correia, suspira e vai ter de esperar pelo comboio das 7h39, uma vez que no das 7h29 não cabia mais um alfinete nas carruagens onde tentou entrar.
“Não consegui, está muito apertado, já não dá. Vivo isto todos os dias”, explica à Renascença esta utente.
Tal como ela, algumas pessoas ficam do lado de fora, e a rotina é empurrada alguns minutos que levam a atrasos. “Chego mais tarde ao trabalho e às vezes o patrão não percebe”, conta enquanto o tempo passa e espera pelo próximo comboio.
O problema não se repete em todos os comboios, mas não é assim tão raro. Mais tarde repete-se. Os utentes ajeitam-se como podem no interior das carruagens, por vezes não chega.
De mochila às costas, um utente desabafa: “Quase todos os dias há confusão, sempre muita gente, chego para apanhar o comboio das 8h09 e acabo por apanhar 20 ou 30 minutos depois”, suspira, em declarações à Renascença na estação do Pragal.
Há quem descreve estes momentos como “uma luta”, como Martina, que enfrenta o frio da madrugada com um gorro cinzento e prepara-se para (tentar) entrar no comboio das 7h29. “É impossível entrar, não há lugares e mesmo quando há é impossível chegar lá", descreve.
"É uma luta, a pior parte do dia", resume esta utente, que considera que as mudanças promovidas recentemente "pioraram" o serviço ferroviário que começa em Setúbal e vai até Roma-Areeiro (Lisboa).
Martina sugere que sejam retirados alguns bancos para dar mais espaço para pessoas que viajam de pé ou acrescentar mais carruagens, só que esta última opção não é viável.
"As carruagens que temos são aquelas que aqui estão, é o que temos, não há mais", explica um funcionário da Fertagus à Renascença.
Habituado a esta rotina, está na plataforma para ajudar na logística de tentar distribuir os passageiros pelos comboios que já chegam cheios à estação do Pragal.
"Não acontece em todos, eu explico às pessoas que têm de tentar apanhar o comboio anterior ou o seguinte, para evitar os mais pequenos", justifica.
A tentativa de dar mais oferta aos passageiros, mas sem capacidade para manter os comboios com tantas carruagens como antes, é um pau de dois bicos. Pode funcionar na maior parte do tempo, só que no momento em que as composições mais pequenas chegam ao Pragal o cenário é sufocante.