29 jan, 2025 - 07:11 • Jaime Dantas
O consumo de droga em plena luz do dia nas ruas da do Porto "já é um hábito", que, para os comerciantes do centro histórico, "será difícil de contornar" com a nova unidade móvel de consumo assistido.
A autarquia anunciou a entrada em funcionamento para esta semana, mas o veículo ainda não está nas ruas.
Adelaide abriu as portas do seu negócio de produtos relogiosos na rua Mouzinho da Silveira há 30 anos e é uma das vozes do descontentamento. O sua loja está bem perto do Fontanário Monumental, hoje habitado por pessoas toxicodependentes.
"Eles fazem de tudo. Dormem, comem, usam como casa de banho. É o ser humano no seu pior", lamenta.
A comerciante queixa-se do "cheiro horrível" vindo do momumento que "afasta os clientes". Quase diariamente, a Polícia Municipal é chamada a higienizar o local, mas "cinco minutos depois, volta tudo ao mesmo".
"É desagradável sentir o cheiro. Os turistas passam para o outro lado da rua", diz.
Enquanto atendia uma das poucas clientes que entrou na sua loja, desabafa que "o comércio está morto" e que não será a unidade móvel a resolver o problema.
"A carrinha [de consumo assistido de drogas] vai andar durante oito horas na cidade. E o resto das horas em que eles se drogam, o que vai acontecer?", questiona, com tom de indignação.
Patrícia, que também vende por ali as suas peças de artesanato, também se mostra descrente. Do seu ponto de vista, consumir drogas naquele local "já se tornou um hábito".
"Já existem outros sítios para o fazer [consumir drogas]. As pessoas é que preferem consumir ao ar livre", queixa-se.
Aquilo que mais a incomoda são mesmo os momentos em que estas pessoas fazem a sua higiene, à vista de todos. "Eles tomam banho no Fontanário, não importa a hora do dia. Muitas vezes ficam despidos, dá muito mau aspeto."
Muda-se o local, mas as queixas são as mesmas. Perto da Sé, o edifício do antigo mercado de São Sebastião é agora abrigo para dezenas de adictos.
O Alojamento Local de Mariana Soares tem vista previligiada para este cenário. Os constantes espisódios de violência levaram vários clientes a procurar outro sitio para a sua estada na invicta.
"Muitas vezes, estas pessoas entram em confito e causam muita insegurança a quem nos visita. Já tive hóspedes que não quiseram ficar aqui", conta.
A empresária "teme" que a unidade móvel atraia mais toxicodependentes para aquele local. Considera, no entanto, que já existe uma solução à vista: a demolição da infraestrutura e posterior transformação num espaço verde, a realizar este ano.
"Eu acredito que com a demolição do mercado as pessoas iriam procurar naturalmente outro sítio para estarem e o ambiente iria mudar", aponta.
Ainda não se sabe quando a unidade de apoio começará a percorrer as ruas do Porto, no entanto, a Câmara liderada por Rui Moreira já veio dizer que esta não é uma solução definitiva e pediu intervenção do governo nesta matéria.