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"Bullying" na escola. "A cada dia que passa, a situação agrava-se"

31 jan, 2025 - 12:00 • João Cunha

As crianças do 1.º ciclo e as raparigas são quem mais sofre de "bullying", segundo o Observatório Nacional do Bullying, que recebeu 666 denúncias em cinco anos.

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Deixou a filha na entrada da escola, no caso, a Pedro de Santarém, do agrupamento de escolas de Benfica, em Lisboa, bastante movimentada como em todos os dias de aulas.

Vera Vieira despede-se da filha. Revela que a menina, que entrou este ano letivo naquele estabelecimento de ensino, está a ser alvo de bullying. "Não é tão grave como os que já assisti, que envolvem violência física. Esta é mais verbal, psicológica", adianta, lamentando que não se dê a devida atenção a estes casos, sobretudo porque "os funcionários não chegam para tudo".

Há casos mais graves, de violência física. Que o diga Pedro Alves, que olha atento para a porta da escola, onde está o filho, que já foi alvo de bullying noutra escola. Os pais falaram com a Renascença no dia em que foram conhecidos os números do Observatório Nacional do Bullying.

Em cinco anos, foram recebidas 666 denúncias: as crianças do 1.º ciclo e as raparigas são quem mais sofre de bullying.

"Devia-se trabalhar nas escolas sobre essas situações, que são recorrentes. O meu filho já passou por isso e teve de mudar de escola. E não há apoio para isso. São os próprios pais a terem de estar atentos", diz, admitindo que é impossível para um funcionário da escola estar atento a tudo o que se passa nos intervalos, altura em que a maioria das situações ocorrem.

Rosária Alves, diretora do agrupamento, reconhece que este tipo de notícias sobre bullying provocam alarme entre os pais, mas, nas escolas que gere diz não ter os funcionários que precisa de ter, embora "tenha esperança" de vir a colmatar essas falhas. E, numa escola como a Pedro Santarém, "muito grande e com muitos cantinhos" fazem falta, já que se torna difícil de gerir todos os espaços do estabelecimento com os funcionários que tem.

Da sua parte, diz que "a escola tudo faz para que as ditas ações de bullying não aconteçam" e lembra que a Pedro Santarém recebeu este ano, tal como no ano anterior, o selo “Escola Sem Bullying | Escola Sem Violência”.

Do lado de fora da escola, Flavia Bernardes, que faz a segunda despedida da filha, que já está do lado de lá do gradeamento, no interior da escola, concorda. "A cada dia que passa, a situação está cada vez mais complicada. Vejo que existe uma falta de funcionários na escola". E isso não ajuda a travar esses casos.

Ali ao lado, numa das malas laterais de uma "american chopper" acabada de estacionar, Nelson Carvalho arruma o capacete da filha, que depois de ajeitar o cabelo, se despede e passa, apressada, pelo portão.

"Há valores que se perderam nos dias de hoje, como a simpatia e a compaixão", recorda, referindo-se ao recente caso de uma criança agredida numa escola da Moita, em que todas as crianças presentes gravaram em vídeo o incidente, mas não ajudaram.

"Tentam aparecer, ter visualizações ou filmar conteúdos, para terem eles visibilidade. O instinto não é ajudar", lamenta, enquanto sobe para a moto para ir para o trabalho.

[Notícia atualizada às 19h38 com declarações da diretora do agrupamento]

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