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Homem dá morada para ajudar legalização de imigrantes mas "não sabia" que era crime

04 fev, 2025 - 13:44 • Lusa

Instado a identificar quem tinham sido os seus interlocutores na autarquia lisboeta, mencionou um homem e duas mulheres, de cujos nomes garantiu não se lembrar.

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O alegado líder de uma rede de auxílio à imigração ilegal em Lisboa confessou esta terça-feira, no julgamento, ter fornecido a sua morada para compatriotas do Bangladesh se legalizarem em Portugal, mas ressalvou que não sabia que tal constituía crime.

"Cada vez que fornecia a morada às pessoas, ia sempre à Junta [de Freguesia da Penha de França] perguntar se havia problema e sempre diziam que não. Não sabia que era considerado um crime. Se soubesse que era crime, não o teria cometido e lamento", disse no Tribunal Central Criminal de Lisboa, através de uma intérprete, Rippon Hossain, de 49 anos e cidadão português desde março de 2022.

Instado a identificar quem tinham sido os seus interlocutores na autarquia lisboeta, mencionou um homem e duas mulheres, de cujos nomes garantiu não se lembrar.

A existência de um esquema para que, com recurso a moradas fornecidas por outras pessoas a troco de dinheiro, a Junta de Freguesia da Penha de França atestasse erroneamente a residência de imigrantes foi denunciada em 2022 pela própria autarquia.

Em junho de 2024, o Ministério Público acusou 30 pessoas, das quais 26 começaram hoje a ser julgadas. Das restantes quatro, uma morreu entretanto e outras três vão ser julgadas em separado, devido a dificuldades em notificá-las.

Rippon Hossain, sujeito a prisão domiciliária, está acusado de ter sido o mentor do esquema, algo que negou em tribunal.

O luso-bangladeshi contou que, entre 2016 e 2021, explorou um restaurante em Lisboa, e que, depois de este fechar devido à pandemia de covid-19, regressou por seis meses ao país natal, tendo em seguida voltado a Portugal.

Terá sido nessa altura que, por sugestão de um dos arguidos por notificar, começou "a trabalhar na Junta, a entregar a sua morada" a "pessoas do Bangladesh", num total de cerca de 1300.

"Havia pessoas que não tinham morada, porque viviam em "hostels" e pensões", justificou, acrescentando que recebia entre cinco e dez euros de cada vez que fornecia o endereço.

"Se alguma recebesse cartão de residência, então recebia 50 euros ou um pouco mais", admitiu.

De acordo com a acusação, Rippon Hossain seria o líder de uma rede que contaria com cinco intermediários igualmente naturais do Paquistão e mais 23 pessoas, na maioria portugueses, residentes na Penha de França, cuja função seria fornecer a sua morada ou testemunhar a veracidade de outro endereço, a troco de quantias entre os 10 e os 60 euros.

O esquema contaria com a colaboração de um funcionário da Junta de Freguesia, que alertaria um dos intermediários sempre que uma das moradas usadas se tornava suspeita.

O funcionário terá sido o único a não lucrar com o negócio, enquanto os restantes terão obtido, entre janeiro de 2020 e julho de 2023, de 110 a 14.850 euros.

Dos 26 arguidos que hoje começaram a ser julgados, um faltou, 13 disseram querer falar e 12 optaram pelo silêncio.

O funcionário autárquico responde por abuso de poder, enquanto os restantes estão acusados de crimes de associação de auxílio à imigração ilegal, falsificação de documento e auxílio à imigração ilegal.

O julgamento tem sessões agendadas até maio.

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  • Deportação
    04 fev, 2025 País 15:13
    Comecem por lhe retirar cidadania. Depois Deportem-no.

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