06 fev, 2025 - 23:16 • Isabel Pacheco
Daniel tem 10 anos e conta que “Portugal foi o primeiro país europeu a proibir a pena de morte”. Já Ana, com a mesma idade, fala-nos da “Revolução dos Cravos” e que, antes do 25 de Abril, “havia uma ditadura”.
Os dois alunos da escola EB1 de Figueiredo, em Braga, aprenderam os factos da história através do jogo de tabuleiro a “Constituição” que chegou, esta terça-feira, à biblioteca do estabelecimento de ensino.
Foi também através do jogo que aprenderam que para “trabalho igual há um salário igual” e que “todos temos direito a uma habitação digna”, acrescentam os alunos do 4.º ano escolaridade.
Os direitos, os deveres, as liberdades e as garantias da democracia fazem parte do jogo criado, em 2023, pela Beira Serra, em parceria com a Triciclo Editora.
Durante a apresentação do jogo, Marco Gabriel, da associação de desenvolvimento responsável pelo projeto, explicou que a ideia foi criar “um recurso didático e pedagógico” para que os mais pequenos pudessem entender “quando falamos direito à educação, direito à saúde, à cultura, à justiça” e que “ fosse divertido”.
A primeira versão teve o “contributo de 190 crianças de 10 turmas dos concelhos Belmonte, Covilhã e Fundão”, contou o presidente da Beira Serra. “Achamos que o facto de ter sido dessa forma conseguimos tornar o jogo mais amigável das crianças”.
No fundo, o jogo reúne um conjunto de histórias com personagens do quotidiano. “As crianças vão encontrar o Tiago que utiliza cadeira de rodas, a Rita que trabalha numa fábrica e o senhor António que gosta de ler o jornal quando começa o dia, para trabalharmos as questões do direito do trabalho, igualdade de oportunidades e da liberdade de imprensa”, exemplificou.
“É um contributo para que consigamos defender a democracia, a liberdade e construir um país melhor”, resumiu.
Durante a sessão de apresentação do jogo, o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar Branco, destacou a pertinência da iniciativa, sobretudo, numa altura em que “crescem as ameaças à democracia e à liberdade” no mundo, mas, também, em Portugal. “Há movimentos populistas e extremistas”.
“Não há soluções mágicas”, lembrou o presidente da Assembleia da República. “É preciso investir desde muito cedo na participação à causa pública, combater o individualismo e o egocentrismo e mostrar que é preciso respeitar”. “É assim a democracia”.
“O que estamos aqui a trabalhar como estas crianças é investir num futuro melhor, na qualidade democrática”, resumiu.
Para a diretora da escola do agrupamento de Celeirós, Célia Simões, trata-se de uma aposta na literacia democrática das crianças, mas, também, de suas famílias.
A responsável reconheceu que, “de forma geral, há uma literacia democrática e de instituição um pouco débil” quer dos jovens como dos seus pais. A “estratégia” é chegar às crianças para chegar às suas famílias.
“É uma estratégia da escola e que muitas vezes resulta”, diz a docente à Renascença, dando o exemplo da reciclagem. “Aqui será uma estratégia no mesmo âmbito”, avançou.
Em Braga, o jogo de tabuleiro vai chegar, inicialmente, aos estabelecimentos de ensino do 1.º ciclo. Numa segunda fase, ao quinto e sexto ano de escolaridade do 2.º ciclo, mas o autarca bracarense, Ricardo Rio, admite alargar a iniciativa à população sénior.
Fomos desafiados a disponibilizá-lo para um centro de dia de acolhimento da terceira idade”, confidenciou Ricardo Rio. Portanto, “trata-se também de revitalizar valores muito importantes junto de um público diferente que conhece as duas realidades: o antes e o depois da liberdade e da democracia”, explicou.
“Embora o jogo tenha sido inicialmente concebido para um público mais jovem, porventura, podemos alargá-lo a outros segmentos da população”, admitiu.
Para já, “serão distribuídos 160 exemplares pelas escolas do primeiro ciclo do concelho”.
Desenvolvido pela Associação Beira Serra e pela Triciclo Editora, o jogo “Constituição”, destinado a crianças a partir dos oito anos, propõe a descoberta dos princípios fundamentais da Constituição da República Portuguesa.
Com consultadoria científica da escola superior de educação do Instituto Politécnico de Castelo Branco e acompanhamento da Assembleia da República, o projeto foi financiado através da fundação Calouste Gulbenkian e da Fundação Bissaya Barreto.