08 fev, 2025 - 01:32 • Marisa Gonçalves
As organizações representativas dos trabalhadores ferroviários emitiram um comunicado conjunto onde contestam a anunciada intenção do Governo de retirar comboios à CP para os entregar à Fertagus.
Em declarações à Renascença, o presidente do Sindicato dos Maquinistas, António Domingues, considera a ideia “absurda”. Diz que a CP tem falta de material circulante, e que, a concretizar-se, a medida irá beneficiar um operador privado em prejuízo de uma empresa pública.
“Não há material a mais na CP, pelo contrário, há défice de material circulante. A prova disso é que ainda ontem, por exemplo, houve comboios no Algarve que foram feitos por modo rodoviário. Foram substituídos por camionetas. É absurda essa ideia, ou tentativa de deslocalizar material para a Fertagus porque isto vai contra o Serviço Público. Esse é um benefício que não deve ser atribuído à Fertagus porque é uma empresa que já é suficientemente beneficiada, na medida em que a concessão tem sido sucessivamente prolongada”, declara.
As organizações representativas dos trabalhadores ferroviários apresentam várias propostas, entre elas, o retomar temporário aos horários anteriores na Fertagus, ou a atribuição à CP da operação nesta linha ferroviária de Setúbal.
“Em primeiro lugar, seria o retrocesso aos horários antigos, porque o que gerou esta situação de incapacidade da Fertagus em cumprir com o contrato de Serviço Público foi a alteração dos horários. Depois, se a situação se mantiver e se a Fertagus continuar a ter incapacidade de cumprir com o contrato de concessão, deve ser estudada possibilidade de o serviço ser atribuído à CP”, defende.
No comunicado emitido pode ler-se: “A Fertagus deve implementar uma solução complementar de contingência, através de transportes alternativos rodoviários, a exemplo do que a CP faz sempre que necessário; Retirar, extraordinariamente, à Fertagus a exclusividade do transporte ferroviário urbano/suburbano na linha Lisboa-Setúbal; Permitir à CP que reorganize a sua oferta para, alterando os horários contratualizados com o Estado, realizar comboios em hora de ponta que sirvam a linha Lisboa-Setúbal”.
No documento que já foi encaminhado à tutela, as organizações representativas dos trabalhadores ferroviários sugerem ainda: “alguns comboios Sintra-Campolide-Rossio passarem a Sintra-Campolide-Coina; alguns comboios Castanheira do Ribatejo - Alcântara passarem a Castanheira do Ribatejo – Fogueteiro; comboios semidirectos a Setúbal ou mesmo até Grândola, via Alcácer do Sal”, sugestões que “merecem estudo e têm potencial de serem implementadas no curto prazo”, acrescenta o comunicado conjunto.
O sindicalista António Domingues não exclui a possibilidade de agendar greves, caso o Governo decida recorrer à CP para reforçar a Fertagus.
“É uma situação que terá de ser analisada em conjunto, mas não está fora de hipótese”, remata à Renascença.