11 fev, 2025 - 07:26 • Anabela Góis , Olímpia Mairos
Mais de metade dos doentes têm de esperar pelo menos um mês por uma consulta com o médico de família e três em cada 10 esperam mais do dobro do tempo.
A conclusão é de um inquérito da Deco Proteste, a propósito do Dia Mundial do Doente que se assinala esta terça-feira.
À Renascença, Nuno Pais Figueiredo, confirma um agravamento em relação ao último inquérito, feito há 5 anos.
“Mais de metade das consultas não urgentes demoram pelo menos um mês, e são raros os casos em que isto acontece, o que significa que estamos a falar em 52%”, diz.
Segundo Nuno Pais Figueiredo, há 5 anos, “31% das consultas excediam um mês, portanto, era tudo dentro de um mês”.
“Agora raras são aquelas que demoram um mês até acontecerem. Portanto, neste particular, a situação tem vindo a agravar-se e é por isso que quem pode opta pelo privado”, sublinha.
De acordo com este estudo, a dificuldade em marcar consultas reflete-se, também, na procura pelas urgências: entre junho e julho de 2024, 64% dos inquiridos optaram por dirigir-se diretamente aos hospitais públicos. Resultado – diz o porta-voz da Deco Proteste – da falta de resposta dos centros de saúde.
“Em primeiro lugar, as pessoas têm algum receio de ir à urgência do centro de saúde ou porque o centro de saúde não tem serviço de urgências ou porque está fechado e aí obriga logo as pessoas a recorrerem ao hospital, porque também é o serviço de saúde que têm mais próximo de casa”, explica.
Nestas declarações à Renascença, o porta-voz da Deco Proteste sublinha, ainda, que a avaliação acaba por “penalizar o serviço que o centro de saúde presta porque na maior parte dos casos as pessoas recorrem aos hospitais” fazendo com que as urgências hospitalares fiquem mais lotadas”.
Outro dado preocupante revelado por este inquérito da organização de defesa dos consumidores é que 16% dos portugueses não têm médico de família. Um número em linha com os dados oficiais, mas que – segundo Nuno Pais Figueiredo - mostra que a situação se agravou nos últimos anos.
“Houve uma variação, posso dizer-lhe, por exemplo, que no último estudo que fizemos, a falta de médicos de família rondava os 15,7%. Portanto, no espaço de 5 anos de 15,7, passar para 16 não é significativo, mas não deixa de registar um aumento porque a tendência dos tempos seria que os serviços fossem melhorando e não fossem piorando”, observa.
Ainda de acordo com este estudo apesar do aumento dos tempos de espera, a satisfação com o médico de família aumentou.
“O aumento do tempo de espera em consultas e exames está a assumir umas proporções muito maiores e bem mais preocupantes para os utentes do que aquilo que tem acontecido no passado, embora, em contraponto, a grande maioria das pessoas que foram questionadas mostram um nível de satisfação muito alto com os cuidados médicos que têm por parte do médico de família e, em grande parte, pelo atendimento que tem”, conclui.