14 fev, 2025 - 06:00 • Henrique Cunha , Salomé Esteves
A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) apoiou mais de mil vítimas de violência no namoro, em 2024. A média é de 85 casos por mês.
No seu primeiro estudo estatístico sobre violência no namoro, a que a Renascença teve acesso, a APAV revela que, no ano passado, apoiou 332 vítimas de violência durante o namoro e 691 após a rutura da relação.
A dirigente da APAV Patrícia Ferreira alerta para o facto de este tipo de violência não terminar “com o fim da relação”.
“Isto quer dizer que as pessoas, maioritariamente, procuraram-nos já numa fase de términus da relação, por sentirem efetivamente que esta violência não termina com o fim do relacionamento”, assinala.
Patrícia Ferreira refere que as vítimas “continuam a ser, muitas vezes, perseguidas e alvo de comportamentos abusivos por parte da pessoa agressora, que não aceita o fim da relação e acaba por continuar a exercer aqui uma violência”.
“O grande destaque deste nosso primeiro estudo vai para este facto de a violência não terminar mesmo quando se termina a relação.”
Noutro dado relevante deste estudo inédito da APAV sobre violência no namoro, verifica-se que a grande maioria das vítimas tem idades entre os 18 e os 34 anos. Mas há diferenças: quando a denúncia é feita durante a relação, a maioria dos denunciantes (82) tem entre 18 e 24 anos, ao passo que, quando a vítima apresenta uma denúncia após o fim da relação, a maioria (187) transfere-se para a faixa etária seguinte, dos 25 aos 34 anos.
Mas há uma tendência que permanece em ambos os cenários: nos dois tipos de denúncia, a grande maioria das vítimas (cerca de 87%) são mulheres.
As restantes denúncias partem de homens (11,7% em relação e 11,6% após o fim da relação) e de pessoas intersexo (0,3% em relação e 10,1% após o fim da relação).
Confirmando uma tendência antiga, a vasta maioria dos agressores são homens. A percentagem é de 89,2% em denúncias feitas durante a relação e de 88,6% após o fim do relacionamento.
Em ambos os cenários, quase metade das situações registaram-se em Lisboa e no Porto, uma vez estas são também zonas com mais população. Em Faro e Braga verificaram-se, todavia, números semelhantes.
No Porto, foram feitas 45 denúncias de violência durante a relação, em 2024, enquanto em Faro a APAV recebeu 45 denúncias, e em Braga 35.
O trabalho da APAV revela, por outro lado, que apenas cerca de 50% das pessoas apoiadas já tinham denunciado ou apresentado queixa. Neste contexto, Patrícia Ferreira considera “muito importante denunciar a violência no namoro porque é um crime que se enquadra na violência doméstica”.
“Qualquer pessoa que tenha conhecimento da situação pode e deve denunciar."
“Só denunciando é que se pode receber este apoio especializado e ter esta ajuda para poder sair de uma relação abusiva”, insiste Patrícia Ferreira nas declarações à Renascença.
Por outro lado, a APAV apela à prevenção do fenómeno e tolerância zero a "estes comportamentos abusivos". Patrícia Ferreira adianta que “a sensibilização junto da comunidade e o não tolerar qualquer comportamento abusivo e violento é um dos grandes objetivos e a grande missão do nosso trabalho”.
“Poder sensibilizar as pessoas para estes comportamentos abusivos que depois acabam por ter um impacto muito significativo na própria pessoa e também muitas vezes nos familiares e amigos próximos é crucial”, conclui.