17 fev, 2025 - 06:15 • Isabel Pacheco
É perto da hora de almoço. É uma das alturas mais movimentadas para os estafetas de entrega de comida em Braga. À porta de um dos centros comerciais da cidade, perto da área da restauração, amontoam-se as motas e as lambretas dos estafetas.
São sobretudo imigrantes. Entre eles está Amit. O indiano ainda se queixa de dores no braço após um recente acidente de mota durante uma entrega. Quem nos conta a história em inglês é Gorbir, também, estafeta que fala das dificuldades da profissão.
“Não é um bom trabalho. É difícil”, começa por contar o indiano há mais de um ano em Braga. “No outro dia recebi cinco, seis euros por um dia inteiro de trabalho. Atualmente, há muitas pessoas a fazerem entregas. Há meio ano seriam quarenta pessoas aqui. Agora, talvez, umas setenta ou oitenta”, aponta Gorbir.
Entre argelinos, indianos e paquistaneses, Fabiane Marques é a única a falar português. A brasileira explica que recorreu ao trabalho de estafeta enquanto não encontra um novo emprego.
“Ou você concilia com trabalho ou só estafeta não dá”, conta a jovem cujo rendimento “em média não chega aos 700 euros mensais”. “Nunca tirei mais do que 35 euros por dia”. Ainda assim, acrescenta, “ tenho de pegar das 8 da manhã até às 11h ou meia-noite”.
“Não é fácil, pagam pouco e se roda muito”, rematou a brasileira antes de avançar para mais uma entrega. “Agora eu peguei uma [entrega] de 5 EUR, mas vou ter de andar mais de 10 km. E sobre o que recebo tem 10% a menos”, explica.
E se ficar doente? perguntamos. “Estou lascada!”, resume.
Com uma jornada de trabalho semelhante vivem os motoristas da TVDE.
Encontramos Fagundes numas bombas de gasolina do outro lado da cidade de Braga. Aguarda que lavem o carro, seu instrumento de trabalho. Há três anos, trocou o camião e as viagens internacionais para ser motorista da Uber e deixou de saber o que são dias de descanso.
“O meu dia de folga? É o dia que o carro quebra. Pronto, aí, eu estou de folga porque não estou a carregar passageiros. Fora disso, são 7 dias por semana, todos os dias, pelo menos 12 a 14 horas de trabalho, senão não dá para a sopa”.
A mesma rotina é repetida por Augusto que explica que tem de esticar as horas de trabalho ao máximo para ter algum sustento.
“Vou ser sincero, se você conseguir tirar 800 euros, se já tem que estar feliz”. Mas, para isso, acrescenta o brasileiro, tem de trabalhar “todos os dias”. De domingo a domingo, 10horas”.
Em causa, explica-nos, está o aumento dos gastos inerentes à profissão: desde o preço gasóleo, à manutenção da viatura, por vezes alugada, passando pelo seguro que, para os profissionais desta área, ronda os 2400 euros anuais.
Sobre o que seria urgente mudar nas condições de trabalho, Augusto não hesita: “Primeiro, teríamos de ter um salário mínimo fixo. Depois é a baixar esse seguro”.
“Praticamente você está trocando dinheiro ou, às vezes, perdendo. Praticamente, você está pagando para trabalhar”, lamenta o motorista.
Às despesas, juntam-se as contas nem sempre bem feitas pelas plataformas , queixa-se José Pedro, motorista da TVDE há seis anos:
“A lei é muito clara: diz que é 25% de cada viagem para os motoristas. Mas, eles [plataformas], neste momento, estão a fazer o pagamento de 25% semanal”, explica José que dá o exemplo de uma viagem de 21 euros que se traduz “no pagamento de 10 euros quando seria 15,50” , porque o cálculo é feito “sobre as viagens semanalmente”.
“Estão a roubar nos e ao Estado. Roubam toda a gente”, atira o bracarense que pede mais e melhor legislação.
“Tem de haver mais regras por parte do IMT e do Estado”. “ A atual lei foi feita para favorecer os táxis. Tem de haver uma legislação que nos proteja, a nós, motoristas”, pede.