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Governo vai incluir perspetiva dos utentes na avaliação do SNS

20 fev, 2025 - 22:38 • Anabela Góis

Entrevistada pela Renascença, a secretária de Estado da Saúde reage ao estudo que envolveu 12 mil utentes em Portugal, com mais de 45 anos. Os resultados mostram que temos a pior saúde mental de todos os 19 países participantes.

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Governo vai incluir perspetiva dos utentes na avaliação do SNS
Secretária de Estado da Saúde, Ana Povo, diz que o Governo vai incluir perspetiva dos utentes na avaliação do SNS

O Governo promete mudar a forma como avalia o Serviço Nacional de Saúde (SNS), para incluir a perspetiva dos utentes, anuncia na Renascença a secretária de Estado da Saúde, Ana Povo.

A decisão decorre dos resultados do inquérito feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que foi apresentado esta quinta-feira.

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Entrevistada pela Renascença, Ana Povo reage ao estudo que envolveu 12 mil utentes em Portugal, com mais de 45 anos, e os resultados mostram que temos a pior saúde mental de todos os 19 países participantes.

Outras conclusões apontam para a falta de coordenação entre os vários níveis de saúde (cuidados primários, hospitalares, cuidados continuados).

Os portugueses mais pobres são os menos confiantes no sistema de saúde e quem tem doenças crónicas relata qualidade de vida muito abaixo da média da OCDE. E, quanto mais doenças crónicas, pior.

Conhecidos os resultados destes inquérito da OCDE sobre a forma como os portugueses avaliam a sua saúde e os cuidados médicos, que medidas é que o Governo vai implementar?

Uma das coisas importantes que o Ministério da Saúde vai trazer para Portugal na continuação deste estudo é incluir, na avaliação do sistema de saúde, os indicadores dos doentes, ou seja, os PREMs [experiências relatadas pelos pacientes] e os PROMs [resultados relatados pelos pacientes] relativamente às expectativas e aos resultados na perspetiva do doente. Isto implica toda uma mudança de paradigma na avaliação do sistema e do serviço de saúde. E mesmo a avaliação dos resultados das políticas em saúde que vão sendo implementadas.

Até aos dias de hoje, os indicadores que são utilizados são indicadores numéricos relativamente a acesso, ou seja, falamos de números de consulta, de cirurgia, tempos de espera para cirurgias, tempos de espera em urgências, mas fica sempre de fora a avaliação do ponto de vista do utente. Este relatório traz para os sistemas de saúde a visão do utente relativamente ao seu tratamento, a sua relação com os profissionais de saúde e, claramente, isto é algo que queremos manter.

Como é que vai ser feita essa avaliação?

Para já, ainda estamos num inquérito do PaRIS - Inquéritos de Indicadores Relatados pelos Doentes. Isto envolveu 12 mil questionários aos nossos utentes e o PaRIS ainda não acabou e, portanto, nós iremos manter a nossa participação. Depois, no futuro, a Direção-Geral da Saúde quer manter este processo de avaliação através dos questionários.

Uma das conclusões deste estudo é que as pessoas mais pobres têm menos confiança no sistema de saúde em Portugal e isto também se prende com as dificuldades de acesso. Como é que este indicador pode ser melhorado?

Tem que ser criada uma confiança no profissional de saúde. Muitas vezes esta confiança prende-se com más experiências a nível dos cuidados de saúde. Em Portugal os cuidados de saúde são gratuitos, portanto, mais do que o acesso, nós temos de garantir a continuação do cuidado, o que acontece fora dos cuidados de saúde primários e fora ambiente hospitalar e isso tem muito a ver com acesso à medicação.

Como é que isso se faz na prática?

Na prática, uma das medidas importantes que este Governo já fez relativamente a isso e que entra neste relatório, relativamente ao número de pessoas que vive com uma ou mais doenças crónicas, foi a gratuidade dos medicamentos para os idosos que têm direito ao complemento solidário de idoso. Posso garantir que temos monitorizado atentamente essa medida e há, claramente, um melhor acesso a terapêutica, ou seja, conseguimos garantir que as pessoas não tenham que decidir que hoje toma a medicação o marido e no mês a seguir, toma a medicação a esposa.

Portanto, a situação de pobreza não tem a ver com o não acesso a cuidados de saúde, porque o Serviço Nacional de Saúde é universal e é gratuito, tem a ver com os cuidados que vêm a seguir, ou seja, com o acesso à medicação, que é claramente uma medida que nós trabalhamos.

Outro dado que sai deste estudo é que há alguma descoordenação entre os vários níveis de cuidados de saúde. Como é que isto se pode melhorar?

Temos de fazer novo questionário depois de termos o país transformado em 39 Unidades Locais de Saúde para avaliarmos então se a integração dos cuidados de saúde primários dentro dos cuidados de saúde hospitalares contribuiu para uma melhor coordenação.

Permita-me salientar um aspeto positivo deste relatório que demonstra claramente uma aposta a nível dos cuidados de saúde primários. Em Portugal, os utentes com duas ou mais doenças crónicas sentem-se seguros acompanhados pelo seu médico de família, ou seja, ao nível dos cuidados primários, sem a necessidade de recorrer a cuidados hospitalares.

Outra conclusão é o nível de saúde mental, que está abaixo da média da OCDE. O que é que tenciona fazer com estes dados? Mais estudos para perceber porque é que os portugueses sentem que têm uma má saúde mental?

Nós não temos uma má saúde mental. 67% dos inquiridos dizem quem têm boa saúde mental, portanto, estamos acima dos 50%. Estamos é abaixo da média da OCDE. Como bem sabe está um curso uma reforma da saúde mental em Portugal. O que nós temos de ver é se depois destas medidas implementadas, há ou não melhorias. É uma questão que é prioritária para este Governo e por isso é que teve uma medida no plano de emergência, onde já previmos a alocação de psicólogos para os cuidados de saúde primários, ou seja, para que possa haver uma abordagem logo de proximidade para esta população.

E quando é que passa a prática? Porque já foi anunciada há bastante tempo.

Os psicólogos já estão a ser contratados, portanto, já existe aumento do número de profissionais de psicologia a nível dos cuidados de saúde primários nas diferentes ULS do país. Não se esqueça que este inquérito não foi feito este ano, portanto, nós ainda não temos o impacto dessa medida por nós implementada.

Comentários
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  • ADISAN
    21 fev, 2025 Mealhada 20:43
    tinha origem no meu Centro de Saúde, melhor dizendo, da Extensão de Pampilhosa, do Centro de Saúde de Mealhada. Como a chamada caiu antes de poder ter conhecimento do que se tratava, tentei recuperar a chamada, ligando de volta. Grande surpresa a minha, quando fui atendido pelo gravador do SNS, precisamente com a locução com que iniciei o comentário. Escusado será dizer que fiquei a saber o mesmo,"MARQUE UM, MARQUE DOIS OU MARQUE TRÊS... SEJA BEM VINDO A UM SERVIÇO PORTUGUÊS!" Assim somos recebidos quando tentamos contactar qualquer telefone ligado ao SNS. Ontem, dia 20/02/2025, recebi uma chamada telefónica que, como mais tarde apurei, apesar do meu esforço. E isto aconteceu a um genuíno português de 86 anos de idade. Imaginemos o que acontece aos pobres imigrantes que precisem de recorrer ao SNS!!! Também fui imigrante noutro país europeu (Alemanha) e, devo dizer, nunca lá tive problemas semelhantes, mesmo quando ainda não dominava o alemão.
  • Jose Gerldes
    21 fev, 2025 Leiria 19:03
    Infelizmente o SNS não investe um Centimo em Prevenção, só quando o problema já não tem solução, é que atua !!! Não é aceitável alguém urinar sangue por mais de 3 meses , e marque uma consulta da epecialidade para 90 dias DEPOIS ?? Em Resumo; o SNS não presta os minimos CUIDADOS EXIGIVEIS a um cidadão, tal situação é ILEGAL, e deve ser puninivel por lei, ou Não ?? Ou o SNS não tem OBRIGAÇÕES ???
  • ADISAN
    21 fev, 2025 Mealhada 16:59
    "MARQUE UM, MARQUE DOIS OU MARQUE TRÊS... SEJA BEM VINDO A UM SERVIÇO PORTUGUÊS!" Assim somos recebidos quando tentamos contactar qualquer telefone ligado ao SNS. Ontem, dia 20/02/2025, recebi uma chamada telefónica que, como mais tarde apurei, tinha origem no meu Centro de Saúde, melhor dizendo, da Extensão de Pampilhosa, do Centro de Saúde de Mealhada. Como a chamada caiu antes de poder ter conhecimento do que se tratava, tentei recuperar a chamada, ligando de volta. Grande surpresa a minha, quando fui atendido pelo gravador do SNS, precisamente com a locução com que iniciei o comentário. Escusado será dizer que fiquei a saber o mesmo, apesar do meu esforço. E isto aconteceu a um genuíno português de 86 anos de idade. Imaginemos o que acontece aos pobres imigrantes que precisem de recorrer ao SNS!!! Também fui imigrante noutro país europeu (Alemanha) e, devo dizer, nunca lá tive problemas semelhantes, mesmo quando ainda não dominava o alemão.
  • Anastácio Lopes
    21 fev, 2025 Lisboa 08:56
    Deixo aqui a minha perspetiva enquanto doente crónico, de alto risco com 88% de incapacidade que estou há três meses a aguardar que o Centro de Saúde e a sua diretora da treta me marquem a consulta para a médica de família que me impuseram e que ainda não conheço, uma vez que desde 03/12/2024, até hoje, 21/2/2025, nunca me permitiram ser observado por tal médica de família que é mais o tempo que está ausento do serviço do que presente, nada respeitando os utentes, os direitos dos mesmos e o acesso aos cuidados de saúde primários em todo este tempo. Face a esta vergonha do SNS e dos que assim o fingem dirigir, que tendo conhecimento por meu intermédio, optaram pela cumplicidade nada assumindo para que obrigassem a fingida diretora do Centro de Saúde mencionado a respeitar-me marcando e realizando a consulta pedida há um quarto de ano. Jamais o SNS deixará de ter e de ser o que é enquanto for politizado como sempre o foi, nomeando para o dirigirem alguém que nunca nada soube dirigir, como o exemplo que aqui deixo o prova, passando a nomear dirigentes pela competência, o que nunca fizeram, em vez da nomeação por confiança política que em nada abona em prol da qualidade do SNS e da saúde dos portugueses e dos direitos de acesso à saúde pelo povo assim comprometido como é o caso da minha pessoa, sem saber até quando.

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