21 fev, 2025 - 06:30 • Filipa Ribeiro
A Associação Têxtil e Vestuário de Portugal alerta para a "forte retração" no setor que está a ocorrer não só em Portugal, como também na Europa.
À Renascença, o presidente da associação, Mário Jorge Machado, dá nota de que "recebe diariamente empresas com dificuldades em cumprir com compromissos de pagar aos fornecedores e trabalhadores" e de que "há cada vez mais associados a falarem das dificuldades".
O representante da indústria têxtil avisa que "se não houver da parte do Governo ajudas como nos anos de pandemia, o cenário [de fecho de mais fábricas] tem uma probabilidade muito elevada de ocorrer".
Depois de no final do ano passado ter sido noticiado o fecho de várias fábricas, esta semana fechou mais uma empresa do setor na cidade de Marco de Canaveses - a Temasa, que empregava cerca de 70 pessoas. Mário Jorge Machado indica que as dificuldades são resultado da guerra na Ucrânia, que está a levar a uma diminuição da procura e também do "esforço muito grande" nos anos de pandemia, do qual as empresas ainda estão a sair - em que no setor "houve quem se endividasse para fazer face às responsabilidades".
O aumento dos preços de energia também não facilitou o trabalho no setor, assim como a entrada no mercado de empresas como a Temu e a Shein. "Eu tenho colegas que dizem que esta situação é pior do que o Covid", diz.
"Se não houver da parte do Governo ajudas como nos anos de pandemia, o cenário [de fecho de mais fábricas] tem uma probabilidade muito elevada de cocorrer"
A entrada no mercado de plataformas de eCommerce como a Temu e a Shein estão a criar uma "concorrência desleal" em território europeu, de acordo com Mário Jorge Machado.
O também presidente da Confederação da Indústria Têxtil e Vestuário Europeia sublinha que estas plataformas "colocam os produtos na Europa abaixo dos 150 euros sem pagar direitos aduaneiros e se estiverem abaixo dos 20 euros nem sequer pagam IVA".
Mário Jorge Machado sublinha que essas plataformas que chegam sobretudo da China "não têm os mesmos custos de quem produz na Europa e por isso há vantagens competitivas a quem não produz na Europa.
O representante do setor do têxtil realça que existem, contudo, várias dúvidas sobre as políticas ambientais e sociais dessas empresas. "Há suspeitas de que não existe nenhum tipo de controlo na entrada desses produtos dentro da da União Europeia", diz.
A redução começou um dia depois de Trump ter anunc(...)
Mário Jorge Machado menciona a probabilidade de não serem cumpridos critérios ambientais na produção e de existir exploração laboral nas empresas que produzem para estas plataformas.
Quanto ao desempenho do setor na Europa, o presidente da associação têxtil sublinha que "há uma oportunidade muito grande", uma vez que dá emprego a 125 mil pessoas e exporta perto de 6 mil milhões de euros no país, sendo que na União Europa o setor emprega 1 milhão e 200 mil pessoas. Mário Jorge Machado defende por isso que em Portugal se deve avançar com a "flexibilidade em situações de lay off e empréstimos de tesouraria às empresas".
De acordo com a Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, os Estados Unidos da América (EUA) estão na lista de 10 países para onde o paí exporta, tendo sido o único com crescimento no número de exportações no ano passado.
Portugal exporta cerca de 500 milhões de euros por ano no setor têxtil para os EUA, mas a ameaça de Donald Trump em estabelecer a lei da "reciprocidade" nas taxas pode ser benéfico para o país de acordo com Mário Jorge Machado. "Não podemos ter um produto chinês a entrar na Europa com uma taxa de 10% e um produto europeu a chegar à China a pagar 35%". defende.
O representante do setor têxtil em Portugal e na Europa assume que estar do lado do Presidente dos Estados Unidos na igualidade entre taxas.
"Nós vamos ser beneficiados, porque os produtos têxteis e vestuário americano que chegam à Europa pagam taxas na ordem dos 15% e os europeus pagam taxas na ordem dos 25% a 35% para entrar nos Estados Unidos e por isso não coloca em causa o setor têxtil e até poderá beneficiar" sublinha.