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Reportagem

Ponte de Lima tem 900 anos. “Mais vale ser uma vila em condições do que uma cidade ruim”

04 mar, 2025 - 08:00 • Isabel Pacheco

Ponte de Lima assinala, na terça-feira, 900 anos desde que se tornou vila. A data é evocada por toda terra que faz questão de prescindir de título de cidade.

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A história da elevação de Ponte de Lima a vila que, antecede a própria nacionalidade, é contada, desde cedo, aos mais pequenos.

Laura, de 9 anos, é aluna da escola Básica de Rebordões do Souto e sabe de cor quem foi e qual de D. Teresa nesta história.

“A Rainha Dona Teresa era a mãe de Dom Afonso Henriques”, resumiu a menina a frequentar o quarto ano de escolaridade. “Foi quem deu a carta, o foral com os direitos, deveres e privilégios à vila”, contou sob o olhar atento da professora Rosa Leão durante o desfile de Carnaval que percorreu na sexta-feira o centro da vila limiana.

Entre os alunos há cavaleiros, soldados e damas de honor. Vieram todos vestidos “ao rigor da época” para evocar “os 900 anos da história da vila”, esclareceu a docente explicando que o tema foi o “escolhido para explorar durante o ano letivo na disciplina de estudo meio”.

Mas, se a história da vila faz parte do currículo do primeiro ciclo, está também “na ponta da língua” dos limianos que insistem que se trata da “mais bonita de todas”. José Castro é um dos primeiros defendê-la. “É maravilhosa, adequada e histórica”.

Mais à frente, no Largo de Camões, onde ainda se lê os jornais ao sabor da conversa, João Luís e Adélio explicam o orgulho do título da vila que teima em não ser cidade.

“Mais vale ser uma vila em condições do que uma cidade ruim”, avançou João para logo o amigo Adélio acrescentar “É a [vila] mais bonita de Portugal. Se passarmos a cidade deixamos de o ser, porque há muitas cidades”.

Mas, António tem outra explicação: “Estamos numa zona conservadora”. “Na altura foi o Partido Comunista que fez a proposta [de elevação a cidade]. Por isso, houve uma reação emocional em relação a tudo isso. E esse sentimento cresceu. Ficou incorporado na génese dos limianos”.

António Matos tem uma ourivesaria no centro da vila. É negócio de família há mais de cem anos. Na terra é conhecida por ser uma das mais seguras do país, ou não fossem “as seis ou sete tentativas falhadas de assalto”.

“Foram várias tentativas e de várias formas: com carros atirados contra a montra, por cima, pelos lados, por todo o lado e nunca conseguiram felizmente”, contou o proprietário da ourivesaria por onde passa parte do ouro da terra, mas, também, muitas histórias de vida.

“Uma altura uma senhora de idade veio vender uns pequenos brincos. Depois percebemos que o fez porque tinha recebido uma conta de água enorme, talvez, fruto de uma fuga. A partir daí, às vezes até ajudamos adiantando-lhe dinheiro porque a data da reforma dela infelizmente não coincide com a data das contas”, contou António.

E é graças à proximidade de uma vila onde toda a gente se conhece que vive o projeto de Manuel Pinto. Trata-se de uma livrearia: um espaço com livros em segunda mão que está sempre de portas abertas, sem caixa registadora ou funcionários.

“Aqui as pessoas entram e decidem se querem ficar a ler ou se querem comprar algum livro. Os livros têm todos o mesmo valor de cinco euros”, explicou o também farmacêutico. “Se quiserem comprar vão pagar a uma loja vizinha ou ali à farmácia onde normalmente estou”.

“Conheço muito bem os vizinhos. Para além da farmácia, há uma padaria, uma loja de roupa e outra de refeições e uma mercearia,” elencou Manuel sublinhando que é “graças a esta proximidade” que surgiu a ideia do projeto que, pelo que sabe, é “único”.

“Não conheço nenhum igual no país e, pela minha pesquisa, no mundo também não”, apontou o jovem limiano convencido que o sucesso do conceito se deve à vila.

Comentários
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  • Maria
    04 mar, 2025 Palmela 11:54
    Que mau dia de carnaval! O diabo das alteracoes climaticas nao foram capazes de mandar parar a chuva" esta sempre mau tempo nos carnavais?
  • Manuel R. Mesquita
    04 mar, 2025 Canelas; V.N.de Gaia 10:03
    Já há uns anos que não vou a Ponte de Lima. Gosto das paisagens, dos ares, das pessoas da gastronomia do Minho. Tenho projeto de em breve voltar lá. As pessoas daquelas localidades são fraternas e amigas à primeira vista. Não poderei esquecer um alferes miliciano desses lados. Amigo A. Giesteira.

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