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Portuenses mais deprimidos e solitários com mudança forçada de casa

18 mar, 2025 - 08:10 • Hugo Monteiro

Um estudo sobre gentrificação identifica maior percentagem de casos de depressão e de solidão entre portuenses forçadas a mudar de casa pelas alterações em curso na cidade, face à procura turística e à atração de classes sociais elevadas.

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Um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) conclui que a gentrificação e a insegurança habitacional estão a trazer consequências para a saúde dos habitantes da cidade.

De acordo com os investigadores, a transformação da malha urbana e a respetiva crise habitacional está associada ao aumento de casos de solidão, de depressão e até mesmo à deterioração da saúde física dos portuenses forçados a mudar de casa.

À Renascença, a coordenadora deste estudo sobre gentrificação, Ana Isabel Ribeiro, diz, por isso, que “a questão da da habitação é uma questão de saúde pública e, portanto, deve ser tratada como tal”.

A investigadora do ISPUP explica que a cidade do Porto está a sofrer alterações, face à procura turística e à procura de habitação por parte de novos habitantes de estratos sociais elevados, retirando do centro a população local.

Uma situação que tem “um impacto grande na saúde, com a reconfiguração do espaço onde estas pessoas passam a residir, normalmente em zonas mais periféricas, com pior acesso a equipamentos comunitários, com a destruição dos laços sociais e familiares e, acima de tudo, com algum sentimento de ressentimento e de impotência perante o que está a acontecer”.

Ana Isabel Ribeiro esclarece que “a população que que vive em habitações de pior qualidade e que tem uma maior instabilidade residencial”, ou seja, que muda mais de casa, “principalmente os mais idosos, regista níveis significativamente superiores em indicadores de solidão”. Tem, também “menor nível de qualidade de vida” e, neste estudo “teve, também, no geral, uma perceção menos favorável do seu envelhecimento”.

Impacto nas crianças

Mas não são apenas os mais idosos a sofrer as consequências da gentrificação. De acordo com esta investigadora, foram identificados “impactos na saúde cognitiva dos mais novos”.

"As crianças que mudaram mais de casa apresentaram menores níveis do quociente de inteligência, particularmente na componente verbal, nas questões do domínio do vocabulário e também ao nível da velocidade de processamento e agilidade mental”, sublinha.

Além disso, “as crianças que mudavam mais de casa estavam mais frequentemente envolvidas em violência na escola, o chamado bullying, quer como vítimas quer como agressores”.

Perante estes resultados, Ana Isabel Ribeiro apela a "políticas eficazes que permitam conciliar a regeneração urbana com a justiça social”, tanto mais que “as consequências negativas na saúde afetam mais as populações de baixos rendimentos, determinados estratos demográficos, como, por exemplo, a população mais idosa, e, eventualmente, a população migrante” que ficou de fora deste estudo.

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