24 mar, 2025 - 07:00 • Anabela Góis
Os casos de tuberculose aumentaram em 2023, indica o Relatório de Vigilância e Monitorização da Tuberculose, da Direção-Geral da Saúde (DGS). Portugal está mais longe da meta da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Em 2023, foram notificados 1.584 casos de tuberculose em Portugal, acima dos 1.518 registados no ano anterior. Destes, 1.461 são casos novos e 123 retratamentos, o que corresponde a uma taxa de notificação de 14,9 casos por 100 mil habitantes.
De acordo com o relatório divulgado esta segunda-feira pela DGS, 76 pessoas morreram de tuberculose em 2023, o que corresponde a uma letalidade de 4,8%, cerca de metade (48,7%) no grupo etário acima dos 75 anos.
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Apesar da taxa de incidência em crianças ter diminuído, em comparação com o ano anterior, em 2023 foram notificados 27 casos de tuberculose em crianças com idade igual ou inferior a 5 anos, a maioria nos distritos de Lisboa e Braga e maioritariamente em crianças naturais de Angola, Guiné-Bissau, Brasil, Paquistão, Nepal e Serra Leoa.
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Em paralelo, aumentaram os casos de tuberculose multirresistente. Em 2023 foram identificados 22, sobretudo, na região de Lisboa e Vale do Tejo e predomínio de casos em migrantes.
A população migrante continua, de resto, a representar a maior proporção de casos, com um aumento constante nos últimos anos, e uma taxa de notificação quase quatro vezes superior à média nacional.
Portugal continua, assim, a ser um dos países europeus com maior taxa de incidência, o que nos coloca longe dos objetivos da OMS de reduzir 95% as mortes por tuberculose e 90% a taxa de incidência até 2035.
Em declarações à Renascença, a diretora do Programa Nacional para a Tuberculose da DGS, Isabel Carvalho, acredita que ainda vamos a tempo de alcançar a meta “se formos muito mais interventivos no diagnóstico de infeção e no tratamento preventivo, é possível”.
“O grande desafio", sublinha, "é colocarmos o foco nos mais vulneráveis, que serão também aqueles que têm mais dificuldade, ou mesmo vontade, de cuidarem de si, se não forem ajudados”.
Em Portugal, o tempo até ao diagnóstico continua a ser muito elevado. Em 2023 foi de 81 dias, sendo que os grupos em situação de vulnerabilidade e em maior risco de tuberculose apresentam uma demora superior à mediana nacional. E a culpa é, em muitos casos, atribuída ao próprio doente, segundo Isabel Carvalho “porque não valoriza os sintomas, ou porque não sabe como aceder aos cuidados de saúde, seja porque não tem médico de família atribuído ou porque não tem como aceder”.
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Quanto à elevada taxa da doença entre os migrantes ela justifica-se - diz a diretora do Programa - “porque é uma população que vem de países com alta incidência de tuberculose e são também países de elevada incidência de tuberculose multirresistente”.
Isabel Carvalho frisa, no entanto, que “se analisarmos os números de uma forma genérica, os doentes com tuberculose são uma proporção ínfima no número total da população imigrante em Portugal”.
Entre os desafios traçados pela DGS está, não só a redução do tempo até ao diagnóstico, mas também a melhoria dos sistemas de informação e a resposta mais eficaz aos que estão em situação de maior vulnerabilidade. Para isso, é fundamental “o reforço das estratégias de procura ativa de casos e o acesso aos cuidados de saúde em tuberculose”, explica Isabel Carvalho.
A médio prazo, a aposta é na integração de cuidados centrados no doente, na facilitação do rastreio, no incentivo ao tratamento preventivo, e no trabalho intersetorial para atuar sobre os determinantes sociais da doença.
Esta segunda-feira, 24 de março, assina-se o Dia Mundial da Tuberculose. Em 2023, a doença foi a principal causa de morte, a nível mundial, por agente infecioso, tendo substituído a Covid-19 que ocupou esta posição entre 2020 e 2022.