26 mar, 2025 - 07:46 • Olímpia Mairos , Isabel Pacheco
Depois de um decréscimo em 2024, o número de portugueses sem acesso a médico de família está a subir desde o início do ano: são mais de 36 mil utentes.
De acordo com o Jornal de Notícias, que avança a notícia, em fevereiro, 1,57 milhões de portugueses não tinham médico de família.
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No ano passado o número de utentes sem médico de família baixou 7,5% entre janeiro e dezembro, mas continuava acima de 1,5 milhões.
Os números resultam das aposentações dos profissionais e outras saídas, das entradas de novos médicos, através dos concursos, e também do aumento do número de inscritos nos centros de saúde.
Em declarações ao JN, o presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), Nuno Jacinto, fala em mudanças constantes na Saúde, cujos impactos são nulos o até negativos.
O responsável dá o exemplo das unidades locais de saúde (ULS), que foram criadas em janeiro de 2024 e, agora, há ULS com centros de atendimento clínico (CAC), e vão avançar 20 ULS com unidades de saúde familiar (USF) tipo C - geridas pelo privado ou social -, e cinco ULS que vão ser PPP.
Já o vice-presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, António Luz Pereira, aponta a falta de medidas concretas para a fixação de profissionais no SNS como a principal causa para o aumento de utentes sem médicos de família.
“Medidas que sejam capazes de reter mais médicos de família não temos nenhuma. No plano de emergência, nestas mudanças mais recentes, em termos daquilo que é a organização do Serviço Nacional de Saúde, ainda não vimos lá nenhuma medida que fizesse decidir um médico de família pelo Serviço Nacional de Saúde. Enquanto isso não acontecer, vamos assistir a este cenário, que já acaba por ser habitual nos últimos anos, de um aumento do número de utentes sem médico de família”, assinala.
Esta realidade poderá traduzir-se, também, em dificuldades na própria formação de novos profissionais.
"Continuamos sem ter resposta para o elevado número de utentes sem médico de família em Lisboa e Vale do Tejo, mas o problema é que, para além disso, já temos mais locais onde há um número elevado de utentes sem médico de família.”
Segundo o responsável, “isso acabará por também limitar aquilo que é a formação de novos médicos de família. Nos locais onde nós não temos especialistas, não conseguimos ter depois internos que possam também fazer a sua formação”.
“Acaba por ser uma bola de neve que ainda limitará mais aquilo que é a formação médica e a capacidade do nosso país de ter um médico de família para cada cidadão”, completa.