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"Obtuso" e "inaceitável". Reitores portugueses arrasam questionário da Administração Trump

11 abr, 2025 - 19:35 • Pedro Mesquita

As universidades portuguesas financiadas pelo Governo norte-americano foram questionadas sobre ideologia de género, ligações a terrorismo e influências “malignas da China”, entre outros temas.

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"Absolutamente inaceitável" e "obtuso". É assim que o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), Jorge Ferreira, reage ao polémico questionário ideológico enviado às universidades pela Embaixada dos Estados Unidos em Lisboa.

As universidades financiadas pelo Governo norte-americano foram questionadas sobre ideologia de género, ligações a terrorismo e influências “malignas da China”, entre outros temas.

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Uma carta da embaixada norte-americana anuncia um corte no financiamento, se um questionário ideológico de 36 perguntas não for respondido. Algumas instituições já perderam mesmo esses apoios, como é o caso do Instituto Superior Técnico, que recusou responder às perguntas da Administração Trump.

Em declarações à Renascença, o presidente de Conselho de Reitores sublinha que "a autonomia do ensino superior em Portugal é um valor consagrado na nossa Constituição".

Como é que o CRUP reage ao questionário que vos foi enviado pela Embaixada dos EUA e aos cortes anunciados?

Reagimos todos os reitores com muita perplexidade. Não tanto pelo corte do financiamento em si, que é um financiamento reduzido, da ordem das dezenas de milhares de euros, em várias instituições de ensino superior, quatro de início, Universidade de Lisboa, do Porto, da Aveiro e dos Açores, mas pelo simbolismo do questionário que nos foi enviado e que eu considero absolutamente inaceitável quando se dirige a uma instituição de ensino superior, de um país soberano, num Estado de Direito.

Quer revelar-nos uma ou duas perguntas colocadas e que vos deixaram mais perplexos?

Por exemplo, uma pergunta em que nos era pedido que confirmássemos que não estávamos envolvidos, ou éramos suspeitos, de atividades de terrorismo, tráfico de droga ou de seres humanos, ou ligados à promoção da migração em massa nos últimos dez anos.

E havia também questões sobre a ideologia de género, por exemplo...

Sim, também havia sobre a ideologia de género, e até sobre as "terras raras". Ora, dirigir isto a programas de promoção da ciência e de intercâmbio entre dois países pareceu-me notar talvez um erro. Talvez não fosse intencional dirigirem-nos este questionário, porque ele é de tal forma obtuso que seria de todo inaceitável se tivesse sido enviado voluntariamente, deliberadamente.

Algumas universidades, pelo que sei, não responderam simplesmente ao questionário e já houve cortes.

Os cortes foram anunciados juntamente com as perguntas. Eu até concedo, facilmente, que uma instituição que financia algo nos termos dos contratos que realizou possa pôr fim a esse financiamento. O que já é mais difícil de conceber é que faça acompanhar isso de 36 perguntas, algumas das quais parecem ser uma agressão indireta às instituições a quem são dirigidas.

Em causa, nesses cortes, está a continuação do programa "American Corner". Tanto quanto percebi é um espaço de divulgação da cultura americana, mas é só isso? Estes cortes não irão atingir, por exemplo, a ida de professores portugueses para universidades norte-americanas?

Não. Um dos objetivos do programa é promover pontes, entre um e o outro lado do Atlântico, promovendo intercâmbio, troca de pessoas, iniciativas conjuntas, etc. Não sendo financiado, obviamente que essas atividades ficam prejudicadas. Contudo, como o financiamento era reduzido e há muitas outras formas de intercâmbio e de colaboração em curso, essas outras não ficarão em nada prejudicadas. Acho que é preciso serenidade suficiente para separar uma coisa e as outras.

As universidades portuguesas, doa o que doer, não vão ceder a este tipo de pressões da Administração norte-americana?

Nem da Administração norte-americana, nem de outra qualquer administração. A autonomia do ensino superior em Portugal é um valor consagrado na nossa Constituição, é um valor que é caro a todas as instituições de ensino superior e um valor que é necessário para o futuro da qualificação a nível nacional. Por isso, é algo que devemos salvaguardar a todo custo.

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