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REPORTAGEM

Preço do borrego dispara nas vésperas da Páscoa por culpa da língua azul

12 abr, 2025 - 11:04 • Sérgio Major (texto) e Nuno Veiga (fotos e vídeo), da agência Lusa

"Há pessoas da idade do meu pai, dentro dos 70 anos, que não se lembram de ver os preços assim", afiança o agricultor e criador de ovinos Alexandre Lobo, dono de uma exploração pecuária na zona de Redondo, distrito de Évora.

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Nas vésperas da Páscoa, época em que a carne de borrego é mais procurada para consumo, o preço dos animais disparou para valores nunca antes vistos, devido à diminuição dos rebanhos provocada pela doença da língua azul.

"Há pessoas da idade do meu pai, dentro dos 70 anos, que não se lembram de ver os preços assim", afiança à agência Lusa o agricultor e criador de ovinos Alexandre Lobo, dono de uma exploração pecuária na zona de Redondo, distrito de Évora.

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Alexandre é um dos participantes no leilão de ovinos e caprinos em Évora que antecede a Páscoa, organizado pela Associação dos Jovens Agricultores do Sul (AJASUL) e pela Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Merina (ANCORME).

"Não nos podemos queixar", pois o valor a que estão a ser vendidos os animais "tem sido uma mais-valia para o produtor", admite este criador, que tem 1.500 ovelhas, enquanto espera para descarregar um lote de 50 borregos para o leilão.

O agricultor realça que a doença da língua azul causou grandes prejuízos, que atingem os 40 mil euros na sua exploração, entre a morte de animais jovens e adultos e abortos. Os valores agora cobrados nas vendas ajudam a compensar as perdas.

"Muitas pessoas desistiram e outras estão com a moral um bocado em baixo e, se não fossem os preços a que os animais estão, então... Mas estamos a chegar à Páscoa e é um período em que os animais estão com um valor espetacular", assume.

Um pouco antes de o leilão começar e já com os animais pesados e divididos em parques, André Pinto, gerente de uma empresa grossista de carne com sede na zona do Porto, circula pelo pavilhão e observa os lotes que lhe podem vir a interessar.


"Não nos podemos queixar", pois o valor a que estão a ser vendidos os animais "tem sido uma mais-valia para o produtor", admite este criador, que tem 1.500 ovelhas, enquanto espera para descarregar um lote de 50 borregos para o leilão.

"Os preços que se praticam aqui é uma coisa fora do normal", comenta à Lusa, salientando que o produtor teve "um ano muito difícil", devido à língua azul, mas "nunca recebeu tanto dinheiro na vida como está a receber este ano".

Com o preço em alta, a "cara" de quem vende não é igual à de quem compra e este empresário diz que tem "que vender, para defender o mercado da carne, abaixo do custo de compra", pois, caso contrário, os consumidores não a adquirem.

Há menos animais e a culpa é da língua azul

"Este ano, há menos animais e a razão é a língua azul", explica à Lusa o secretário técnico da ANCORME, Tiago Perloiro, lembrando que o novo serotipo 3 da doença, detetado em meados de setembro do ano passado, provocou a morte de animais e abortos.

Segundo o também criador de ovinos, a diminuição de animais no campo, a par da maior procura para exportação, fez subir em flecha os preços, sobretudo, nos primeiros três meses deste ano.

"No final de 2024, tínhamos borregos vendidos entre os 100 e os 150 euros, dependendo das classes de pesos", enquanto, "no início do ano, os preços subiram de forma significativa e chegámos a ter borregos vendidos a quase 200 euros", exemplifica.


Ainda assim, Tiago Perloiro antevê "uma tendência de estabilização" dos preços, que atribui à entrada de borregos em Portugal vindos de Espanha, nas últimas semanas, entre outros fatores relacionados com alterações no mercado de exportação.

Borrego mais caro do que no ano passado

"O borrego está mais caro do que o ano passado. É a lei da oferta e da procura. Há pouco e está mais caro", atesta à Lusa o presidente da AJASUL, Diogo Vasconcelos, estimando que se tenha perdido "60% a 70% da produção" de ovinos.

Assinalando que "os intermediários estão a comprar mais caro", o também agricultor alerta que estes também "vão vender mais caro" e a carne de borrego "vai chegar mais cara às prateleiras dos supermercados".

"Face ao preço em que está, acho que esta carne vai ser uma iguaria em Portugal. Não é para todas as carteiras", atira o criador de ovinos Alexandre Lobo.

Já o produtor Carlos Balsa, com uma propriedade perto de Évora, não levou animais ao leilão, ao contrário do que é habitual. Optou por ficar com "o maior número de fêmeas e de machos para repor as perdas" de animais que morreram com língua azul.

Se não fossem estes "animais de reposição" e a morte de 140 crias, devido à doença, este criador teria "um maior número de animais para serem vendidos" em leilão ou diretamente a colaboradores, explica.

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