14 abr, 2025 - 07:45 • João Cunha
A entrada na Secundária Anselmo de Andrade pelo acesso mais próximo do pavilhão desportivo, é controlada, 24 horas por dia, pela PSP. E já no interior, junto à entrada do pavilhão, estão colocadas debaixo de uma tenda algumas jaulas para os cães de quem vivia no Cais do Ginjal - que lá vão ladrando, a pedir festas e a derreterem-se quando alguém os deixa sair.
Paulo Santos lá esteve trinta anos, no Ginjal, numa habitação precária, mas com as condições que diz não existirem agora na Zona de Concentração e Apoio à População, criada pela autarquia, no referido pavilhão.
“Onde estávamos tínhamos as nossas condições. Eu, a minha tia, a minha mulher e o meu filho tínhamos a nossa casa de banho. Aqui é um balneário geral, em que todos tomam banho e todos fazem as suas necessidades. Isto não tem condições, não tem”, explica.
“Aqui estamos todos ao molho e fé em Deus, as camas são de pano. Não tem condições nenhumas”, remata Paulo, que decidiu enviar a mulher e o filho para casa de familiares, para não terem de se sujeitar aquelas condições.
O pavilhão está parcialmente ocupado com camas de campanha, de armação em metal e de estrado em pano, montadas não muito longe umas das outras. Perto das camas, alguns sacos com pertences dos que se viram obrigados a deixar as frágeis habitações onde viviam.
Numa das laterais do pavilhão, uma grande lona laranja parece impedir a visão para o interior dos balneários.
Rui Batista, outro dos cerca de vinte ex-residentes do Cais do Ginjal, ali alojado, também se queixa das atuais condições, e lembra que lá em baixo, no Ginjal, vivia bem.
“Eramos uma comunidade de poucas pessoas, mas de um momento para o outro começaram a invadir, a construir barracas lá para trás, alugar barracas e a vendê-las… Começou a haver os roubos e começaram, claro, as confusões todas por ali”.
Não vê com bons olhos os argumentos utilizados pela autarquia para proceder à interdição do Cais do Ginjal e ao despejo de quem ali residia.
“Dizem que aquilo está em risco, mas é para os turistas que passam, na parte de fora, em cima do paredão. Lá dentro não estamos em risco”, garante Rui, que face ás atuais condições de alojamento queixa-se sobretudo da falta de privacidade.
“Estamos ali numa situação muito complicada. Ninguém quer saber de nada. Dormimos ali mal: uns estão a ressonar, outros a fazer barulho, não há privacidade nenhuma. Estamos numa condição mais precária do que aquela em que estávamos”, lembra este desalojado, que faz questão de dizer que onde vivia havia casa de banho com duche e sítio para dormir sossegado.
“O frigorífico está lá, cheio de comida, a estragar-se. E eles não querem saber disso para nada”, acrescenta.
Outra das preocupações que tem é a segurança de tudo o que deixaram nas antigas casas.
“Está lá uma vida. Documentos, fotografias… ficou lá tudo. Disseram-nos para depois ligar para a Autoridade Marítima para lá irmos buscar as coisas. Mas vamos pô-las onde?”, questiona Rui, que não tem a certeza que a segurança dos seus bens tenha sido salvaguardada.
A autarquia podia ter encontrado outra solução, diz Paulo Santos, que espera que até ao final do período de férias escolares da Páscoa, altura em que a escola volta a abrir portas, se encontre uma solução.
“Eles não deram certezas de nada. Disseram-nos que tínhamos de sair e que a Câmara tinha um pavilhão para ficarmos, provisoriamente, durante dez dias. Depois desse período, não sei. Ninguém fala connosco”…
Para Paulo, a autarquia “devia ter já casas para as pessoas habitarem, porque isto aqui não é vida. Não tem cabimento nenhum porem-nos aqui”.
Quem já sabe o que vai fazer, caso a autarquia não lhe apresente uma alternativa, é Rui Batista.
“Se não resolverem? Volto para o mesmo sítio. Há caminho lá por trás, por cima da arriba... Havemos de arranjar caminho para passar”.
A autarquia de Almada garantiu que os serviços sociais da câmara vão analisar a situação, caso a caso, de cada agregado familiar e procurar soluções habitacionais. As aulas recomeçam dia 22.
A Renascença aguarda uma reação da Câmara de Almada às denúncias dos que foram instalados no Pavilhão da Secundária Anselmo de Andrade.
A autarquia podia ter encontrado outra solução, diz Paulo Santos, que espera que até ao final do período de férias escolares da Páscoa, altura em que a escola volta a abrir portas, se encontre uma solução.
“Eles não deram certezas de nada. Disseram-nos que tínhamos de sair e que a Câmara tinha um pavilhão para ficarmos, provisoriamente, durante dez dias. Depois desse período, não sei. Ninguém fala connosco”…
Para Paulo, a autarquia “devia ter já casas para as pessoas habitarem, porque isto aqui não é vida. Não tem cabimento nenhum porem-nos aqui”.
Quem já sabe o que vai fazer, caso a autarquia não lhe apresente uma alternativa, é Rui Batista.
“Se não resolverem? Volto para o mesmo sítio. Há caminho lá por trás, por cima da arriba... Havemos de arranjar caminho para passar”.
A autarquia de Almada garantiu que os serviços sociais da câmara vão analisar a situação, caso a caso, de cada agregado familiar e procurar soluções habitacionais. As aulas recomeçam dia 22.
Perante as queixas, a Renascença contatou a Câmara de Almada, mas ninguém da autarquia quis fazer comentários.