06 out, 2017 - 00:00 • Paula Caeiro Varela , Eunice Lourenço
Luís Montenegro não será candidato à liderança do PSD. A decisão é anunciada pelo próprio num comunicado enviado à Renascença, em que alega “razões pessoais e políticas” para não se candidatar às eleições directas que, em Dezembro, vão decidir o sucessor de Pedro Passos Coelho como presidente do PSD. Está assim aberta a porta para que seja o eurodeputado Paulo Rangel a recolher os apoios de todos os que têm estado ao lado de Passos Coelho.
“A apresentação de uma candidatura à liderança do Partido Social Democrata é uma prerrogativa que assiste a qualquer militante no pleno exercício dos seus direitos estatutários. Após a reflexão que fiz, entendo que, por razões pessoais e políticas, não estão reunidas as condições para, neste momento, exercer esse direito”, escreve o ex-líder parlamentar, que começa o comunicado por agradecer todas as “manifestações de apoio e incentivo” que recebeu tanto com origem no território nacional como na diáspora.
Montenegro sublinha que “num momento em que o País é dirigido por uma maioria de esquerda que não tem uma visão estratégica para o nosso futuro colectivo e que não tem limites à sua ânsia de poder é determinante que PSD não fulanize o debate interno e que seja capaz de discutir as ideias e os projectos que deveremos apresentar aos portugueses”.
Na noite de terça-feira, quando saiu da reunião do Conselho Nacional do partido, Paulo Rangel defendeu que ainda era o tempo de discutir ideias e não nomes. Mas, no mesmo dia, saiu um artigo seu, no diário "Público", em que defendia as suas ideias para o PSD, algumas delas contrárias às de Rui Rio.
No seu comunicado, Luís Montenegro garante que irá participar activamente nesse debate interno, mas, por outro lado, diz que vai manter “total equidistância face às candidaturas que vão surgir”. Ainda assim, promete dar contributos e partilhar reflexões que os candidatos podem aproveitar se assim o entenderem.
“Como militante de base que hoje sou, e como é obrigação de todos, não deixarei de fazer a minha opção e de participar, com o meu voto, na eleição directa e no Congresso Nacional que se lhe seguirá”, conclui Luís Montenegro, que deixou este Verão o lugar de líder parlamentar do PSD e era visto como um sucessor natural de Passos Coelho.
No entanto, Montenegro contava ter, pelo menos, mais dois anos para preparar essa sucessão, fazendo uma travessia do deserto que, por um lado, lhe permitisse descolar da imagem tão ligada a Passos e aos anos da troika e, por outro, fazer o trabalho junto das estruturas que lhe permitisse ter os apoios necessários. A decisão de Pedro Passos Coelho de não se recandidatar à presidência do PSD na sequência das eleições autárquicas acabou por lhe trocar os planos.
A expectativa em muitos sectores do PSD era que, nas directas do próximo ano, houvesse uma disputa entre Passos Coelho e Rui Rio e seria o vencedor a ir às legislativas de 2019, correndo o risco de ser derrotado, no país, por António Costa e abrindo novo processo de sucessão. O presidente eleito do PSD em 2020 terá, depois, mais tempo e mais hipóteses para construir uma alternativa de poder.
A decisão de Luís Montenegro – que tinha dito que não estava dependente – do avanço ou não de outros candidatos abre caminho a que o chamado "passismo" possa apoiar Paulo Rangel. O eurodeputado, como a Renascença avançou, deve apresentar-se como candidato à sucessão de Passos Coelho tentando congregar todos os sectores do PSD que não se revejam na candidatura de Rui Rio.