26 mai, 2020 - 23:11 • Paula Caeiro Varela , Eunice Lourenço
O deputado Pedro Rodrigues demitiu-se do cargo de coordenador do PSD na comissão parlamentar de Trabalho por considerar que o líder do partido, Rui Rio, não mobiliza os deputados e não coordena as iniciativas, nem as votações.
Pedro Rodrigues, ex-líder da JSD e autor de um projeto de resolução a defender o referendo à eutanásia, entende que o momento que Portugal vive “exige a mobilização de todos”, mas não é isso que vê no seu partido.
“Exige que sejamos capazes de, em conjunto, desenvolver as nossas responsabilidades para com os portugueses e, em especial, para com o nosso eleitorado. Esse esforço deve ser desenvolvido com uma preocupação de coordenação e articulação constante entre a direção do Grupo parlamentar, os coordenadores dos deputados nas várias comissões e os deputados, não só na definição do sentido de voto das várias propostas submetidas a votação, mas também na formulação de iniciativas parlamentares”, escreve o deputado na carta a que a Renascença teve acesso e onde escreve que “tem sido com perplexidade e preocupação” que tem constatado que o presidente do PSD não vê necessidade dessa articulação com os seus deputados.
“Embora discordando em diversos aspetos, não me cabe contestar ou colocar em causa o modo como V.Exa estrutura o funcionamento e organização do Grupo Parlamentar para a qual tem toda a legitimidade, conferida pela eleição maioritária dos membros do Grupo Parlamentar. Embora discordando, não me cabe questionar a circunstância de não se reunir e envolver devidamente o grupo parlamentar de forma a potenciar a energia, o talento e a criatividade dos nossos deputados de forma mais intensa num momento histórico tão relevante”, continua o deputado na carta em que também lamenta o silêncio de Rui Rio sobre a sua defesa de um referendo à legalização da eutanásia.
“Embora discordando, não me cabe pôr em causa o prolongado silêncio de V.Exa relativamente a uma iniciativa que desenvolvi a propósito do referendo sobre a eutanásia, em obediência aos meus princípios, na sequência de deliberação do Congresso e na defesa dos valores de uma relevante componente do nosso eleitorado”, queixa-se Pedro Rodrigues, que aponta como causa próxima da sua demissão o facto de se sentir ultrapassado na comissão em que é coordenador dos deputados do PSD.
“Não posso de modo algum manter-me indiferente à circunstância de decisões extraordinariamente importantes e estratégicas no domínio das áreas sob a responsabilidade da 10ª Comissão serem tomadas sem a minha participação, tomando sistematicamente conhecimento das mesmas pela comunicação social ou no momento em que as mesmas se materializam. Apenas posso considerar que tal circunstância se deve à falta de confiança de V.Exa no Coordenador dos Deputados da 10ª Comissão”, escreve Pedro Rodrigues, considerando que não lhe resta outra alternativa que não seja apresentar a demissão.