09 jan, 2025 - 11:20 • José Pedro Frazão
A dirigente socialista Mariana Vieira da Silva considera que a participação militar europeia na paz na Ucrânia é um cenário real. "Temos que estar preparados para uma evolução para participação numa situação de paz e não numa participação desta guerra", afirma, na Renascença, a deputada do PS.
A antiga ministra socialista defende que a Europa deve preparar-se para o envio de forças de paz para a Ucrânia. No programa "Casa Comum", a dirigente nacional do PS considera que este é um cenário que deve ser equacionado para garantir a paz na Europa, caso a Ucrânia faça esse pedido expresso num possível acordo para o fim da guerra.
"A Europa deve estar disponível para garantir a paz duradoura naquela região. E se isso tiver como contrapartida a presença de forças de paz, devemos estar preparados para ela. Porque uma guerra às portas da Europa, continuada durante muito tempo, é certamente mais desfavorável para a paz na Europa do que essa situação", afirma, no debate político semanal da Renascença.
Numa análise sobre o cenário pós-conflito, Mariana Vieira da Silva ressalva que na base de qualquer decisão deve estar "a vontade dos ucranianos e a avaliação que a Ucrânia faça de o que é que lhe dá mais condições para garantir a paz mais rapidamente".
A deputada socialista insiste na necessidade de encontrar uma solução duradoura que respeite a vontade dos ucranianos desde logo nas condições para a paz que possam implicar eventuais perdas de território por Kiev.
"A Ucrânia é que tem que olhar para a situação e perceber que condições tem de prolongar esta guerra. Agora, sou contra uma imposição dessa perda por parte da União Europeia ou de qualquer outro bloco à Ucrânia. Se a Ucrânia olhar para isto de outra forma, essa é a vontade do povo e é isso que devo respeitar", sustenta Mariana Vieira da Silva.
Para o social-democrata Duarte Pacheco, Portugal deve estar disponível para fazer parte de uma força militar de manutenção de paz, se a Rússia aceitar a presença de tropas europeias. No entanto, o antigo deputado duvida que Moscovo aceite que uma força que inclua militares dos países da NATO.
"Mais facilmente teremos uma força de paz com alguns países latino-americanos ou do Médio Oriente ou da Ásia, do que propriamente europeus. Se através das Nações Unidas for encontrada um grupo de capacete azuis, que possa ter soldados mexicanos, dos Emirados ou japoneses, isso poderá acontecer, mas terá que ser a ONU a fazê-lo. Porque através da NATO ou da União Europeia, duvido que a Rússia o aceitasse. Se a Rússia aceitar, a União Europeia tem a obrigação de estar presente e Portugal deve acompanhar", defende Duarte Pacheco na Renascença.
O ex-presidente da União Interparlamentar concorda que qualquer concessão de território só pode ter o acordo da Ucrânia e admite que uma solução de paz pode passar por um congelamento do conflito, com uma ocupação que não implique perda de soberania.
"Durante muitos anos, na sede das Nações Unidas, os mapas identificavam Timor como território português, apesar de estar ocupado pela Indonésia. Isso significa que, perante o direito internacional, aquilo era território português, porque nunca prescindimos que fosse visto dessa forma, apesar de estar ocupado por outros", exemplifica Duarte Pacheco.
Outra hipótese é a de um armistício " em que a Ucrânia não reconhece que aquele território não é seu. O direito internacional continua a assumir que aquele território é ucraniano, mas que há um 'status quo' que pode até durar décadas, como vimos na Coreia"
Duarte Pacheco lembra ainda que Kiev já tem a experiência da ocupação russa da Crimeia que a Ucrânia não aceitou.
"Continuaram a achar que aquilo é território ucraniano, mas, de algum modo, o 'status quo' foi preservado. Agora, cedência de território, 'tout cour', não. Se isso for necessário, em termos de entendimento, para que a guerra fique congelada, que assim seja".