21 jan, 2025 - 13:49 • Tomás Anjinho Chagas com Lusa
O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamenta o processo que se desenrolou desde a criação da direção executiva do SNS e assume que "correu mal até aqui", depois da demissão de Gandra D'Almeida, que foi substituído por Álvaro Santos Almeida, nomeado esta terça-feira pelo Governo.
À margem de uma iniciativa no Palácio de Belém, o presidente da República lamentou os avanços e recuos deste órgão, criado pelo Governo de António Costa, que foi inicialmente liderado por Fernando Araújo, que acabou por ser afastado pelo Executivo de Luís Montenegro.
"Correu mal até aqui, desde o início da concepção. Foi uma ideia, demorou um ano para ser lançada, quando foi lançada já o Governo não era Governo. Entra um novo Governo, logo a seguir sai a figura do presidente, é substituído por uma solução de necessidade, e agora o que se espera é que estabilize finalmente uma solução duradoura", apela Marcelo Rebelo de Sousa em declarações aos jornalistas.
Sobre o nome escolhido esta terça-feira para o cargo, o Chefe de Estado fala numa solução "nitidamente defensiva" e sublinha que Álvaro Santos Almeida é uma pessoa da "confiança política e partidária do Governo" que tem também "alguma experiência na gestão da Saúde".
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Questionado sobre eventuais responsabilidades políticas da ministra que, segundo várias notícias, sabia das incompatibilidades na acumulação de funções que levou à demissão de Gandra D'Almeida, o presidente da República não alimenta essa versão e espera para ver os novos desenvolvimentos do caso.
"Não sei se era conhecimento de todos. Vamos ver e apurar exatamente qual era a situação, todos os dias surgem notícias novas. Como é que era exercida, quer em si mesma, quer na remuneração, se isso foi conhecido e como é que foi conhecido", arrefece o presidente da República.
Depois da mais recente mudança na direção executiva do SNS, Marcelo Rebelo de Sousa pede ainda que o Governo defina "a fronteira" entre as competências que são da ministra da Saúde e as que são da responsabilidade deste órgão.
O Chefe de Estado comentou ainda o regresso de Donald Trump à Casa Branca, para afirmar que o novo presidente dos Estados Unidos da América volta "mais forte" e para pedir à Europa para "fazer pela vida".
Segundo o Presidente da República, "ele é o mesmo" e "está a fazer aquilo que teria feito se tem em ganho a Joe Biden as eleições que perdeu, e se tem ganho com as maiorias no Congresso" de que agora dispõe: "Executar a segunda parte do programa".
Marcelo Rebelo de Sousa definiu Donald Trump como um Presidente "para quem o Pacífico é muito importante, para quem as relações com a China são muito importantes, para quem as relações com a Rússia são iguais ao que eram já no primeiro mandato, em que a Rússia, portanto, não é um problema para a sua visão dos Estados Unidos", e que não dá importância à Europa e ao Atlântico.
"Portanto, eu nunca tive ilusões, e disse-o, aliás, durante a campanha eleitoral, que como conhecia a pessoa, a pessoa não ia mudar, e que iria fazer os acordos necessários com a Rússia e com a China, iria ter o apoio dos grupos económicos que atuam na China e na Rússia e que estivessem interessados nessa triangulação. E que a Europa, provavelmente, era uma das entidades que tinha de fazer pela vida, por si própria. E, portanto, é isso que a Europa tem de fazer", acrescentou.
De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa, Donald Trump, "agora, quatro anos depois, vem mais rápido, precisamente para recuperar, da ótica de quem o definiu, o tempo perdido, com uma posição mais forte, porque está mais forte dentro dos Estados Unidos, e cuida dos interesses americanos".
"Compete a nós, portugueses e europeus, cuidar dos nossos interesses. Que não são, necessariamente, em muitos aspetos, infelizmente, condizentes com os americanos", reforçou o chefe de Estado.
Neste contexto, na sua opinião, "tem de ser a Europa, mantendo-se unida, a ter de trabalhar em duas direções", a primeira das quais é "manter as relações com a América, mesmo que a América não esteja entusiasmada nisso".
Por outro lado, defendeu que a Europa tem de "criar outras condições para facilitar a resolução dos problemas que tem, quer do ponto de vista económico, quer do ponto de vista de segurança - sabendo que, de facto, há aqui uma orientação que foi sempre diferente da orientação tradicional americana".
Interrogado se teme que com a nova administração norte-americana a guerra da Ucrânia termine com cedências territoriais significativas à Rússia, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu: "Vamos esperar. Tudo aquilo que eu dissesse agora não facilitava, não é? E acho que os chefes de Estado e de Governo europeus devem ter esse bom senso".
"Tudo que puderem fazer para dar força ao NATO, para manterem uma linha de orientação que signifique segurança para a Europa e reforce a segurança na Europa, porque é difícil recuperar economicamente sem segurança, devem fazer", completou.