31 jan, 2025 - 21:38 • Pedro Mesquita
O secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, "teve coragem" ao reconhecer os erros do Governo de António Costa em matéria de políticas e imigração, afirma à Renascença o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas.
O ponto de partida para esta entrevista de Carlos Moedas à Renascença é uma "plataforma online", que a Câmara de Lisboa pretende inaugurar dentro de “um mês, ou mês e meio", e que servirá para orientar os imigrantes para as ofertas de emprego que existem em Lisboa.
"A ideia é ter um mapa de empregos, em Lisboa, que esteja direcionado para quem cá chega", afirma.
O autarca adianta que já existem "seis mil oportunidades de trabalho" e "duas mil ofertas de formação".
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Questionado pela Renascença se, com este anúncio, não receia vir a ser acusado de eleitoralismo, em ano de eleições, Carlos Moedas sublinha que foi "o primeiro a avisar para o problema, que eram necessárias políticas de imigração", e que foi "acusado, por isso".
O autarca sublinha que "temos agora o líder do Partido Socialista que também vem a reconhecer essa necessidade".
Moedas rejeita, por outro lado, a ideia de que este reposicionamento socialista possa esvaziar a sua bandeira: "Em primeiro lugar estamos aqui a falar das pessoas. Eu diria que o líder do Partido Socialista teve coragem e, portanto, só podemos agradecer que isso tenha acontecido e que neste momento os dois maiores partidos possam unir naquilo que é a resolução de um problema, que é complicado (...) num país que precisa de imigrantes".
Como vai funcionar esta plataforma que agora anuncia? De que forma é que irá conseguir garantir às empresas de Lisboa a mão-de-obra em falta, e um posto de trabalho aos imigrantes que chegam à capital?
A ideia é ter um mapa, um mapa de emprego de Lisboa que esteja direcionado para quem cá chega. É isso que estamos a fazer neste momento, porque nós já temos seis mil oportunidades de trabalho, temos duas mil ofertas de formação e estamos, neste momento, a trabalhar primeiro com as associações, com aqueles que estão em contato direto com os imigrantes quando cá chegam, para que depois, através desta plataforma em várias línguas, eles possam ter acesso a ofertas de trabalho. Portugal precisa de imigrantes, Lisboa precisa de imigrantes, mas temos que ter políticas de imigração.
Já me disse que à partida para esta plataforma já existem cerca de 6 mil ofertas de emprego...
À volta disso.
E também já há imigrantes interessados nesses empregos?
Sim, senhor. Nós estamos a trabalhar com vários projetos. Estes projetos vão fazer esta ligação, mas os imigrantes também podem depois conectar-se a esta plataforma e responder diretamente às ofertas de trabalho que estão na plataforma.
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Haverá ofertas de emprego em que áreas?
Em todas as áreas, desde restaurantes, programadores de informática, na área dos serviços e é, portanto, uma plataforma que vai ter um impacto muito grande na integração das pessoas que, muitas vezes, não sabem como dar o primeiro passo, não conhecem ninguém e aqui têm, digitalmente, uma plataforma com as oportunidades, com o número de telefone.
E já existe uma data para a entrada em funcionamento desta plataforma?
Já temos a plataforma preparada em português e, portanto, o que estamos a fazer agora é a tradução. Temos aqui pelo menos um mês pela frente, um mês e meio.
Mas por que é que só agora é que avança esta plataforma? Não têm receio de vir a ser acusado de eleitoralismo, até porque vêm as autárquicas?
Não, porque eu fui o primeiro a avisar para o problema, fui o primeiro a dizer que eram necessárias políticas de imigração e fui acusado por isso. Depois muitos começaram a reconhecer a minha posição, e temos agora o líder do Partido Socialista que também vem a reconhecer essa necessidade.
Até que ponto é que este novo quadro, esta nova posição do PS, pode esvaziar de alguma forma esta sua bandeira?
Em primeiro lugar, estamos aqui a falar das pessoas. Eu diria que o líder do Partido Socialista teve coragem e, portanto, só podemos agradecer que isso tenha acontecido e que neste momento os dois maiores partidos possam unir naquilo que é a resolução de um problema, que é complicado, mas ao mesmo tempo num país que precisa de imigrantes.
O atual Governo tem tomado medidas para controlar o fluxo migratório. Já se nota alguma diminuição do número de imigrantes que chegam a Lisboa?
É difícil avaliar já o efeito das políticas e, portanto, neste momento vai-se sentindo efetivamente uma mudança, com o fim da manifestação de interesse, mas ainda é muito difícil [avaliar], não tenho números. Aquilo que eu noto é que muitas pessoas que estavam à espera para serem recebidas pela AIMA [Agência para a Integração Migrações e Asilo] finalmente estão a ser recebidas. E disso eu tenho muito 'feedback' positivo. Foi uma boa medida para 400 mil pessoas que estavam à espera há tantos anos.