31 jan, 2025 - 09:33 • André Rodrigues
O presidente da comissão parlamentar de inquérito (CPI) ao caso das gémeas luso-brasileiras acusa o Presidente da República de “falta de consideração” pelo trabalho dos deputados que, por mais do que uma vez, requereram esclarecimentos a Marcelo Rebelo de Sousa.
Em entrevista à Renascença, Rui Paulo Sousa lamenta que “tenha sido após termos colocado um determinado período para o Presidente da República dar essa resposta que ele finalmente tenha decidido que não vem a Comissão nem responde à Comissão. Devia ter dito essa informação mais cedo”.
“Não digo falta de respeito, talvez falta de consideração, sem dúvida”, reforça o deputado do Chega que, por outro lado, encara com reservas o argumento de Marcelo Rebelo de Sousa de que não existe matéria de facto que justifique a necessidade do Chefe do Estado responder às questões dos deputados.
“Não vou dizer que houve algo que apontasse diretamente para o Presidente da República”, reconhece Rui Paulo Sousa que, contudo, remete todas as conclusões para o relatório final.
No entanto, para o presidente da CPI, resulta claro que “houve várias referências ao senhor Presidente da República e à Casa Civil do senhor Presidente da República”.
Também o vice-presidente da Associação Frente Cívica critica o silêncio de Marcelo Rebelo de Sousa.
Em declarações à Renascença, João Paulo Batalha acusa o Presidente da República de se querer “esquivar” ao escrutínio dos deputados.
“Haveria uma forma de resolver o assunto, que seria responder por escrito, poupando-se a um espetáculo que seria deprimente, até porque uma audição presencial poderia dar azo a aproveitamentos políticos”, defende Batalha.
Comissão de Inquérito
Depois de 36 audições e oito depoimentos escritos,(...)
“Quando ele simplesmente recusa tocar no assunto, isso mostra o embaraço que ele sente em relação a tudo isto e era útil perceber melhor qual foi verdadeiramente a intervenção pessoal do Presidente da República”, acrescenta.
Daí que o vice-presidente da Frente Cívica considere que seria preferível que o Marcelo Rebelo de Sousa tivesse invocado o princípio da não fragilização do cargo: “seria uma negativa mais honesta. Agora, dizer que não há factos é uma desculpa muito mau pagador”.
No entanto, este responsável admite que “talvez seja menos mau assim, porque seria muito mau ver Marcelo Rebelo de Sousa responder numa comissão sobre um caso em que já se percebeu que ele tem a responsabilidade política de ter originado toda esta cunha”.
Esta quinta-feira, o Presidente da República anunciou que não se vai pronunciar na CPI sobre caso das gémeas tratadas no Hospital de Santa Maria, defendendo que não há qualquer declaração que envolva a Presidência da República.
Ainda nestas declarações, registadas na Culturgest em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa rejeitou a ideia de ter sido alvo de um ultimato por parte da CPI, pelo facto de lhe ter sido estabelecido um prazo limite até 7 de fevereiro para responder aos deputados.