Siga-nos no Whatsapp
A+ / A-

Combate à corrupção tem limites?

“É irrealista que um político passe a andar com uma câmara para vermos tudo o que ele faz”

13 fev, 2025 - 20:18 • José Pedro Frazão

A queda de Portugal no Índice de Perceção da Corrupção deve levar à reflexão dos políticos, mas a criação de um relatório anual sobre a corrupção pode ajudar a clarificar a realidade. A opinião é dos comentadores do programa Casa Comum, da Renascença, Mariana Vieira da Silva e Duarte Pacheco.

A+ / A-
Corrupção, Segurança Social e Inteligência Artificial
Corrupção, Segurança Social e Inteligência Artificial

A proposta de um relatório anual sobre corrupção, sugerida pela Provedora de Justiça, é bem acolhida pela socialista Mariana Vieira da Silva e pelo social-democrata Duarte Pacheco. Os comentadores do programa Casa Comum, da Renascença, consideram que este passo pode ajudar a entender melhor uma realidade cujo debate atualmente se centra sobretudo nos cargos políticos.

"Concordo com a existência de um relatório mais detalhado, principalmente sobre quem é que as pessoas percecionam como corruptos ou agentes da corrupção. Temos trabalhado muito ao longo dos últimos anos sobre aquilo a que normalmente chamamos de 'os políticos'. Mas, muitas vezes, as pessoas percecionam níveis de corrupção elevado a um nível muito mais intermédio, para o qual me parece que não temos olhado tanto", afirma Mariana Vieira da Silva na Renascença.

Já segue a Informação da Renascença no WhatsApp? É só clicar aqui

Também Duarte Pacheco concorda com a realização de um relatório anual “para que as pessoas tenham a perceção e todos se sintam mais responsabilizados a lutar contra a corrupção”. O deputado social-democrata comentava o Índice de Perceção da Corrupção onde Portugal atinge o pior resultado desde 2012. Pacheco assume que este é um ‘cartão amarelo’ também para a classe política. “Se existe a perceção, não podemos meter a cabeça na areia e fingir que não existe esse sentimento generalizado”, sustenta o comentador social-democrata.

Para que servem as estratégias contra a corrupção?

A queda de Portugal no Índice de Perceção da Corrupção surge num contexto de sucessivos planos governamentais de combate à corrupção.

“É muito difícil pensar em mais relatórios, declarações e estratégias que possam ser seguidas e isso tem melhorado os números efetivos da corrupção. Mas, muitas vezes, as pessoas percecionam níveis elevados de corrupção num plano muito mais intermédio - para o qual me parece que nós não temos olhado tanto - porque é aquela que é visível no dia-a-dia das pessoas”, diz Mariana Vieira da Silva.

A dirigente do PS associa a existência das estratégias à falta de casos de enriquecimento de pessoas “que entram para a vida política com um determinado nível de rendimento e saem com níveis completamente distintos”. Mas a deputada socialista também diz que a opção de desenhar planos e estratégias contra a corrupção tem os seus limites, “a menos que qualquer político passe a andar com uma câmara para vermos tudo o que ele faz a toda a hora, o que me parece irrealista”.

Duarte Pacheco concorda com o impacto positivo que o reforço da transparência tem motivado. “Tudo aquilo que tem vindo a ser feito tem contribuído para que o escrutínio seja tão grande que as pessoas, mesmo aquelas que eventualmente pudessem querer cometer esse tipo de crime ou estivessem disponíveis para isso, tenham-na muito menos”, reconhece o antigo parlamentar do PSD.

O papel dos cidadãos

Para lá do plano político, o combate à corrupção tem de passar pelos cidadãos, sustentam os comentadores do programa Casa Comum.

Vieira da Silva apela a uma ação “sobre todas as dimensões, porque se alguém é corrompido, então alguém corrompe”.

O antigo deputado do PSD vai mais longe e defende que os cidadãos não podem estar a exigir mais aos políticos que a si próprios.

“O cidadão está na rua a dizer que os políticos ‘são isto ou são aquilo’, quando eles próprios já notificaram esses esquemas. Portanto, devem pôr a mão na consciência antes de criticar os outros que também fazem”, conclui Duarte Pacheco na Renascença.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+