26 fev, 2025 - 17:59 • Susana Madureira Martins
O ministro da Presidência, António Leitão Amaro, recusa a hipótese de o Governo ou o próprio primeiro-ministro virem a pedir um parecer à Procuradoria-Geral da República (PGR) para apurar um eventual conflito de interesses relacionado com a empresa de Luís Montenegro, criada em 2021.
Questionado sobre essa possibilidade, na habitual conferência de imprensa após o Conselho de Ministros, Leitão Amaro disse que “era só o que faltava, que, havendo autoridades para fiscalizar as declarações, que é a Entidade para a Transparência, deveres claros na lei, que devem ou não ser cumpridos, que toda a gente disse que estavam cumpridos, que agora se criasse e inventasse a intervenção de mais entidades com poderes de interpretação jurídicos, de cumprimento de deveres legais que não são vinculativos”.
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Leitão Amaro acrescentou que “nunca ninguém disse que estão em causa temas de legalidade ou legitimidade legal” e que “existem autoridades para avaliar as declarações e, depois, regras sobre as decisões”, ou seja a Entidade para a Transparência.
O Governo recusa, assim, um mecanismo que chegou a ser usado em 2019, pelo então primeiro-ministro António Costa, para aferir sobre as incompatibilidades ou não de negócios de familiares de ministros do seu executivo. Na altura, a PGR acabou por concluir pela inexistência de incompatibilidades e o parecer passou mesmo a valer como interpretação oficial por parte dos serviços da Administração Pública.
Sobre alegados conflitos de interesse em torno da aprovação da lei dos solos e a empresa da família do primeiro-ministro, Leitão Amaro salientou que os deputados, “todos eles, como pessoas individuais, podem comprar e vender solos rústicos. Estão em conflitos de interesse? Estão ou não estão, quando decidiram?” questionou Leitão Amaro.
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Para Leitão Amaro, os conflitos de interesses, “como mandam as regras da lei portuguesa e os códigos, incluindo o deste Governo, avaliam-se não em abstrato e num critério vazio, mas avaliam-se em concreto e com uma ponderação de razoabilidade”, considerando que “boa parte desta discussão está na mesma linha da razoabilidade e da avaliação em concreto sobre conflitos de interesses”.
O ministro da Presidência deu mesmo o exemplo de “todos” os deputados que esta quarta-feira votaram a lei dos solos que considera que “estão na mesma circunstância de potenciais compradores de imóveis rústicos que qualquer entidade privada”.
Leitão Amaro deu ainda o exemplo de legislação aprovada pelo Conselho de Ministros: “Aprovámos para consulta pública o novo regime de mobilidade elétrica. Estamos nós em conflito de interesses se tivermos ou um dia pudermos vir a ter um veículo elétrico?”.
O ministro da Presidência questiona ainda se “qualquer pessoa que se pronuncie e que tenha votado no novo regime da mobilidade elétrica está em conflito de interesses, porque potencialmente um dia pode vir a comprar um veículo elétrico e beneficiar com um mercado mais competitivo, com preços mais baixos? Ou o raciocínio dos conflitos de interesses não é abstrato, mas é com critério de razoabilidade e avaliado em concreto?”
“Há ou não há conflito de interesses quando um Governo ou um Parlamento decide baixar os impostos? Porquê? Porque todos os governantes, se for o IRS, pagam IRS. Todos os deputados pagam IVA nas compras que fazem”, disse ainda.