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Trump. Marcelo alerta para “deslizar da democracia para a ditadura”

26 fev, 2025 - 18:22 • Fábio Monteiro com Lusa

Chefe de Estado criticou esta quarta-feira as novas regras da Casa Branca para a comunicação social. A partir de agora, será o executivo a selecionar os membros do pequeno grupo de jornalistas, fotógrafos e operadores de câmara que acompanham o presidente nos seus eventos.

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O chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, criticou esta quarta-feira o Presidente norte-americano, Donald Trump, pelas regras da Casa Branca para a comunicação social e alertou para "o deslizar da democracia para a ditadura".

O Presidente da República falava na Casa da Imprensa, em Lisboa, na sessão de abertura de um debate sobre a Lei de Imprensa de 1975, publicada há 50 anos, que consagrou a proibição de qualquer forma de censura.

"Não se sabendo o que é a ditadura, não se compreende o risco da ditadura e não se compreende o risco das rampas deslizantes das democracias para as ditaduras. E, no entanto, hoje basta abrir as televisões -- já não falo nas redes sociais -- para assistirmos em países democráticos dos mais fortes ao que é o deslizar da democracia pela ditadura", afirmou.

Referindo-se a Donald Trump, Marcelo Rebelo de Sousa acrescentou: "Quando o Presidente da mais antiga e mais reputada como forte democracia acaba de hoje fazer saber quais são os jornalistas autorizados a colocarem-lhe perguntas nas conferências de imprensa, nos encontros, no centro do poder, está tudo dito".

"Está tudo dito", repetiu.

O chefe de Estado criticou as novas regras da Casa Branca para a comunicação social, comentando que "só falta, verdadeiramente, que o chefe do executivo desse país faça as perguntas" ele mesmo, para então "dar as respostas que quer dar".

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, "a partir deste momento, ninguém, verdadeiramente, respeitando os códigos éticos, se sente bem participando numa conferência de imprensa, num encontro com responsáveis do poder de uma democracia, sabendo que só ele, e não os outros que estão na sala, têm autorização para colocar perguntas".

"Os jornalistas passam a ser invisíveis. Podem estar lá, mas é figura de corpo presente. Não estão", considerou.

Casa Branca impõe novas regras à comunicação social

A Casa Branca anunciou na terça-feira novas regras para a comunicação social, passando a decidir que jornalistas podem fazer perguntas ao Presidente norte-americano, Donald Trump, tarefa que até agora cabia exclusivamente à Associação de Correspondentes da Casa Branca (WHCA).

A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, anunciou que, a partir de agora, será o executivo a selecionar os membros do pequeno grupo de jornalistas, fotógrafos e operadores de câmara que acompanham o presidente nos seus eventos e transmitem a informação a milhares de outros jornalistas interessados.

“A partir de agora, a equipa de imprensa da Casa Branca determinará quem faz parte da pool da imprensa”, declarou Karoline Leavitt.

Durante quase um século, a tradição na Casa Branca tem sido que seja uma pool de jornalistas a fazer a cobertura da agenda do Presidente, uma vez que não há espaço suficiente para as centenas de jornalistas que querem acompanhar os seus eventos na Sala Oval, noutras salas onde discursa ou mesmo no avião presidencial Air Force One.

A seleção dos jornalistas com acesso a essa pool é tradicionalmente da responsabilidade da White House Correspondents Association (WHCA), fundada em 1914 por jornalistas, em resposta a um rumor infundado de que uma comissão do Congresso queria decidir quais os repórteres que podiam assistir às conferências de imprensa do então Presidente, Woodrow Wilson (1913-1921).

O trabalho da WHCA tem sido defender um maior acesso para as centenas de jornalistas que cobrem a Casa Branca, perante as tentativas de diversos Governos para o restringir. Além disso, seleciona, através de um processo rigoroso, os membros da pool que estão autorizados a assistir aos eventos presidenciais e que agem como os olhos e os ouvidos dos restantes jornalistas.

O grupo de jornalistas que acompanham o Presidente é normalmente composto por 13 a 14 pessoas, embora em alguns casos possa chegar a 20. Dentro deste grupo, há jornalistas, designados como poolers, para diferentes meios de comunicação: um para a imprensa escrita, um para a rádio e outros para a televisão.

Os pormenores das mudanças anunciadas pela Casa Branca ainda estão por definir e desconhece-se como serão postas em prática.

Este anúncio ocorre num contexto de confronto de Trump com a agência de notícias norte-americana, The Associated Press (AP), à qual o Governo restringiu o acesso à pool, impedindo-a de fazer perguntas a Trump, devido à sua decisão de continuar a chamar Golfo do México ao Golfo do México, ao invés de adotar a nomenclatura decidida pelo chefe de Estado, “Golfo da América”.

A AP interpôs uma ação em tribunal, argumentando que a decisão de Trump viola o direito à liberdade de imprensa consagrado na Primeira Emenda da Constituição. No entanto, um juiz decidiu na segunda-feira que o Governo poderá continuar a vetar o acesso à agência noticiosa, embora lhe tenha pedido que reconsiderasse a sua decisão.

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