08 mar, 2025 - 16:02 • Daniela Espírito Santo
[Notícia atualizada às 16h52 de 8 de março de 2025 para acrescentar mais declarações de Luís Montenegro]
O primeiro-ministro não recua na moção de confiança. Quem o garante é o próprio Luís Montenegro que, este sábado, garantiu que não tem alternativa.
Num discurso durante um almoço de celebração do Dia da Mulher, na Maia, Montenegro assume que não lhe parece haver alternativa a eleições antecipadas, como forma de "evitar que Portugal seja um país envolto em lama".
"A minha responsabilidade é evitar que as instituições portuguesas sejam corroídas pela irresponsabilidade de quem quer manter o espaço público permanentemente enlameado", assegura, admitindo não ver alternativa a novas eleições.
"A minha responsabilidade - e parece que não há alternativa a isso, é devolver aos portugueses a capacidade que só eles têm de escolher o que querem para Portugal", reiterou.
"Nunca foi o meu desejo, nunca foi e tenho a noção que os portugueses nem sequer percebem porque é que isso vai acontecer, mas eu tenho a obrigação, pela responsabilidade que me está confiada, de saber antecipar os problemas", continuou, rejeitando a hipótese de que o país viva "um ano ou um ano e meio de instabilidade quando pode resolver a instabilidade em dois meses".
Criticando o "oportunismo político", diz-se escrutinado como ninguém. "O que não vejo ninguém dizer é que este país está hoje melhor do que estava há um ano", assegura, avançando estar "pronto" para voltar a ser avaliado pelos portugueses. "Como eu não vejo ninguém dizer isso, eu vou dizer ao país e o país vai dizer se é isso que quer ou se é outra coisa que quer", admite, em jeito de pré-campanha e com gritos de "PSD" a ecoarem pela sala.
"Eu respondo pelo trabalho que fiz e eu respondo pelo trabalho que estou a fazer", remata, voltando a repetir que, na terça-feira, o Parlamento vai decidir se o Governo tem condições para governar e, se não tiver, "os portugueses serão chamados a intervir".
Durante o discurso, o primeiro-ministro voltou a defender-se do caso Spinumviva, que originou duas moções de censura e uma de confiança, garantindo que assume "as responsabilidades" mas é um "cidadão igual aos outros".
"Imputam ao primeiro-ministro alguma ilegalidade? Parece que não. Imputam ao primeiro-ministro algum comportamento ilícito? Também não. Parece que o primeiro-ministro tem a responsabilidade de ter trabalhado", criticou.
"Não me parece que fique mal ao primeiro-ministro ter trabalho, que possa dizer em que é que trabalhou e que tenha decidido que uma parte do trabalho que lançou possa ser legado para membros da sua família. Acho que o primeiro-ministro não fez nem mais nem menos do que faz qualquer português", assegurou o líder do PSD, que fala em "notícias que surgem enviesadas, com erros, com incorreções, muitas vezes até com falsidades". "Em cima disso muito se apressam a replicar notícias, a fazer delas verdades absolutas", lamenta, falando em "oportunismo político".
Repetindo alguns dos argumentos que tem utilizado nas últimas semanas, considera "absurdo" que haja quem acredite que falhou na exclusividade pedida do cargo que exerce no Governo.
"Alguém imagina que o primeiro-ministro possa ter estado no Governo e a fazer outra coisa ao mesmo tempo? Como é que é possível alguém dizer, sem fundamento, que o primeiro-ministro esteve a ser avençado por quem quer que seja?", questiona, garantindo estar "pronto" para responder aos portugueses.
"Estou pronto. Estou pronto para ir terra a terra, português a português, responder por tudo aquilo que tenho de responder. Estou pronto para explicar que jamais estive no Governo que não em exclusividade", diz, lamentando que o escrutínio a que tem sido sujeito se foque nele e não no que o Governo está a fazer pelo país.
"Não me recordo de alguém que tenha sido escrutinado ao nível que eu já fui", assegura, queixando-se de ser acusado de não responder à oposição.
"Tenho feito as minhas intervenções e tenho estado disponível para responder às questões que me são colocadas, dependendo dos respetivos contextos. Do ponto de vista político, foi comigo que regressaram os debates quinzenais", reforçou, garantindo achar "insólito" que o acusem de falta de respostas, uma vez que, só nos últimos quinze dias, compareceu "no parlamento para responder a duas moções de censura".
"Ouvir, como tenho ouvido, que o primeiro-ministro não responde aos partidos políticos é assim uma coisa estranha".
Diz o mesmo sobre os jornalistas, garantindo que é "perfeitamente normal" optar, em "muitas ocasiões", por "remeter posições para as intervenções políticas" que faz, em vez de responder diretamente. "Tenho muito respeito pelos jornalistas e tenho interagido em muitas ocasiões, mas em muitas outras também tenho optado por remeter as minhas posições para as intervenções políticas que faço e isso é perfeitamente normal", assegura, numa intervenção onde se recusou a falar aos jornalistas antes e depois do evento.