10 mar, 2025 - 10:14 • Daniela Espírito Santo
O ministro da Presidência, António Leitão Amaro, anunciou que o Governo está a preparar, em parceria com empresas, medidas para agilizar a integração de migrantes no nosso país.
"Temos estado a negociar com as confederações patronais um pacote que chamamos de obtenção acelerada de vistos", começa por explicar. Para Leitão Amaro, a migração económica no pais "deve ser migração laboral" e "deve vir com responsabilidade dos empregadores".
"A integração deve ser um dever coletivo, mas também das empresas que precisam destes trabalhadores", defende o ministro, que pede a quem quer empregar estrangeiros para assumir "compromissos de interesse", como contratos de trabalho, mas também, por exemplo, iniciativas para "o ensino da língua" e "alojamento em condições adequadas".
"Se entendermos que há certos setores que precisam de mais mão de obra as empresas que os vão empregar devem ser parceiras do Estado e da sociedade", admite, defendendo que as empresas que precisam de contratar migrantes sejam "corresponsáveis pelo seu processo de integração".
Em paralelo, o ministro da Presidência insistiu, igualmente, na necessidade dos imigrantes respeitarem os valores da sociedade portuguesa, para que o país não caia nos extremos do ódio e da intolerância. "A imigração tem de ser feita de direitos e deveres", diz, considerando que, quem chega, tem de garantir "o respeito dos direitos humanos e dos valores constitucionais", mas também assumir um "compromisso de integração na sociedade portuguesa".
"Esses valores devem ser respeitados por todos, como a dignidade da pessoa humana, das mulheres, das crianças... Valores que devem ser exigidos a todos os que escolhem Portugal para viver", diz.
O Estado também tem responsabilidades nesse processo de integração, em várias vertentes, como o "acesso à educação". "Mais do que triplicamos o número de estudantes nas escolas portuguesas", assegura Leitão Amaro, assumindo que ter "170 mil estudantes estrangeiros no presente" é uma "mudança muito desafiante para as escolas".
Foram contratados "mediadores socioculturais nas escolas" para ajudar estes alunos, porque, defende, "precisamos de dar verdadeira igualdade a estes estudantes estrangeiros". "As escolas são o melhor instrumento para a integração de quem vem de fora", admite.
"É tão importante regular a entrada como dar condições boas a quem chegar", admite, defendendo uma "nova política de imigração" com duas dimensões: "regulação e humanismo".
Para o ministro da Presidência estamos a viver um "momento profundamente transformador para Portugal". A participar à distância (por "culpa" do conselho de ministros) na conferência “Imigração: o desafio da proximidade", que decorre em Vila Nova de Gaia, Leitão Amaro defendeu que o país será, a nível europeu, o país com "maior choque demográfico" nos últimos anos.
"Até 2019 e durante muito tempo Portugal estava na Europa entre os países com imigrantes em número limitado e com uma história relativamente inalterada", diz o ministro, salientando que houve, nos últimos anos, uma "mudança significativa nos números e nas origens".
"Um aumento tão rápido causa, naturalmente, muita pressão e até sentimentos de intranquilidade na população residente", explica.
"Isto em si é um desafio, especialmente quando é uma evolução muito rápida", diz, lamentando que tenha acontecido precisamente numa altura em que "o Estado desmantelou a sua grande agência de imigração, o SEF", "de forma rápida e impreparada".
"Estamos conscientes de que a situação que recebemos era uma situação de descontrolo, desregulada", admite, situação que exigia, "uma resposta moderada".
Falando de quem veio substituir o SEF, a AIMA, Leitão Amaro adianta que centenas de milhares de pedidos "já estão a andar" para "dar a estas pessoas a primeira condição em Portugal, que é a de estarem regulares". "Era necessário dar dignidade", admite, acreditando que isso também traz outras vantagens. "Regularizar também significa saber quem está, o que faz e onde está no território".
Nesse campo, era, entende, preciso encerrar a "manifestação de interesse", por mais "benevolente que possa ser sido a sua criação", pois "tornou-se uma solução errada, única na Europa".
"Era uma porta que tinha de ser fechada e não deve ser reaberta naqueles termos", assevera, atirando mais uma crítica, desta feita à "coligação negativa" que impediu a criação de uma polícia de fronteiras na PSP - chumbada por PS e Chega - e que deixou o Estado "coxo".
Neste momento que o país vive, e para Leitão Amaro, "aquilo que se pede a governantes responsáveis é que evitem correr para um dos extremos da resposta de políticas públicas". Ou seja, quem governa não pode dizer que "não há nada a fazer" e que "o sistema autoregula-se", mas também não pode dar espaço ao "discurso de ódio, da negação, da rejeição".
"Qualquer dos extremos faz a situação pior. A porta completamente escancarada ou totalmente fechada... qualquer uma das duas resulta pior para imigrantes e residentes", acredita. Leitão Amaro defende, por isso, que a política de imigração tem de ser “tão firme quanto moderada” para evitar extremos.
"A imigração pode ser boa para o país se regulada com eficácia e com uma integração que seja humanista. Ainda o podemos fazer em tempo de o fazer bem", remata.
[Notícia atualizada às 13h15 de 10 de março de 2025 para acrescentar mais citações]