13 mar, 2025 - 22:28 • José Pedro Frazão
Na declaração de voto que entregou no Parlamento, na moção de confiança desta semana, o socialista Fernando Medina defendeu que a realização de novas eleições - as terceiras legislativas em quatro anos e as quartas eleições parlamentares em seis anos - "agravará os níveis de confiança dos portugueses na política e nos políticos".
O antigo ministro das Finanças votou contra a moção de confiança apresentada pelo Governo, mas alerta, na declaração de voto a que a Renascença teve acesso, para a possibilidade de os políticos poderem "aparecer desfocados dos mais centrais problemas" dos cidadãos.
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"Sendo impossível qualquer antecipação do que possam vir a ser os resultados concretos neste contexto, é razoável antever que as relações entre blocos direita/esquerda no parlamento possa não sofrer alteração significativa, o que levará a que a nova solução governativa que emergirá possa continuar a enfermar de profundas fragilidades políticas ou, pior, fique nas mãos da extrema-direita", escreve Fernando Medina na declaração de voto.
Medina acentua que a atual crise política deixa Portugal "praticamente sem voz no quadro europeu por vários meses, agravando aquela que tem sido uma tendência da presente governação", assinalando que durante as próximas semanas vão ser tomadas "importantíssimas decisões" que afetarão o futuro de Portugal "certamente por algumas décadas".
Crise política
Numa declaração ao país, o Presidente da República(...)
"São exemplo o forte reforço do investimento em defesa e das escolhas que o mesmo imporá, nas decisões sobre o próximo alargamento, ou na redefinição profunda dos instrumentos de financiamento das políticas da União (onde se inclui a política de coesão)", alerta o antigo titular da pasta das Finanças na sua declaração escrita.
Insistindo que a situação política é prejudicial ao país, Fernando Medina adverte que não é possível assegurar "uma governação coerente, dirigida aos problemas centrais do país e com força para enfrentar os fortes bloqueios que qualquer reforma efetiva sempre enfrenta" com governos que duram em média menos de dois anos.
Medina critica as estratégias assumidas de ciclos curtos de governação - "como aconteceu com o atual" Governo, ressalva - por levarem a uma ação política "que tende a ser mais popular, de maior efeito e de menor dificuldade". Para o deputado socialista, esta estratégia representa uma permanente tentativa de melhoria da posição do Governo nas sondagens, para tentar "atrasar a sua queda".
O antigo ministro do Governo de António Costa afirma que "devia-se ter feito mais" para evitar as eleições de maio. Medina conclui que a crise política era "claramente evitável" e resulta de decisões de Luís Montenegro "aquando da sua tomada de posse e depois ao longo deste último mês, designadamente quanto à manutenção da empresa, ao timing, forma e conteúdo da comunicação".
Ao terceiro episódio, terminou a coexistência do n(...)
A este facto, Medina junta a decisão do primeiro-ministro de avançar com uma moção de confiança "num quadro que sabia ser da sua rejeição".
O deputado do PS lembra a "larguíssima experiência política" de Montenegro "que não ignoraria que uma vez nomeado seria sujeito ao escrutínio mais profundo e necessário numa democracia", tendo que dar resposta também a acusações injustas e indignas.
"As eleições não substituem a resposta às questões, a todas as questões, das mais legítimas e necessárias às mais absurdas e mal-intencionadas", escreve Medina na sua declaração de voto.
O antigo ministro e ex-autarca de Lisboa, que recentemente viu arquivadas suspeitas no caso Tutti-Frutti, sustenta ainda que a atual crise "demonstrou como o debate político assente em suposições, insinuações e até calúnias continua a ganhar relevância na nossa vida política". O antigo ministro diz que esse clima vai corroendo "alicerces fundamentais da convivência e disputa democrática", responsabilizando cada um por "ações concretas" para reverter este caminho.