17 mar, 2025 - 06:30 • Manuela Pires
A crise política começou em janeiro de 2024 quando a Polícia Judiciária realiza mais de uma centena de buscas, numa investigação que envolve suspeitas de corrupção, abuso de poderes e tráfico de influências.
O presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque, foi constituído arguido e só se demite do cargo, cinco dias depois, quando o PAN ameaça retirar o apoio parlamentar necessário à maioria absoluta.
O Presidente da República dissolve a Assembleia Legislativa e convoca eleições para 26 de maio de 2024, 8 meses depois das últimas eleições.
O PSD vence as eleições, mas perde deputados e apesar do acordo com o CDS fica a três mandatos da maioria absoluta. O programa de Governo é viabilizado pelo Chega, que elegeu 4 deputados, mas em novembro apresenta uma moção de censura que é aprovada e dita a queda do executivo de Miguel Albuquerque a 17 de dezembro.
O Chega justifica a censura com as investigações judiciais que envolvem o chefe do Governo e mais quatro secretários regionais, todos constituídos arguidos. Já depois da queda do Governo o inquérito a um dos governantes, Eduardo Jesus, é arquivado pelo Ministério Público.
É a primeira vez que um Governo na Madeira é demitido na sequência da aprovação de uma moção de censura. O Governo de Miguel Albuquerque constituído a 6 de junho está em funções até à posse da nova equipa.
As eleições de 23 de março são as terceiras em apenas um ano e meio.
Desde 1976 que a Região Autónoma da Madeira só conheceu três presidentes de governos regionais, o primeiro foi Jaime Ornelas Camacho, que governou de 1976 a 1978 sendo substituído por Alberto João Jardim a meio do mandato.
O antigo líder regional fica no poder durante 37 anos e em 2015 Miguel Albuquerque vence as eleições e mantém a maioria absoluta. Quatro anos depois o PSD perde pela primeira vez a maioria dos deputados na assembleia legislativa e faz um acordo pós-eleitoral com o CDS.
A partir daí o PSD não consegue estancar a perda de votos e em 2023, mesmo concorrendo em coligação com o CDS- PP fica a um deputado da maioria e faz um entendimento com a deputada única do PAN.
Oito meses depois, em maio de 2024, a queda é ainda maior e o PSD concorre sozinho e consegue apenas 19 deputados, faltam cinco para a maioria absoluta.
O ano de 2015 foi o último em que o PSD conseguiu a maioria absoluta na primeira eleição de Miguel Albuquerque. A partir daí o partido que sempre governou a região teve sempre de fazer acordos para garantir a maioria de 24 deputados. Em 2019 Albuquerque faz acordo pós-eleitoral com o CDS e quatro anos depois concorrem em coligação, mas ficam a um deputado da maioria e é a deputada única do PAN que durante poucos meses assegura a maioria.
Segundo a última sondagem, o PSD vence sem maioria e PS e JPP surgem em segundo e terceiro lugares. Desde que assumiu a liderança do PS Madeira, Paulo Cafôfo tem defendido a necessidade de fazer um acordo com outros partidos para tirar Miguel Albuquerque do poder. O Partido Socialista insiste na mensagem de que é necessário “convergir o voto no PS” e já fez saber que um entendimento pode ser feito com todos os partidos, só ficam de fora o Chega e o PSD.
O Juntos Pelo Povo, o terceiro maior partido da região, aposta também num entendimento e até o CDS diz que estará disponível para falar com todos.
Se nas últimas eleições, Albuquerque conseguiu o apoio do Chega para viabilizar o programa do Governo, desta vez será difícil contar com o apoio do partido e Miguel Castro.
A governabilidade na Madeira é incerta e todos os votos contam, mas só no domingo à noite se pode começar a fazer o puzzle de possíveis coligações.
O PSD na Madeira já avisou que não precisa de Luís Montenegro na campanha eleitoral, e Miguel Albuquerque explicou que “só os partidos fracos é que precisam de bengalas. Nós não precisamos porque o PSD da Madeira sempre teve autonomia”.
Luís Montenegro não vai à Madeira e o PSD, sabe a Renascença, não tem previsto, até este momento, enviar qualquer dirigente à campanha regional.
No Partido Socialista, Pedro Nuno Santos esteve há duas semanas no Funchal, no encerramento do congresso do PS, e estava previsto ir à campanha, mas, segundo uma fonte do partido disse à Renascnça, a crise política e a dissolução do Parlamento podem inviabilizar a presença do líder ao lado de Paulo Cafôfo.
O líder regional desvaloriza: "O líder do meu partido tem vindo inúmeras vezes à Madeira, ao contrário do líder nacional do PSD" referiu Paulo Cafôfo este sábado.
Nos outros partidos, Rui Rocha passou este fim de semana na Madeira ao lado do novo líder regional da Iniciativa Liberal, Gonçalo Maia Camelo.
O secretário-geral do PCP esteve já na sexta-feira na Madeira e regressa na última semana para estar três dias, 18, 19 e 20, ao lado do cabeça de lista Edgar Silva que, nas últimas eleições não conseguiu ser eleito e a CDU ficou fora do Parlamento.
Também o Bloco de Esquerda tenta regressar ao parlamento regional e Mariana Mortágua que esteve no primeiro dia de campanha num almoço comício regressa à Madeira na próxima quinta e sexta-feira. Rui Tavares, do Livre, participou em duas iniciativas no arranque da campanha.
André Ventura, o líder do Chega junta-se a Miguel Castro na reta final da campanha eleitoral.
Nas eleições de 23 de março concorrem 12 partidos e duas coligações, CDU (PCP/PEV) e Força Madeira (PTP/MPT/RIR).
A maioria das forças políticas repete o candidato que apresentou em 26 de maio de 2024, à exceção da Iniciativa Liberal, que concorre com Gonçalo Maia Camelo, o coordenador regional do partido. A Nova Democracia que se estreia em eleições regionais avança com Paulo Azevedo e o PPM, tem como cabeça de lista, o líder regional do partido, Paulo Brito.
Os restantes partidos repetem os candidatos das regionais de 2024; Miguel Albuquerque (PSD), Paulo Cafôfo (PS), Élvio Sousa (JPP), Miguel Castro (Chega), José Manuel Rodrigues (CDS-PP), Mónica Freitas (PAN), Edgar Silva (CDU), Roberto Almada (BE), Marta Sofia (Livre) e Miguel Pita (ADN).
Em maio de 2024 foram eleitos 47 deputados de 7 partidos: o PSD elegeu 19 deputados, o PS manteve 11 deputados, o JPP subiu de 5 para nove, o Chega elegeu quatro, mas perdeu uma deputada que passou a não inscrita. O CDS conseguiu dois e o PAN e a IL mantiveram um cada. A CDU e o BE perderam representação parlamentar.
No total, as candidaturas estão a prever gastar mais de um milhão de euros, entre comícios, cartazes, brindes e comunicação.
De acordo com os orçamentos divulgados na Entidade das Contas e Financiamentos Políticos, o PSD lidera a lista com 319 mil euros, o PS 150 mil, o CDS, o Chega e o JPP rondam os 100 mil de gastos com a campanha eleitoral. Segue-se a CDU com 75 mil euros, a Iniciativa Liberal 55 mil, a Nova Direita com 50 mil e o Bloco de Esquerda com 40 mil euros. A coligação Força Madeira (PTP/MPT/RIR) prevê gastar 3.500 euros nesta campanha eleitoral.