18 mar, 2025 - 07:00 • Manuela Pires
O presidente da Assembleia legislativa da Madeira e líder do CDS-PP na região, partido que nos últimos anos tem feito acordos com o PSD, revela à Renascença que, em nome da estabilidade política, está disponível para chegar a acordo e viabilizar um governo liderado pelo Partido Socialista e pelo Juntos Pelo Povo, a terceira força política na região. Leia a entrevista completa a José Manuel Rodrigues.
A campanha eleitoral já entrou na segunda semana. No contacto com a população, sente que os madeirenses estão disponíveis para ir votar mais uma vez, ou estão cansados da instabilidade política?
Eu acho que os madeirenses estão zangados com a política e com os políticos, eu próprio estou zangado e vejo que as pessoas não estão muito motivadas para ir às eleições. Tenho tentado inverter esta situação através do apelo ao voto, explicando que houve uma incapacidade do PSD para gerir os seus problemas com a justiça, para gerir as suas divisões internas e também para dialogar com os partidos de oposição.
Mas o governo caiu com uma moção de censura?
Sim e da parte da oposição houve também uma irresponsabilidade total, porque a esquerda uniu-se à extrema-direita para derrubar o Governo, que tinha poucos meses, e deixaram a Madeira sem orçamento e sem plano de investimentos.
Para José Manuel Rodrigues, que é também o preside(...)
O que eu desejo é que a abstenção, obviamente, não seja tão grande quanto aquela que eu antevejo.
O CDS já foi a principal força de oposição ao PSD, mas nos últimos anos fez acordos e foi a eleições coligado com o PSD. Os madeirenses conseguem perceber que há aqui dois partidos muito diferentes?
Eu acho que os madeirenses entendem que há dois partidos diferentes, mas há dois partidos que entenderam a mensagem que foi transmitida em maio nas eleições. Quando o povo não dá maioria absoluta a um só partido, está a transmitir uma mensagem a todos, no sentido de se entenderem, de negociar e conversar para chegar a entendimentos — negociem, conversem, cheguem a entendimentos, para termos um Governo para quatro anos. Acho que os partidos não perceberam isso, nem o PSD nem os outros.
É por isso que eu digo que o CDS foi o único partido que teve sentido de responsabilidade em toda esta crise política.
Mas o que o diferencia o CDS do PSD na Madeira?
As propostas e soluções que apresentamos nesta campanha. O PSD continua a manter uma carga fiscal muito elevada, não percebe que é preciso controlar a inflação, porque senão este imposto escondido está a engolir a valorização dos salários. É necessária uma melhor redistribuição da riqueza que é gerada na Madeira para não termos tantas desigualdades sociais que fazem com que cerca de 70 mil pessoas estejam em situação de risco de pobreza, sendo que destas 17 mil trabalham, mas não dá para pagar as suas despesas básicas.
Falou no cenário de governabilidade, mas desde 2023 que o PSD está a perder votos e nas últimas eleições não conseguiu fazer acordos para garantir maioria absoluta.
Nas eleições do próximo domingo o CDS está disponível para se entender com o PS e JPP no sentido de formar uma maioria?
O CDS está disposto a falar com todos os partidos depois de o povo expressar a sua vontade após as eleições, na certeza de que não haverá a maioria absoluta de um só partido.
Dez meses depois das últimas eleições antecipadas,(...)
Nós estamos dispostos a chegar a acordos e entendimentos que permitam dar estabilidade política e governabilidade à Madeira, mas não facilitando nem com os extremistas e populistas de esquerda, nem com os de extrema-direita e muito menos ferindo os princípios ideológicos do centro e direita que são defendidos pelo CDS bem como as soluções e propostas que nós temos para a madeira.
Com o Chega não haverá qualquer entendimento …
Nós estamos dispostos a discutir com todos …
Mas não há linhas vermelhas com o Chega?
Eu não tenho linhas vermelhas de discussão, de me sentar à mesa, seja com quem for, desde que esteja legitimado eleitoralmente, agora chegar a um acordo com partidos extremistas e populistas quer de direita quer de esquerda acho isso muito difícil.
Não esqueço que o CDS é um partido centro-direita e, portanto, partirei para essas negociações com este espírito defendendo o nosso projeto ideológico.
Mas em nome da estabilidade política, para que a Madeira não vá todos os anos a eleições, o CDS está disponível para viabilizar um governo que junte o PS e o JPP?
O CDS não se vai opor a que se forme um governo, seja de que área política for, para dar estabilidade política e governabilidade à Madeira desde que o projeto desse governo não vá ferir os princípios democratas cristãos do CDS e contemple algumas das ideias e propostas e soluções que temos vindo a apresentar ao eleitorado em termos políticos, económicos e sociais.
Quais são as medidas prioritárias que devem integrar um programa de governo apoiado pelo CDS?
Em primeiro lugar, uma grande negociação com o Estado para ampliar a autonomia numa futura revisão da Constituição, bem como o Estatuto Político e Administrativo da região.
O centrista, que foi indicado pelo PSD depois de t(...)
Em segundo lugar, uma nova Lei de Finanças das Regiões Autónomas que assegure que o Estado cobre os custos de insularidade designadamente, as matérias também relacionadas com os seus setores da educação e da saúde.
Em terceiro lugar, reformar o sistema político regional, introduzindo mais transparência e mais ética, criando um novo sistema de incompatibilidades, parecido com o nacional, e também um registo de interesses que não existe neste momento na Madeira.
Em quarto lugar, é preciso manter, obviamente, as taxas de crescimento económico e depois criar um conjunto de apoios para os jovens, designadamente no acesso à primeira habitação, a criação de um salário de referência para os jovens licenciados quando entram no mercado de trabalho, uma ideia inovadora do CDS.
Por último, o CDS tem medidas para proteger os mais idosos porque o envelhecimento da população lança novos desafios e exigências ao sistema regional de saúde. Nós temos cerca de 1500 pessoas à espera de um lar e outras que precisam de ser apoiadas e é preciso fazer um grande investimento nas unidades de saúde, designadamente reconvertendo os atuais hospitais públicos em unidades de apoio aos idosos, quer lares, quer cuidados continuados, quer cuidados especializados quando a nova unidade hospitalar entrar em funcionamento.
De que forma é que a crise política no Continente pode afetar a campanha e as eleições regionais?
Eu só lamento que a loucura política que se desencadeou aqui no meio do Atlântico se tenha estendido a Lisboa. Mas penso que a pré-campanha eleitoral continental não terá interferência no resultado das eleições regionais.