19 mar, 2025 - 07:00 • Manuela Pires
Paulo Cafôfo diz que quem vai decidir o resultado das eleições de domingo são os indecisos “que nunca votam no PSD”.
Em entrevista à Renascença, o líder do PS Madeira lembra que foi ele quem conseguiu em coligação vencer a câmara do Funchal e propõe agora um entendimento alargado de partidos da oposição, sem o Chega, para tirar o PSD do poder.
Já segue a Informação da Renascença no WhatsApp? É só clicar aqui
O candidato socialista fala num acordo alargado de governo ou acordos de incidência parlamentar, que vão começar a ser negociados ainda na noite das eleições, e avisa o representante da República que deve dar tempo aos partidos para encontrarem uma solução que dê estabilidade governativa à região.
Na campanha eleitoral sente nas ruas que os madeirenses estão cansados e podem no próximo domingo fazer aumentar a abstenção?
Eu, sinceramente, acho que não, mesmo apesar destas eleições consecutivas, três em ano e meio. Talvez quando a moção de censura foi aprovada, houve esse sentimento, mas agora noto uma forte adesão às nossas ideias e às eleições, digo mesmo um entusiasmo no sentido de que vamos por um ponto final neste regime e na liderança do PSD.
De Miguel Albuquerque…
Sim, em três eleições há um denominador comum, que é precisamente Miguel Albuquerque. E isto acontece porque os casos de justiça onde ele é arguido em vários indícios de corrupção ativa e corrupção passiva. Mas são casos que envolvem metade do governo e até o secretário-geral do PSD Madeira. Foi isso que levou efetivamente a esta instabilidade, e enquanto ele não sair a instabilidade não passa, ou enquanto não for derrotado, como espero, agora nas urnas nestas eleições.
E eu acho até engraçado, Albuquerque dizer que o PSD é sinal de estabilidade. Mesmo na hipótese de ele vencer as eleições, estaríamos perante uma situação em que a justiça virá, com certeza, levá-lo, e o governo iria cair novamente.
As eleições antecipadas na Madeira ocorrem quando há também uma crise política no continente, com a queda de um Governo liderado pelo PSD, de Luís Montenegro. Essa crise vai ter impacto aqui na região?
Sinceramente, eu acho que a crise que acontece a nível nacional não irá ter influência nestas eleições regionais. Os eleitores acabam por distinguir aquilo que se passa a nível nacional do que se passa cá.
José Manuel Rodrigues acusa o PSD de Miguel Albuqu(...)
Mas pode beneficiar o Partido Socialista?
Há aqui um paralelismo que existe entre Miguel Albuquerque e Luís Montenegro, que é a falta de transparência. Miguel Albuquerque recusa-se a responder à justiça e Luís Montenegro, como se viu, numa fuga para a frente, em vez de aceitar a comissão parlamentar de inquérito, prefere arrastar o país para umas eleições antecipadas para não ter que responder às dúvidas sobre a sua empresa.
Considera que esta é a oportunidade que o PS tem para derrotar o PSD que governa a região há quase 49 anos?
Eu acho que esta é a vez do PS, porque não me parece que haja condições para uma maioria absoluta e julgo que estão criadas as condições, até por aquilo que nós sentimos na rua. Muitos militantes do PSD vêm ter comigo e dizem que vão votar no PS no domingo.
Isso mostra a divisão que há no PSD, no seu entender?
Sim, o PSD está dividido, aliás, como sabemos, o Miguel Albuquerque travou na secretaria um conselho regional extraordinário para convocar eleições internas, e, portanto, está claramente dividido, mas, enfim, esse é o problema deles.
Vamos colocar o cenário de no próximo domingo nenhum partido conseguir a maioria para garantir a governabilidade. O PS e o JPP estão a construir desde já uma base de entendimento para um acordo de governo?
O PS é um partido responsável, e como partido responsável estará sempre do lado das soluções, e nomeadamente de uma solução que garanta estabilidade e um governo duradouro.
Dez meses depois das últimas eleições antecipadas,(...)
Em primeiro lugar, a decisão não é dos partidos, mas sim dos eleitores, e neste momento, aquilo que me parece que vai decidir as eleições são os indecisos. Nós temos ainda uma larga faixa da população que está indecisa, e os indecisos nunca votam PSD. Um indeciso ou não vota e está a contribuir para a manutenção do PSD e, por isso, apelo a esses eleitores que esta é a hora de convergir para o PS.
Se não concentramos e convergimos votos no PS, para termos uma solução duradoura e estabilidade, a mudança torna-se difícil.
Nas eleições de maio do ano passado o PS elegeu 11 deputados e se o JPP mantiver os nove, ainda faltam quatro para a maioria absoluta. O CDS e a Iniciativa Liberal são possíveis parceiros?
Uma solução governativa, poderá passar por diversos tipos de entendimentos, coligação no governo, ou apoio parlamentar para passar o programa de governo e também o orçamento. Mas, como digo, esses cenários só se colocarão no dia 23 à noite. Para o Partido Socialista, está excluído qualquer entendimento com o PSD e com o Chega. Porque o Chega Madeira não quis, ou não queria, censurar o governo de Albuquerque e foi obrigado pelo André Ventura e, portanto, não tem qualquer autonomia, não tem qualquer capacidade de decisão regional.
Se está a adiar qualquer negociação para depois das eleições, vai precisar de tempo. O representante da República está disponível para esperar?
Em primeiro lugar, eu tenho experiência de coligações porque ganhei a Câmara Municipal de Funchal com uma coligação, e, portanto, eu diria que na região sou aquele que mais experiência têm de formação de coligações.
No processo negocial é preciso haver cedências através de negociações. E é preciso tempo. Nós não tivemos esse tempo nas eleições de 2024, porque antes mesmo dos resultados estarem homologados, o Sr. representante da República já tinha indigitado Miguel Albuquerque como presidente do governo regional.
Acredito que agora o Sr. representante da República irá dar o tempo necessário.