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Alberto João Jardim ficou impressionado com o Almirante: “Sintonizámo-nos muito bem. Tem uma grande cultura política”

24 mar, 2025 - 18:35 • Manuela Pires

Em entrevista à Renascença no dia seguinte às eleições regionais da Madeira, Alberto Joao Jardim diz que Miguel Albuquerque tem de saber aproveitar esta oportunidade única de união no PSD. Jardim fala do PSD como um partido que perdeu o ADN e ligado aos interesses económicos.

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ENTR ALBERTO JOAO JARDIM 23H

O PSD ficou a 300 votos da maioria absoluta nas eleições regionais deste domingo. Estava à espera deste resultado?

Apercebi-me que a coisa começou a ficar melhor no dia das próprias eleições, porque vi muita gente a votar que normalmente não via. Cheguei a estar preocupado porque, principalmente na área do PSD, via as pessoas virem-me perguntar como é que faziam ou até pessoas que me diziam: "Eu desta vez não voto, não estou para aturar isto."

Daí ter sentido a necessidade de vir apelar ao voto no PSD na última semana de campanha...

A primeira razão é que é preciso mais autonomia para a Madeira, sinto que precisamos de mais autonomia porque há uns absurdos ainda aí que não fazem qualquer sentido. Por exemplo, o avião, enquanto tem as rodas no ar, está sob a égide da República e assim que toca na pista, como os aeroportos são propriedade da região, aí já está sob a égide da região.

Por isso é que defendeu na noite das eleições o bloco central entre o PSD e o PS, para reforçar essa autonomia?

Ainda bem que falou no assunto, porque as pessoas não perceberam e não sabem explicar.

Eu disse que a Madeira precisa de mais autonomia, é preciso uma revisão constitucional para se ter mais autonomia. Vale a pena fazer um bloco central se o Partido Socialista aceitar um acordo de revisão da autonomia, nem que seja no caso das regiões autónomas.

Se não for para esse acordo, não há bloco central, isto é clarinho. Agora dizer que o Jardim defende o bloco central, isso é uma tontice. Defende um bloco central com uma determinada condição.

Mas o que é preciso fazer para aprofundar a autonomia?

A redefinição do domínio público da região porque está sempre a haver conflitos, o alargamento das competências legislativas, e eu explico porquê, a Constituição diz a região autónoma tem estas, estas e estas competências, como quem diz, a partir daí não tem competências mais nenhumas, e eu entendo que a metodologia constitucional deve ser ao contrário. Deve ser os poderes da República na região são estes e estes, e a partir daqui é com vocês, e ainda um sistema fiscal próprio, que é absolutamente fundamental.

Mas é possível esse bloco central com os atuais lideres partidários?

Desde o Passos Coelho e depois este Montenegro, e aquela rapaziada que está lá com ele na direção, mudaram o ADN do PSD. O PSD não é o partido de causas, é um partido muito mais ligado ao sector dos interesses económicos.

Até parece quase o líder do PCP a falar, o Paulo Raimundo diz sempre isso na Assembleia da República …

Nem sabia, mas não estou preocupado de ser igual seja quem for, estou preocupado em ser eu.

Voltamos às eleições aqui na Madeira. Ficou descansado com este resultado, à beira da maioria absoluta?

Fiquei mais confortado, mas como sabe, a minha visão da Madeira e do PSD da Madeira é completamente diferente. O líder do PSD Madeira tem agora um desafio pela frente, ele vai ter que provar que é um estadista. Ele conseguiu este resultado com o partido unido, tocaram-se as trombetas e toda a gente pôs a armadura.

Se ele vai continuar a alimentar e a fazer uma política de fação, a que ele chama renovação e nós chamamos de renovadinhos, se ele se mete outra vez por esses caminhos, está a perder uma oportunidade única, que foi a união que se gizou à volta dele e do partido para estas eleições.

Mas muitos dos votos no PSD não forma voto útil a pensar na estabilidade para governar?

Não, não, não, minha senhora, mas eu quando comecei a apelar ao voto, eu disse duas coisas, primeiro é preciso definir quem é o adversário principal que são todos aqueles que entravam a autonomia política dentro e fora do território.

Mas houve uma agravante na postura colonial contra a autonomia da Madeira, que foi aquela célebre operação militar em que as forças armadas sempre a dizer que coitadinhas não têm dinheiro e vieram com aviões militares, com um grande aparato, atacar políticos e atacar empresários.

Está a falar da operação da polícia judiciária em janeiro do ano passado…

Sim e depois tudo aquilo foi desmantelado e a instrução disse que não havia matéria nenhuma para pegar …

Mas se Miguel Albuquerque for acusado de corrupção, o que deve fazer?

Minha senhora, a justiça em Portugal está num estado tal, que só com um caso julgado é que eu acredito em alguma coisa.

Depois da Madeira há de novo eleições antecipadas marcadas para 18 de maio. Acha que o caso da empresa deveria ter chegado a este ponto de causar a queda do governo?

Está claro que não, está claro que não, mas tem que se ter muito cuidado quando se trabalha destas coisas, não pode haver hiatos, não estou dizendo que foram propositados ou que não foram, mas tem que haver muito cuidado. Agora, não se pode estar sempre a acusar uma pessoa que tem património de que o teu património é crime, não pode ser.

Mas acha que o PSD e o Montenegro vão sair reforçados das eleições de maio?

As eleições sentem-se em cima do terreno, cheiram-se, e para ter uma opinião se as eleições vão ser melhores, já tem de começar a campanha eleitoral, porque a certa altura também o país fica descarado, são tantas as chatices, são tantos os casos e os casinhos que agora se deixam, que a certa altura toda a gente perdeu a vergonha, já ninguém liga estas coisas.

E por falar em olfato político. O senhor é um dos nomes do PSD que apoia Gouveia e Melo para uma candidatura a Belém.

Disseram que eu estava, que eu não assinei papel nenhum.

Mas esteve reunido com ele quando ele veio à Madeira. Veio pedir-lhe apoio?

Tivemos uma grande conversa, nem ele me pediu nada, nem eu lhe prometi nada. Mas devo-lhe dizer que sintonizámo-nos muito bem, que ele demonstrou, ao contrário do que dizem os partidocratas, que a maior parte deles são analfabetos lá em Lisboa, ele tem uma cultura política acima da maior parte dos políticos que eu vejo.

Mas quais são as qualidades do Almirante …

Cultura política, quer sob o ponto de vista da fundamentação filosófica das políticas quer em termos do culto da liberdade. Fiquei com a sensação e fiquei convicto mesmo que ele está a conjugar as liberdades democráticas com a disciplina democrática. De maneira que eu fiquei impressionado, muito bem, impressionado.

Aqueles sectores que neste momento chamam mais a atenção, que é a justiça, que é o problema do funcionamento da saúde, onde ele teve uma experiência interessante, e que não vou revelar muito o que ele me disse nessa matéria, e o problema da nossa defesa e da nossa segurança, de maneira que eu fiquei muitíssimo, bem, mas é um homem rigorosamente respeitador, quer da constituição, quer das liberdades públicas, portanto, a partidocracia é que ficou muito nervosa com o aparecimento do homem.

E o seu partido, o PSD, já tem um candidato, o doutor Marques Mendes.

Os dois maiores partidos portugueses estão na mão da influência da maçonaria, que tem um peso enorme dentro dos dois partidos.

Não vê em Marques Mendes um bom candidato?

Não está em causa a pessoa do Marques Mendes, eu sou amigo dele, tenho o maior respeito por ele, é uma pessoa seríssima e de caráter, mas é um homem de aparelhos políticos e agora é preciso uma coisa completamente nova.

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