08 abr, 2025 - 22:25 • Susana Madureira Martins
O líder do PS, Pedro Nuno Santos, admite que é possível haver "consensos" e "construir pontes" com o PSD sobre política de imigração.
No debate desta terça-feira à noite, na SIC, com a líder do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, no âmbito das eleições legislativas de maio, o secretário-geral socialista admitiu que o "plano de ação" do PS está "em linha" com as preocupações da AD e que há mesmo políticas do Governo nesta área que vão "numa linha de continuidade" face aos executivos de António Costa.
Já segue a Informação da Renascença no WhatsApp? É só clicar aqui
"É uma matéria onde se podem construir consensos", admitiu Pedro Nuno Santos, que salientou que apresentou recentemente propostas que "vão em linha com algumas das preocupações do Governo da AD".
No entanto, o líder socialista acusou o Governo de ter um "discurso sectário", referindo-se à conferência de imprensa do ministro Leitão Amaro, desta terça-feira, em que detalhou os números da imigração, acrescentando Pedro Nuno Santos que esta é "uma matéria onde é possível construir pontes".
"O que o PS defende é a imigração regulada", referiu o líder socialista, numa expressão tantas vezes usada também quer pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro, quer precisamente pelo ministro da Presidência, António Leitão Amaro, que tutela esta área. O líder socialista rematou insistindo que a manifestação de interesse é "um mecanismo desajustado".
Ao longo do debate na SIC, foi difícil encontrar pontos de convergência entre Pedro Nuno Santos e a líder do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, desde a política de Defesa à Habitação.
E precisamente, a imigração foi mais um deles. A dirigente bloquista defendeu a manifestação de interesse, considerando que se trata de "um principio básico" de que não abdica, e acusou o PS de "abdicar" desse princípio. "O mecanismo não funcionou bem, o principio e a lei estão corretos", justificou Mariana Mortágua.
A política de Defesa foi o primeiro tema do lote de perguntas colocadas pela jornalista da SIC Clara de Sousa aos dois líderes de esquerda e logo aí surgiram divergências. Pedro Nuno Santos defende o investimento nesta área, no atual contexto internacional, considerando que é preciso investir em Defesa, mas considerando "impensável" que se coloque "em causa" o Estado social.
O líder socialista defende a mutualização da dívida para que os Estados-membros da União Europeia possam investir em Defesa e que este investimento "seja financiado pela dívida europeia". Considerando que Portugal ainda está longe do investimento de 2% do PIB, Pedro Nuno disse que esse aumento tem de ser "progressivo".
Eleições antecipadas
O debate entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos(...)
A líder bloquista, Mariana Mortágua, contrariou esta posição do líder do PS, defendendo que o "dinheiro é para ir para os serviços públicos", criticando o investimento em material militar. "É para aí que a UE caminha", referiu a dirigente do BE, defendendo que a União "não precisa de mais armas", salientando que "a França é o principal exportador de armas".
"É mentira que precisemos de gastar mais dinheiro em armas, é mentira que Portugal esteja em risco de ser invadido", disse ainda Mortágua, considerando que dizer o contrário "é propaganda". Questionada sobre o que diria aos dirigentes europeus sobre esta questão, Mortágua foi taxativa: "Diria que não gastamos mais em armas", acrescentando que "quem acha que construir armas é projeto de futuro é querer mandar os filhos para a guerra".
Outra tentativa: Habitação. Mais um tema, mais um foco de divergência entre os antigos parceiros de Geringonça. Pedro Nuno Santos tutelou a área no Governo de António Costa e puxou dos galões referindo que "há cinco anos lançámos o maior programa de habitação pública", numa alusão ao programa Primeiro Direito. Aqui o líder socialista aproveitou para atacar o executivo da AD: "Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz estão a inaugurar casas que foram lançadas por nós".
Eutanásia
A lei está aprovada e promulgada desde 2023, mas a(...)
Pedro Nuno Santos defende que "o que é central é aumentar a oferta de construção pública", ao passo que Mariana Mortágua considera que a melhor opção para impulsionar as políticas de Habitação é "baixar as rendas e a proposta de tetos às rendas é a que a Holanda defendeu e está a resultar". Medida que o líder socialista acusou que "no papel soa bem, mas depois tem problemas", referindo que tem o perigo de "provocar a retirada de imóveis do mercado".
A última parte do debate entre Pedro Nuno Santos e Mariana Mortágua foi dedicada a governabilidade no pós-eleições. O líder socialista repete o que já disse na campanha e pré-campanha de 2024: "Só haverá alternativa à AD se PS vencer as eleições". Para depois se lançar num apelo ao voto útil no partido que lidera.
"Precisamos de vencer as eleições", começou por dizer Pedro Nuno Santos, para depois pedir e insistir: "Portugueses, não dispersem votos". O líder socialista justificou que, em 2024, o PS perdeu "apenas" por 50 mil votos e que agora "é muito importante não haja dispersão de votos" à esquerda.
Uma posição que irritou profundamente Mariana Mortágua, que colou o futuro de Pedro Nuno ao de Luís Montenegro. "O que Pedro Nuno Santos está a dizer, quando diz que quer ser o mais votado e espera a viabilização do PSD, é que tem em Luís Montenegro uma bala de prata", começou por referir a líder bloquista. "Está à espera que Luís Montenegro lhe dê confiança para governar com base no seu apoio", rematou.
Ao apelo de Pedro Nuno para ter o voto útil e, nas entrelinhas, a maioria dos votos, Mortágua respondeu ainda que, em 2024, o PSD "ficou à frente" na votação e "isso não impediu instabilidade", deixando implícito que dificilmente o PS terá uma maioria de tal forma confortável que não venha a precisar do apoio da restante esquerda no Parlamento.