14 abr, 2025 - 23:00 • Susana Madureira Martins
Não houve qualquer garantia de entendimentos pós-eleitorais entre Luís Montenegro e Rui Rocha, mas o tom do debate entre os líderes do PSD e da Iniciativa Liberal (IL), que decorreu esta segunda-feira à noite na RTP, permitiu manter pontes para depois das eleições legislativas de 18 de maio.
Houve divergências sobre a condução da política fiscal, com Rocha a criticar o presidente do PSD e primeiro-ministro pela redução “ligeira” de impostos, sobre saúde, mas o debate terminou com um desafio do líder liberal que culminou com a garantia de ambos em dar “estabilidade” política ao país.
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Depois de descrever a IL como o garante da “estabilidade”, Rocha desafiou: “Está, neste momento, a AD e Luís Montenegro capaz de garantir essa estabilidade?”. Ao que o líder do PSD respondeu no ato: “A resposta é sim e é a forma de evitar um Governo socialista em Portugal”.
Rocha centrou a sua prestação no fator de que a IL é um partido “confiável”, que garante a “estabilidade” e mais “reformista” do que a AD conseguiu ser ao longo do último ano no Governo.
Nunca colocando em causa a ética de Montenegro, à conta do caso Spinumviva, o líder da IL admite que, “tentando” colocar-se na situação do líder do PSD, “teria terminado o problema mais cedo”, acusando o primeiro-ministro de “irresponsabilidade”. É esta a crítica mais violenta e o mais longe que Rocha vai.
Rocha surge assim como o fiel da balança e uma espécie de fiscal no caso de a AD voltar a formar Governo: “A capacidade de trazer estabilidade ao país existe na IL e esse é o nosso compromisso, com exigência, para que seja recuperado o sentido de dignidade no exercício de funções”.
“Vale a pena votar na IL, o espírito reformista de que a AD não deu mostras existe na IL”, disse Rocha, já depois de Montenegro ter dito algo parecido, mas ao contrário: “Porque é que um eleitor da IL tem todas as razões para votar na AD? Porque evita o regresso do socialismo, porque baixamos os impostos sobre o rendimento do trabalho e das empresas”, disse o líder do PSD num apelo ao voto útil na AD.
Questionado pelo jornalista da RTP, Hugo Gilberto, se, ao acusar o líder do PS de prometer dar tudo a todos, ultrapassou essa receita para o desastre, Montenegro respondeu taxativo: “De maneira nenhuma”, referindo que tem o crédito do “desempenho” do Governo em 2024.
O líder do PSD considera as propostas do programa eleitoral da AD são “moderadas”, com Montenegro a mostrar total confiança no desempenho da economia. “O nosso caminho concilia-se com a situação nacional e internacional”, disse o primeiro-ministro que referiu, por exemplo, que “calibrou” propostas como o IRC.
Precisamente, a política fiscal da AD no último ano constituiu uma das principais divergências entre os dois líderes, com Rui Rocha a criticar a descida de impostos "muito ligeira" que foi feita e que, segundo o líder liberal, "não é o que se espera de um programa que dava prioridade à redução dos impostos".
O líder da IL deu o exemplo do que chamou de "gerações dos entalados", falando das pessoas entre os 35 e os 60 anos e que passaram pela intervenção da troika, a crise da habitação e que, segundo Rocha "carregam a política fiscal às costas" e que "percebem que os impostos desceram muito pouco ou nada". Montenegro defendeu-se dizendo que a carga fiscal sobre os impostos "baixou" e que isso "devia ser assinalado por um líder que se diz liberal".
A Saúde foi outra das divergências entre os dois líderes. Montenegro afasta a ideia de que a política do Governo nesta área tenha sido "um falhanço", considerando que "o ponto de partido é que é muito mau" e a insistir que há "mais médicos no SNS".
O líder do PSD e do Governo deixou, entretanto, em aberto o futuro da ministra da Saúde. Questionado se Ana Paula Martins será reconduzida no cargo, Montenegro disse apenas que "ela é um quadro qualificadíssimo das nossas equipas e que nós, quando tivermos de as constituir, também contaremos com ela, logo se vê em que funções.
Quando Hugo Gilberto volta à carga, o líder do PSD manteve o jogo fechado: "Em princípio será eleita deputada, a partir daí, quando tivermos de formar governo tomaremos as nossas opções", sentenciou Montenegro.