24 abr, 2025 - 00:25 • Filipa Ribeiro
Não há um único tema em que liberais e bloquistas se entendam. De um lado, a Iniciativa Liberal (IL) defende o investimento na Defesa, enquanto o Bloco de Esquerda (BE) fala em "falta de sentido racional". A IL não quer tetos nas rendas e o BE realça que há governos liberais a implementarem o modelo. Na Saúde, os liberais querem parcerias com o privado e o social e o Bloco acusa-os de estarem a "colocar dinheiro na mão dos privados".
A falta de consenso entre Rui Rocha e Mariana Mortágua estava mais que previsto para o debate entre os dois desta quinta-feira, na CNN Portugal, mas a distância entre os dois ficou vincada no frente a frente que terminou com a líder do Bloco a confrontar o presidente da IL com a proposta sobre o corte de funcionários públicos.
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Mariana Mortágua acusa a Iniciativa Liberal de "não dizer como paga nada do seu programa absurdo". A coordenadora do Bloco diz ter feito as contas e acusa a IL de querer cortar mais funcionários do que aqueles que existem. Para isso, apresentou uma tabela e disse a Rui Rocha que o partido "quer cortar 1,5 mil milhões de euros em funcionários administrativos. Isso queria dizer cortar 102 mil funcionários administrativos. Há um problema: só existem 92 mil funcionários administrativos no Estado".
"Isto é um bulldozer e não uma motosserra. Cortam todos e não sobra nenhum", acusa Mariana Mortágua.
Em resposta, Rui Rocha diz que a IL quer acabar com "a deriva totalitária de dizer às pessoas que têm que suportar um Estado que é ineficiente".
Noutro ponto, o presidente da IL defende que deve haver investimento na Defesa e que, para isso, o país "deve recorrer aos fundos comunitários", sublinhando que "não há necessidade em fazer cortes noutros setores".
Um ponto sobre o qual Mariana Mortágua não tem tantas certezas. A coordenadora do Bloco de Esquerda considera que "não tem sentido racional" investir-se em mais armas, acabando por "se tirar fundos necessários" para outras áreas "aumentando o endividamento".
Rui Rocha considera que o investimento na Defesa "com bom senso trará vantagens" para o país e chega a acusar a líder do Bloco de Esquerda de ter uma "visão limitada" sobre o assunto.
O distanciamento entre os dois partidos mantém-se na habitação, com a coordenadora do Bloco de Esquerda a levantar a bandeira da necessidade de colocar "tetos às rendas". Mariana Mortágua traz no bolso os exemplos da Alemanha e até da Holanda - que tem um Governo liberal. A líder do BE sublinha que "as pessoas já não podem pagar" pelas casas que estão no mercado, sublinhando que o "mercado de arrendamento não existe e é uma ilusão".
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Para o Bloco de Esquerda, a solução para um resultado imediato é a fixação de tetos às rendas, mas Rui Rocha contra-argumenta com notícias que dão conta de que a medida está a ter consequências negativas nos países em que vigora, como a Holanda e a Alemanha. "Os tetos às rendas têm telhados de vidro", realçou.
O presidente da IL defende que a solução é "construir, construir e construir". Os liberais querem "construir mais, mais rápido e mais alto". Rui rocha apresentou por isso a proposta do partido de redução do Iva da construção para 6% e a redução de impostos para arrendatários para uma solução "a curto prazo" que incentive a colocação de casas no mercado de arrendamento.
Insatisfeita, Mariana Mortágua considera "inacreditável" a IL "fazer um esforço para desacreditar a medida adotada por Governos liberais" e realça que Portugal "precisa de uma medida que baixe os preços agora".
Na parte do debate sobre o setor da Saúde, os partidos continuam sem acordo. Rui Rocha atribui ao Bloco de Esquerda "responsabilidade" pelo mau diagnóstico que faz do Serviço Nacional de Saúde. O líder dos liberais recorda que o BE apoiou o Governo de António Costa com "um ataque claro a soluções como as PPP".
Rui Rocha defende que os portugueses "devem escolher onde querem ser tratados", conforme a proposta dos liberais que defende um modelo entre público, social e privado.
Para Mariana Mortágua, os liberais estão a "entregar ao privado" o dinheiro que deveria ser investido no setor público. A coordenadora do Bloco de Esquerda afirmou não esperar ouvir Rui Rocha dizer, na véspera do 25 de Abril, que quer "destruir o Serviço Nacional de Saúde".