25 abr, 2025 - 12:20 • Inês Braga Sampaio
Pedro Nuno Santos criticou, esta sexta-feira, o Governo por ter adiado festejos do 25 de Abril, acusando-o de se descasar do "sentimento popular".
No entender do secretário-geral do PS, o adiamento da agenda festiva "é o reflexo de um governo desligado do sentimento popular".
Já segue a Informação da Renascença no WhatsApp? É só clicar aqui
"Incapaz de perceber que os portugueses, mesmo 51 anos depois de Abril, se ofendem com quem desvaloriza a data que lhes trouxe a Democracia, a liberdade, a educação para todos, o Sistema Nacional de Saúde, o direito a escolher quem os governa", afirma o líder da oposição, no discurso durante a sessão solene no Parlamento, esta sexta-feira.
"Hoje, o povo sai à rua, enquanto o Governo fica à janela", atira.
Pedro Nuno considera que a Democracia portuguesa vive "um paradoxo entre maior exigência de transparência e um sentimento de desilusão".
Por um lado, "a Democracia é hoje mais exigente do que alguma vez foi" e impõe "maior transparência e maior escrutínio do que nunca" aos seus políticos. Um recado a Luís Montenegro, pela controvérsia com a Spinumviva, que levou à queda do Governo: "Este imperativo democrático é incompatível com comportamentos de opacidade e ocultação. Convive mal com condutas de dissimulação e vitimização e torna insuportável a constante chantagem e infantilização dos portugueses."
Por outro lado, o líder do Partido Socialista também admite que "é inegável que muitos portugueses estão desiludidos com os salários, com o custo de vita e com a falta de oportunidade para os seus filhos".
"Gente que trabalha muito mas que sente que não é reconhecida ou valorizada. Gente que se desiludiu com políticos e a Democracia. Esta desilusão gera descrença num projeto democrático coletivo e contribui para o crescimento de um individualismo exacerbado. Hoje, responder às promessas e aos desafios que Abril nos deixou é também saber como lidar com este sentimento de desilusão", reconhece.
Por isso, Pedro Nuno desconfia das propostas das "diferentes direitas", "que se tocam e se alimentam entre si". Porque, explica, "ambas acabam por privilegiar uma minoria dos portugueses, a que menos precisa", e "enquanto uns geram excluídos com as suas políticas, os outros vivem do ressentimento dos que ficaram excluídos do progresso".
De um lado, uma extrema-direita que, acusa o cabeça de lista do PS, "não faz outra coisa que não seja explorar e ampliar a desesperança e a legítima indignação de muitos portugueses". E que, "sem soluções sérias e credíveis para o país, dedica-se a parasitar as desilusões do povo".
"Para lá do ódio, só resta o deserto das ideias", denuncia.
Do outro lado, a direita no Executivo "usa a classe média e as suas legítimas aspirações para, no fim, acabar governar para uma minoria".
"Reduzir impostos aos que mais ganham, reduzir o contributo fiscal das empresas para o bem comum, financiar o negócio privado da Saúde com recursos públicos e entregar parte do sistema público de pensões aos humores do mercado. Isto é proteger quem mais tem e menos precisa de ser protegido e, assim, reduzir a capacidade do Estado para responder às necessidades de todos", critica o chefe da bancada socialista.
Pedro Nuno Santos assinala, por isso, que as respostas das duas direitas, a do Chega e a da AD, "retiram força ao projeto democrático coletivo, que é a maior promessa de Abril: a construção de um país para todos".
A terminar, o secretário-geral do PS e líder da oposição, cita o Papa Francisco, que morreu na segunda-feira — o que levou ao adiamento das festividades para 1 de maio —, para descrever o que é "celebrar Abril":
"É combater de frente a pobreza e a desigualdade, não esconder os povos. É celebrar quem trabalha, não condená-los à penúria. Valorizar a sabedoria dos mais velhos, não infantilizá-los. Aceitar a diferença, não estigmatizá-la. Acolher bem quem vem de longe trabalhar connosco, não odiá-los. Ensinar aos nossos filhos rapazes a respeitar as colegas como iguais. Combater a violência doméstica, não ignorá-la ou relativizá-la."
"Celebrar Abril é celebrar o Papa Francisco, a sua memória, a sua vida e a sua mensagem", conclui Pedro Nuno Santos, na sua intervenção.