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Cristãos acusam curdos de manipular poder local no Norte do Iraque

03 ago, 2017 - 11:36

Ao longo das últimas semanas um presidente da câmara cristão foi substituído por uma cristã próxima dos curdos. Teme-se que o mesmo se passe agora noutra cidade.

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E depois de Mossul?


Ao longo das últimas 24 horas vários órgãos de informação, nomeadamente cristãos, anunciaram que pela primeira vez na história do Iraque uma mulher cristã tinha-se tornado presidente da Câmara.

A notícia tem sido apresentada como uma vitória tanto para cristãos como para as mulheres iraquianas, mas a verdade parece ser mais complexa, uma vez que a nomeação de Lara Yousif Hanna para autarca da cidade cristã de Alqosh está a ser encarada por muitos membros desta comunidade como um atentado aos seus direitos por parte das autoridades da região autónoma do Curdistão iraquiano.

Alqosh é apenas uma das muitas cidades, vilas e aldeias cristãs situada na Planície de Nínive, terra ancestral do povo assírio – referido várias vezes na Bíblia – que se converteu ao Cristianismo nos primeiros séculos da era cristã.

Os cristãos assírios antecedem nestas terras os árabes muçulmanos por centenas de anos, apesar de hoje em dia serem uma minoria em países como o Iraque, a Síria e o Irão.

Actualmente, a Planície de Nínive é faz parte das chamadas “zonas disputadas” entre o Governo central do Iraque e a região autónoma do Curdistão. Os curdos preparam-se para um referendo no próximo mês de Setembro ao qual, tudo indica, se seguirá uma declaração de independência e a possibilidade de um conflito com Bagdad sobre a posse das “zonas disputadas” é bem real.

Neste contexto, a lealdade política dos povos minoritários não-curdos que vivem na região torna-se muito importante e é disputada tanto por árabes iraquianos como por curdos, enquanto muitos cristãos, yezidis e outros dizem que preferiam ter a sua própria região autónoma, idealmente com boas relações com ambos os lados.

É neste contexto que surge a notícia da demissão, por parte do Concelho Provincial de Nínive, dominado pelo KDP, o principal partido do Curdistão, do então presidente da Câmara de Alqosh, Faiz Abid. Muitos cristãos de Alqosh protestaram contra a medida, acusando os curdos de ingerência nos seus assuntos internos. Significativamente nos protestos foram exibidas bandeiras da República do Iraque, numa clara tomada de posição contra a eventual integração num Curdistão independente. Alguns curdos acusam os cristãos de estarem a agir a mando do Governo em Bagdad.

Poucos dias depois foi anunciada a nomeação de Lara Yousif Hanna, que é membro do KDP e terá combatido nas milícias curdas, conhecidas como peshmerga. A sua nomeação também foi recebida com protestos em Alqosh.

Agora surge a notícia de que outro autarca cristão, da cidade de Telkef, foi chamado nos últimos dias à sede do Concelho Provincial para interrogatório e nas redes sociais e na imprensa local especula-se que os curdos estejam a preparar-se para fazer a mesma manobra naquela cidade, substituindo Basim Bello por outra pessoa, eventualmente também cristã, leal à causa curda.

Actualmente vivem algumas centenas de milhares de cristãos no Iraque, concentrados sobretudo na região de Nínive, próxima de Mossul e do Curdistão, e também em Bagdad. A esmagadora maioria dos cristãos considera-se parte do mesmo povo, e apelidam-se de assírios, siríacos ou caldeus, consoante as diferentes igrejas a que pertencem.

Comentários
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  • CAMINHANTE
    04 ago, 2017 LISBOA 12:30
    Antes isso que estar sob o jugo Islâmico Sunita.

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