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Entrevista

“Não se consegue explicar o mundo sem um Deus criador”

08 out, 2024 - 22:24 • Ana Catarina André

Michel-Yves Bolloré, um dos autores do livro "Deus, a Ciência, as Provas", garante que a revolução científica do início do século XX trouxe um conjunto de evidências que atestam a existência de Deus. A obra escrita em co-autoria com o francês Olivier Bonnassies já está disponível em Portugal.

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Termodinâmica, física, cosmologia, matemática e filosofia são algumas das áreas a que os franceses Michel-Yves Bolloré e Olivier Bonnassies recorreram para encontrar provas científicas da existência de Deus. No livro "Deus, a Ciência, as Provas", editado recentemente pela Dom Quixote, os autores defendem que, a partir do início do século XX, a ciência começou a pôr em causa o materialismo, que aponta a matéria como única realidade. “Antes, explicava-se o mundo sem Deus. Agora, não se consegue. É uma revolução”, garante Michel-Yves Bolloré.

Em entrevista à Renascença, o engenheiro informático, mestre em ciências e doutorado em gestão de empresas, explica que o milagre do sol, que ocorreu em Fátima, a 13 de outubro de 1917, é “único”. “Foi anunciado com vários meses de antecedência. (…) Sabemos que 50, 70 mil pessoas estiveram lá”, diz, atestando tratar-se de mais uma prova da existência de Deus.

O livro apresenta um conjunto de provas sobre a existência de Deus, a maior parte das quais posteriores ao início do século XX. O subtítulo “a alvorada de uma revolução” evidencia tratar-se de uma mudança profunda. Que revolução é esta?

Há uma revolução científica em curso. O que queremos é contá-la num livro de leitura fácil para o público em geral. Hoje, há muitos não crentes e muita ansiedade por causa disso. Há famílias em que o pai é crente e a mãe não, ou em que pais são crentes e os filhos não. Há muita gente que gostaria de saber se Deus existe. Eu e o meu amigo, Olivier Bonnassies, tínhamos a mesma pergunta. Queríamos saber mais. Procurávamos um livro com uma visão de ciência, sim, mas também de filosofia, moral, história, etc. Queríamos uma panorâmica completa sobre esta questão. O que podemos dizer sobre a existência de Deus? Esta é a razão pela qual decidimos escrever este livro. Durante séculos, como referimos na introdução do livro, as descobertas científicas, de Copérnico, a Galileu, passando por Newton, Laplace e Darwin, diziam: "Conseguimos explicar o mundo facilmente através de leis. Não precisamos de Deus para explicar como é que a lua e o sol se movem, porque é que existem animais, como é a evolução. Não precisamos mais de Deus”.

Durante muitos séculos, foi impossível dizer se o universo é eterno ou não.

O que é que mudou, então, para inverter esta perspetiva de que ciência e religião não são opostas?

A pergunta do nosso livro é uma pergunta pequena, mas muito importante, claro. A religião tem a ver com o que Deus quer, o que pensa, o que nos pede. Não tratamos disso, de todo. O nosso livro debruça-se sobre a existência de um Deus criador. Queremos saber se o mundo é apenas matéria, espaço e tempo, aquilo a que se chama materialismo, ou se existe um espírito superior, criador. Tem havido uma revolução desde o início do século XX, um conjunto de descobertas científicas que contradizem o passado. Antes, explicava-se o mundo sem Deus. Agora, não se consegue explicar o mundo sem um Deus criador. É uma revolução.

Ao longo do livro, vão sendo apresentadas explicações biológicas, morais, filosóficas...

Na verdade, há apenas duas possibilidades reais: Deus existe e criou o mundo; ou Deus não existe e o mundo é apenas matéria, espaço e tempo. Se aceitarmos a teoria do materialismo, de que Deus não existe, então o universo é necessariamente eterno. Parménides, um filosofo do ano 500 a. C, disse: "ex nihilo nihil fit" (Do nada, nada pode surgir). Há 2500 anos que toda a gente, incluindo os filósofos e os cientistas da atualidade, concordam que o universo não pode surgir do nada. Durante muitos séculos, foi impossível dizer se o universo é eterno ou não. Há 200 anos, o que podíamos dizer sobre isto? Nada! Rapidamente fizemos progressos na física, na matemática, que nos permitem dizer, hoje, que não é possível que o universo seja eterno.

Está a falar do Big Bang?

Não, melhor do que a teoria do Big Bang é a teoria térmica. O sol nasceu há cinco mil milhões de anos e em cinco mil milhões de anos morrerá. É como um tanque de gasolina que arde. Em cinco mil milhões de anos, todos os sistemas à volta do sol, incluindo o planeta terra, estarão mortos. Um dia, todo o universo será negro, frio, com baixa densidade. O universo vai morrer e tudo o que está a morrer e ainda não morreu tem necessariamente de ter começado. Tal como nós. Por outro lado, os materialistas acreditam que o universo é infinito e eterno, e há muitas provas de que isso não é possível. A termodinâmica é uma ciência do final do século XIX. É uma prova de que o mundo vai morrer, e é uma evidência de que há algum tempo ele teve um começo absoluto. Talvez o mundo não tenha começado no Big Bang, talvez tenha havido outro universo antes, mas o que sabemos hoje é que não é possível haver uma série infinita de universos. Três cientistas americanos, Borde, Guth e Vilenkin, demonstraram isso recentemente. O nosso universo tem um começo absoluto em algum momento. Nada é infinito no nosso mundo, incluindo a matemática que mostra que o infinito é apenas uma noção matemática – não é uma realidade. Assim, se não há infinito no mundo real, o nosso universo não pode ser infinito no tempo, e se não é infinito no tempo, tem um começo. E se há no começo, Deus existe.

Georg Wald, um Nobel moderno, ateu, diz que não há outra possibilidade de explicar a vida a não ser através de Deus.

O livro refere que houve uma combinação precisa na natureza que tornou a existência de vida possível. O que é que vos levou a dizer que há aqui uma ligação à existência de Deus?

Na minha opinião, é um dos capítulos mais fortes, mais convincentes do livro. Em 1850, Darwin disse que a vida surgiu numa pequena porção de água, no sopé de um vulcão. Durante 100 anos, todos pensaram que era verdade – nos Estados Unidos, na década de 1950, havia pelo menos dez grandes laboratórios que estavam a tentar recriar essa combinação, essa espécie de sopa primitiva.

Uma história que vista hoje acaba por ser engraçada…

Sim, muito engraçada. Tentaram criar vida, agitando alguns químicos. Depois, descobriu-se o ADN, que é muito mais complexo do que um computador. Por isso, ninguém acredita que se se agitar água quente com alguns produtos químicos, se vai produzir vida. Todos esses laboratórios fecharam. Já ninguém tenta criar vida a partir de uma “sopa primitiva”. Georg Wald, um Nobel moderno, ateu, diz que não há outra possibilidade de explicar a vida a não ser através de Deus. Como é que a vida apareceu na Terra há quatro mil milhões de anos? O “ajuste fino”[a combinação que permitiu a existência da vida] é uma prova da existência de Deus. É isso que queremos mostrar. A crença de que seria fácil obter vida a partir da matéria terminou.

Põe a questão como tendo apenas duas respostas: Deus existe ou não existe. Não há outras possibilidades?

Tem razão. Há outras pequenas possibilidades. Os hindus não acreditam em Deus, mas acreditam em espíritos. Não sabemos muito sobre isso. Não há teorias sobre isso. Diria que o nosso mundo, na Europa e nos Estados Unidos, é praticamente dividido entre pessoas que acreditam em Deus e pessoas que acreditam na matéria.

Sendo tão obvia a existência de Deus, o que explica, na sua opinião, que o número de não crentes esteja a aumentar, pelo menos na Europa, em que as sociedades são mais escolarizadas?

O número de crentes na Europa e nos Estados Unidos está a diminuir drasticamente. Há várias razões. Antes de tudo, diria que a questão da existência de Deus não é neutra. Há questões neutras e outras apaixonantes. A existência de Deus é sempre uma questão apaixonante. Muitas pessoas acreditam que Deus é um tirano, que proíbe que se faça isto ou aquilo. Há quem acredite que é um juiz. A principal razão que justifica que a crença em Deus ou a presença de Deus esteja a diminuir nos nossos países, tem a ver com uma suposta liberdade que os seres humanos querem ter. Acreditam que essas acusações são verdadeiras. Não são! Deus não é um tirano. Não é um juiz. Não é um obstáculo ao conhecimento.

Fátima tem um interesse muito especial. É o único milagre na história, em 2000 anos, que foi anunciado com vários meses de antecedência.

Um dos argumentos que a maioria das pessoas usa para dizer que Deus não existe prende-se com a existência do mal…

A Igreja Católica responde a isso no Catecismo. Não há uma resposta curta para o problema do mal no mundo. Mas há respostas. Se lermos a Bíblia e o Evangelho, temos respostas. Deus fez os seres humanos. Tornou-os livres para fazer o bem ou o mal. O mal vem dos homens. Há uma revolta de Adão e Eva contra Deus. Caim mata o irmão. O mal espalha-se como uma doença terrível. De facto, Deus não é um tirano, não é um juiz. Envia o filho para nos libertar. Deus é bom e nós somos maus. Todo o mal foi feito por nós e não por Deus. Estamos num mundo que nos parece mau, mas é o oposto. Na verdade, o mundo é muito bom para a nossa salvação. É impossível fazer uma boa ação num mundo perfeito. Pensemos nisso por um minuto. Se todos fossemos bons, os anjos não poderiam fazer nada de bom – não haveria pobres, doentes, moribundos. Se estivéssemos no paraíso terrestre, não poderíamos fazer nada de bom.

Está a dizer, então, que precisamos do mal para sermos bons?

Precisamos deste mundo caótico para fazer coisas boas, sim. Lembremos Joana d’ Arc, uma guardadora de ovelhas, muito pobre. Sem a guerra dos 100 anos, ela não seria santa. Graças à guerra, aos mortos e ao sofrimento, ela não é apenas santa, mas é uma das pessoas mais conhecidas do mundo, porque fez coisas heroicas. Num mundo bom, não é possível tornar-se um herói.

O livro também tem um capítulo dedicado a Fátima. Porquê?

Não tem a ver com esta edição em Portugal. É um capítulo que está também na edição francesa. Recebi muitas cartas em que me diziam: "o senhor, é completamente louco. Está a escrever um livro de ciência, interessante, e inclui um capítulo sobre Fátima, que é um milagre? Isso é ridículo". Então eu respondo – escrevo a todos – e digo: “Não! É lógica!”. Voltando à discussão sobre a existência de Deus: Se Deus não existir, não há milagres. Se encontrarmos um milagre óbvio, então temos certeza de que há algum tipo de Deus. Fátima tem um interesse muito especial. É o único milagre na história, em 2000 anos, que foi anunciado com vários meses de antecedência. No dia 13 de outubro, ao meio-dia, haveria um milagre. Saiu nos jornais. Sabemos que 50, 70 mil pessoas estiveram lá. Um materialista precisa de uma explicação racional para o que aconteceu a 13 de outubro de 1917.

Há quem defenda uma explicação científica para o milagre do sol...

Não há. Sabemos que não foi um fenómeno climatológico, não foi um evento cosmológico. Então o que pode ter acontecido? Poderia ter sido uma alucinação coletiva? Isso não existe. Pode ter sido uma fraude? Como se pode fazer uma fraude no céu? É impossível fazer uma fraude no céu. Então, quando se disse que isto não, aquilo não, aquilo também não… O que é que resta? Milagre. Se é um milagre significa que Deus existe. É mais uma evidência. É uma pilha de evidências: a morte térmica da Terra, o aparecimento da vida a partir da matéria. Temos muitas outras coisas. Temos a filosofia, a moral… E em cima disso, temos a cereja do bolo: não podemos explicar um acontecimento como o de Fátima. Então, quando temos tudo isso, este conjunto de evidências, podemos dizer: sim, Deus existe.

Havendo vários milagres no mundo, tantas histórias de santos, escolheu Fátima porquê?

É o único em que qualquer pessoa, se estiver de boa-fé, pode dizer que é um milagre. Em Lourdes, podemos equacionar que há fraude. Por exemplo, alguém que não anda, pode de repente saltar. A aparição ninguém a viu – só a Bernadette. Fátima, pelo contrário, é muito interessante. O milagre foi anunciado com antecedência. Toda a gente viu. Não há explicação.

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