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FREI FERNANDO VENTURA

Banco de Leite São Tomé e Príncipe. “Nos bastidores está uma multidão de boas vontades”

03 jan, 2025 - 17:32 • Ângela Roque

Em entrevista à Renascença frei Fernando Ventura destaca a solidariedade dos portugueses, que em 2024 permitiu enviar 200 toneladas de bens essenciais. O primeiro carregamento de 2025 já partiu, com chegada prevista para 20 de janeiro. Prioridade para este ano? Comprar uma nova viatura para as visitas domiciliárias na ilha.

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A caminho de São Tomé e Príncipe vai nesta altura mais um carregamento de bens essenciais angariados pelo Banco de Leite/Associação Amparo da Criança. O primeiro contentor de 2025 foi fechado esta quinta-feira, 2 de janeiro, e segue por via marítima. Tem chegada prevista para dia 20. Leva 20 toneladas de alimentos, sobretudo leite e papas lácteas, mas também fraldas (adulto e crianças), toalhitas, medicamentos, e até uma cadeira especial para uma criança doente. A “oferta especial” foi anunciada em vésperas de Natal por frei Fernando Ventura.

“O nosso presépio em S Tomé tem uma ‘menina Jesus’. Tem 5 anos, poliomielite desde os 8 meses. Precisava de uma cadeira especial... em meia hora um dos nossos benfeitores magos ofereceu a cadeira. Já está no armazém da empresa de transporte. Irá no próximo contentor”, revelou na sua página de Facebook, onde permanentemente vai dando conta das ajudas que a Associação de Solidariedade Social vai conseguindo angariar em Portugal.

"Os Açores continuam ainda hoje a ser uma das grandes forças de apoio. Costumo dizer que o Banco de Leite de São Tomé é filho de São Miguel”

O projeto nasceu em 2010, quando visitou pela primeira vez o arquipélago, a convite do então bispo de São Tomé D. Manuel António dos Santos. “Vai fazer 15 anos agora, em finais de janeiro. Fui fazer formação bíblica para catequistas e público em geral. Fiquei em casa do bispo, e ele estava em pânico, porque só havia leite para três semanas no orfanato naquela altura. Voltei para Portugal e cheguei ao fim de fevereiro já tinha leite garantido para o orfanato até dezembro”, conta à Renascença o franciscano capuchinho, que continua a dinamizar as ajudas.

O projeto foi ganhando notoriedade em Portugal, onde frei Fernando Ventura era presença assídua nos media. “Foram chegando ajudas e boas vontades de todo o país e das ilhas. Os Açores continuam ainda hoje a ser uma das grandes forças de apoio. Costumo dizer que o Banco de Leite de São Tomé é filho de São Miguel”, sublinha, acrescentando que são essas “boas vontades” que “têm permitido manter o fornecimento de leite, de papas, de consumíveis para crianças, fraldas, tudo isto. Regularmente publicamos as contas do dinheiro que chegou e do dinheiro que saiu”.

“Só com a consignação do IRS em 2024 recebemos 21 mil euros. Colocámos em São Tomé mais de 200 toneladas de bens essenciais"

Fernando Ventura agradece a generosidade dos portugueses que, a título privado ou através de empresas ou instituições, continuam a apoiar o projeto. “Temos essa bênção de termos tantas pessoas que acreditam em nós e nos ajudam”.

“Só com a consignação do IRS em 2024 recebemos 21 mil euros, o que nos dá uma folga bastante grande”, conta, acrescentando que o balanço do ano não podia ser mais positivo. “Colocámos em São Tomé mais de 200 toneladas de bens essenciais, sobretudo alimentação. Tem de ser sempre produto seco, porque os transportes demoram sempre muito tempo.” Medicamentos também. “Temos neste momento já no Porto de São Tomé 11 paletes”.

A par dos produtos lácteos, há muita necessidade de fármacos. Durante a pandemia conseguiram enviar “7. 570 quilos de medicamentos, fruto de contactos e da ajuda imprescindível da Apifarma, a Associação Portuguesa de Farmácias, e de outras boas-vontades que se vão somando e que têm marcado a diferença. Porque, eu sou só a cara da boca de cena, mas nos bastidores está uma multidão de boas-vontades”, sublinha.

Para além da ajuda alimentar e de saúde, o projeto também já permitiu construir um Lar, na ilha do Príncipe, confiado à Misericórdia local. O que era uma casa colonial, de madeira, sem condições, é hoje o Lar de São Francisco de Assis, inaugurado em 2022, e onde continuam duas religiosas portuguesas. “São duas heroínas, duas meninas que já celebraram quatro vezes 20 anos, irmã Eufrosina Medeiros e irmã Maria, das Servas da Sagrada Família, e que são a autoridade moral daquela ilha. São as grandes almas da solidariedade na Ilha do Príncipe”.


O Lar - para cuja construção o Papa Francisco também contribuiu, com um donativo de 30 mil euros - tem capacidade de acolhimento para 12 idosos em quartos duplos, e todas as condições. “Tem sala de jantar, cozinha, lavandaria, capela, e ainda dois espaços, um deles adaptável e completamente montado para ser enfermaria, para além de um consultório para médico dentista”.

Também já conseguiram “um aparelho de eletrocardiografia, e um ecógrafo completamente pronto a funcionar, mas faltam-nos técnicos para trabalhar”. Neste momento não têm ninguém internado, mas na ilha estão a apoiar 69 idosos em casa.

"Os caminhos são muito complicados. Precisamos desesperadamente de uma viatura nova para conseguir continuar a atender os idosos”

É para esse apoio domiciliário que prestam que precisam de uma nova carrinha, para as muitas deslocações diárias que fazem. Frei Fernando Ventura diz que é uma prioridade e será um dos destinos para os donativos que cheguem em 2025.

“Tem de ser uma pick-up especial para poder aguentar a viagem diária. Porque a ilha do Príncipe é pequenina, mas o carro que temos sai das instalações ao meio-dia e meio, e demora mais de 4 horas para dar a volta a todas as pessoas que neste momento apoiamos”. O desgaste é grande, devido às más condições das estradas. “Os caminhos são muito complicados, sobretudo em tempos de chuva. Por isso precisamos muito desesperadamente de uma viatura nova para conseguir continuar a atender os idosos”.

Frei Fernando Ventura confia que a ajuda chegará. “Vamos conseguir, mas vamos ter de esperar. Estamos a falar de uma necessidade à volta de 30 mil euros, é quanto custa uma viatura dessas lá. Iremos sonhando e rezando por isso. Nós não temos dinheiro, mas o dinheiro nunca faltou. Sempre que foi preciso avançar para uma iniciativa, apareceu”.

A atividade do Banco de Leite/Associação Amparo da Criança pode ser acompanhada através do site do projeto e da página de Facebook de frei Fernando Ventura, que elogia a capacidade de "dividir para multiplicar, sem subtrair nada a ninguém!".

Recentemente o projeto também recebeu uma doação de 4000 livros infantis, juvenis e manuais escolares, por parte de um grande grupo editorial português.

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