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ECUMENISMO

Padre Peter Stilwell: "Religião é importante na integração dos migrantes"

18 jan, 2025 - 08:00 • Ângela Roque

No arranque da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, o responsável pelo Departamento do Diálogo Ecuménico e Inter-religioso do Patriarcado de Lisboa diz à Renascença que há muitos cristãos entre os imigrantes que chegam do Paquistão ou do Bangladesh, e que “Portugal tem mostrado talento para acolher diversidade de confissões religiosas”.

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A imigração está a fazer aumentar os desafios ao nível do diálogo com as outras religiões, mesmo as de matriz cristã. Em entrevista à Renascença, a propósito da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, o padre Peter Stilwell diz que “a imigração vinda do Brasil tem aumentado as comunidades evangélicas”, por exemplo. Mas, onde se notam mais mudanças, é na imigração que vem de países que não são de matriz cristã.

“Temos fenómenos curiosos, como a comunidade maronita, que veio do Líbano. São católicos, mas têm outra tradição litúrgica”, explica. Mas, também há cristãos a chegar de países de maioria muçulmana, como o Paquistão ou o Bangladesh, ou de maioria hindu, e que uma vez em Portugal procuram juntar-se em comunidade. É o que acontece numa das igrejas de Lisboa, onde todas as semanas o padre Peter celebra missa em inglês.

“Na paróquia da Encarnação, do Chiado, aparecem pessoas vindas do Paquistão e até da Índia. Portanto, há muitos migrantes aqui em Lisboa, vindos de países que pensaríamos que seriam só hindus ou muçulmanos, e não é tanto assim. Há também cristãos vindos dessas partes do mundo”, conta.

No caso dos cristãos paquistaneses, "há um grupo que se reúne todas as semanas. São evangélicos, anglicanos e católicos. Porque num país como o Paquistão, onde o Cristianismo é ultra minoritário e às vezes perseguido, sentem-se unidos na sua fé em Jesus Cristo e não entendem como sendo importantes as divisões que para nós, na Europa, são divisões clássicas, históricas, entre católicos e protestantes, etc. Para eles, ser-se batizado e cristão é mais importante do que essas divisões. E se calhar têm razão”, sublinha.

Para o padre Peter, o país tem sido um exemplo ao nível do acolhimento religioso dos migrantes. “Portugal tem mostrado talento para acolher esta diversidade de confissões e tradições, quer dentro do quadro ecuménico, quer dentro do quadro inter-religioso. Esperemos que continue. É um trabalho que é preciso ser persistente”. Até porque considera que esta é uma dimensão fundamental para a integração de quem chega de fora.

“Quando um migrante chega, sente-se um pouco ‘desasado’ e perdido numa sociedade e numa cultura que não é a sua, mas se encontra uma comunidade de fé onde se pode inserir semanalmente, onde encontra pessoas que falam a mesma língua, têm a mesma forma de encarar o mundo, isso ajuda a fazer essa ponte entre ser-se estrangeiro e integrar-se numa sociedade para onde se migrou. Portanto, as religiões têm contribuído bastante. Falo sobretudo de Lisboa, que conheço, mas há outras zonas do país, onde a migração também é significativa, e em que as religiões são um elemento importante para ajudar” na integração.

Considera normal haver receios, mas devem ser ultrapassados. “Se há uma comunidade que aparece dentro do nosso espaço paroquial e que é de outra confissão cristã, nós sentimos que, de certo modo, nos estão a ameaçar a nossa presença, nós que sempre estivemos aqui. O facto é que há pessoas nos nossos espaços paroquiais que não pertencem à nossa tradição católica, e há pessoas que se afastaram da sua fé cristã e que outras confissões têm o carisma e o jeito para as tocar e ajudá-las a redescobrir o sentido da fé. Portanto, esta descoberta de que somos uma pluralidade de talentos, e que, se calhar, aquilo que nos diferencia é menos do que aquilo que nos une, isto é o trabalho ecuménico”.

Para o responsável pelo Departamento do Diálogo Ecuménico e Inter-religioso do Patriarcado de Lisboa, a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos é uma iniciativa anual importante para lembrar que, apesar de algumas divisões ao nível disciplinar e doutrinal, há mais coisas a unir do que a separar os cristãos, seja qual for a Igreja a que pertençam.

Houve tempos em que nos perseguimos uns aos outros. Esses tempos, felizmente, já estão ultrapassados. Na Igreja Católica foi a partir do Concílio Vaticano II que começou esta dinâmica ecuménica, o acolher os outros e respeitar que têm as suas diferenças por razões históricas e que, eventualmente, não concordamos com esta ou aquela, mas que todos nós vivemos uma mesma fé em Jesus Cristo, um mesmo batismo, portanto, devemos preocupar-nos com tornar presente no mundo esse cuidado pelos outros, que é característico do Evangelho de Jesus e que o mundo tanto precisa”.

Neste Ano Jubilar de 2025, em que se assinalam os 1700 anos do Concílio Ecuménico de Niceia, a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos tem como tema central ‘Crês nisso?’, e as orações e reflexões foram preparadas pela comunidade monástica de Bose, no Norte da Itália.

A celebração ecuménica nacional de abertura do oitavário realiza-se este sábado, às 15h30, na Paróquia Lusitana de São João Evangelista, em Vila Nova de Gaia (Diocese do Porto).

Na Diocese de Lisboa, a semana começa com a Vigília Ecuménica Jovem, que vai reunir participantes de diferentes Igrejas cristãs este sábado, às 21h30, na igreja dos Santos Reis Magos – a igreja paroquial do Campo Grande.

A Semana encerra dia 25, com o Encontro Cristão em Sintra, onde são esperados centenas de participantes de várias confissões.

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