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25 anos da ordenação episcopal

D. Manuel Clemente: “Sou caixeiro viajante porque respondo a pedidos que me fazem de todo lado”

22 jan, 2025 - 07:36 • Ana Catarina André , Olímpia Mairos

Questionado sobre a recente operação policial no Martim Moniz, em Lisboa, e com as reações e posições polarizadas que o caso suscitou, D. Manuel Clemente defende que é preciso criar uma sociedade intercultural.

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O cardeal D. Manuel Clemente, patriarca emérito de Lisboa, assinala esta quarta-feira, dia de São Vicente, padroeiro do Patriarcado de Lisboa, os 25 anos de ordenação episcopal. A data será assinalada ao final da tarde cum uma eucaristia, Sé de Lisboa.

Em entrevista à Renascença, o patriarca emérito conta que, desde que deixou de estar à frente da diocese, tem estado ocupado em encontros, retiros e conferências.

“É como costumo dizer, assim numa frase curta: até ao verão de 2023, tinha um estabelecimento, que era a Diocese de Lisboa. Daí para cá, sou caixeiro viajante."

D. Manuel Clemente explica a ideia: "Porque respondo a pedidos que me fazem de todo lado, de colaboração, as mais diversas: encontros, retiros, recoleções, conferências, etc. Portanto, é onde pedem e eu possa ir. E, graças a Deus, os pedidos são muitos e vou respondendo. E quando não estou lá, estou a preparar o que lá vou fazer."

Entre os inúmeros projetos académicos a que tinha intenção de se dedicar - e para os quais ainda não teve tempo -, D. Manuel Clemente destaca a ideia de se dedicar à História da Igreja contada a partir das periferias.

"Na aula de História da Igreja, muitas vezes, dizia 'claro nós temos que dar o programa, como ele geralmente é apresentado em todo lado', mas gostava de ver a História da Igreja a partir das periferias, não de onde o Evangelho partiu, mas de aonde o Evangelho chegou, e como é que foi aceite, como é que a partir daí se fizeram comunidades cristãs, etc.”

“Várias vezes pensei nisso. Os anos vão passando, os 77 estão aí à porta e já não sei se terei tempo para isso, mas é bom imaginarmos, porque, efetivamente, o que aconteceu desde há ano e meio para cá foi, e é, graças a Deus, esta catadupa de pedidos, solicitações para ir aqui, para ir acolá... Isso vai... Como é que eu digo?... Vai atropelando todas essas ideias que eu tinha”, observa.

Olhando para estes 25 anos como bispo, D. Manuel Clemente recorda alguns dos momentos mais marcantes deste período, como o encontro Ibérico de Taizé, em 2010, no Porto, e a Jornada Mundial da Juventude.

“A minha vida episcopal passou-se entre - e eu creio que é assim com toda a gente, de uma maneira ou de outra, entre aquilo que é habitual - acompanharmos as comunidades, ter este esforço de união, de aproximação, etc., porque o bispo anda por todo lado, aproxima, põe o centro na periferia e a periferia no centro, isso é que é importante - e, por outro lado, momentos mais fortes em que toda a gente é mobilizada e isto revitaliza, e há uma experiência forte de igreja, como foi cada um destes momentos que eu citei, quer em Lisboa quer no Porto, quer outra vez em Lisboa”, completa.

Questionado pela Renascença sobre a recente operação policial no Martim Moniz, em Lisboa, e as reações e posições polarizadas que o caso suscitou, D. Manuel Clemente defende que é preciso criar uma sociedade intercultural.

“O que está em causa é que nós precisamos de criar, e isso é absolutamente necessário, não apenas uma sociedade multicultural, quer dizer, estão aqui muitas culturas, cada uma ao lado das outras, e sem interligação, isso não dá”, aponta, explicando que é necessário “fazer uma sociedade intercultural, ou seja, onde haja possibilidade de cada um, com aquilo que traz, dos diversos sítios do mundo, e também acolhendo aquilo que cá está, porque é o sítio onde eles chegam”.

“Como nós acolhemos alguém na nossa casa, com simpatia e com disponibilidade, mas também a pessoa tem que ver a casa onde está”, concretiza.

“Portanto, é na ligação destes dois motivos de acolhimento de quem vem e da parte de quem vem, também atenção à realidade onde está e ao respeito pela realidade onde está, que se vai fazendo um intercâmbio e uma partilha daquilo que cada um traz e também daquilo que cada um necessita”, completa.

D. Rui Valério destaca “25 anos de entrega, de serviço, de abnegação”

O patriarca de Lisboa, D. Rui Valério, convoca as comunidades cristãs da diocese para a Solenidade de São Vicente e o Jubileu Episcopal de D. Manuel Clemente, patriarca emérito de Lisboa, esta quarta-feira, às 19h00, na Sé Patriarcal de Lisboa.

Na carta do patriarca de Lisboa dirigida a todo o Povo de Deus, D. Rui Valério salienta que a Solenidade de São Vicente, padroeiro principal da diocese, “é não só ocasião, mas sobretudo uma oportunidade para darmos graças a Deus pela vida e pelo ministério do Senhor Dom Manuel Clemente”.

Numa mensagem vídeo, o patriarca destaca os “25 anos de entrega, de serviço, de abnegação” do antecessor.

“Foram 25 anos em que um Pastor, D. Manuel, encarnou muito bem o coração do Bom Pastor, Jesus Cristo. Estamos gratos, estamos agradecidos, pelo testemunho que o D. Manuel nos deu, de quem vive totalmente dedicado à causa do Reino, dedicado à causa de Jesus, dedicado à Igreja”, declara.

D. Rui Valério lembra ainda o “grande serviço” do cardeal D. Manuel Clemente à Igreja e à cultura.

“Gostaria de evocar o quanto incomensurável foi, e continua a ser, o contributo deste Pastor, D. Manuel Clemente, seja à fé, seja à estrada e aos caminhos de santidade: estou a pensar, nomeadamente, nos imensos retiros espirituais que ele tem orientado, estou a pensar, concretamente, à cultura, um grande serviço que o D. Manuel, em nome da fé e do Evangelho, tem prestado à cultura. Essas duas dimensões, nele, tornaram-se uma aliança, uniram- se, e todos nós somos felizes beneficiários desse pacto que ele conseguiu reaproximar, estabelecer e cultivar”, completa o patriarca de Lisboa.

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