21 jan, 2025 - 07:00 • Ana Catarina André
A maioria (65,9%) dos professores de Educação Moral Religiosa Católica (EMRC) diz nunca ter participado em formações sobre abuso sexual de menores e 8% tiveram oportunidade de aplicar materiais de prevenção em sala de aula.
Estas são algumas das conclusões de um dos três estudos promovidos pelo Grupo Vita, que envolveu 214 docentes desta disciplina e cujos resultados vão ser apresentados esta terça-feira à tarde, na mesma sessão em que será divulgado o III relatório de atividades da equipa liderada pela psicóloga Rute Agulhas.
De acordo com a investigação a que a Renascença teve acesso, e que se baseia num inquérito online feito em julho de 2023, quase metade dos professores de EMRC (45,8%) considera que a maior parte dos agressores sexuais já tinha “antecedentes de violência na família”; 41% defendem que “o abusador foi ele próprio vítima de abuso sexual" na infância ou na adolescência e 39% afirmam que estas pessoas sofrem de “doença mental".
A par desta investigação, o Grupo Vita acompanhou um outro estudo intitulado “A prevenção do abuso sexual numa amostra de catequistas: avaliação de necessidades e crenças sobre a problemática”, que se baseou numa amostra de 1.596 pessoas de 19 dioceses.
De acordo com a informação disponibilizada à Renascença, a maioria dos catequistas valoriza a formação nesta área, embora considere que a responsabilidade de abordar o assunto é sobretudo da família. Os dados revelam, no entanto, que menos de metade fala efetivamente com os seus grupos de crianças e jovens sobre a temática.
“Se, por um lado, os catequistas sentem que podem ser agentes de prevenção, por outro manifestam alguns receios e sentem existir resistência não só dentro do grupo de catequistas, como na própria comunidade”, lê-se no estudo.
Entrevista Renascença/Ecclesia
São, agora, 61 as vítimas de abusos sexuais que qu(...)
Muitos catequistas associam também o tema dos abusos ao da ideologia de género, esclarecendo que são “resultados diferentes dos encontrados na literatura”.
Os participantes deixaram algumas sugestões para mitigar os casos de abuso na Igreja Católica, entre as quais tornar a formação obrigatória, facultar o registo criminal e adequar os catecismos a esta temática.
À Renascença, o Secretariado Nacional da Educação Crista diz que estes “estudos dizem respeito a uma realidade de 2023”. “Não é, por certo, esta a realidade do hoje na educação cristã em Portugal. O Grupo Vita em parceria com a Faculdade de Teologia da Universidade Católica deu formação a 40 professores entre os cerca de mil existentes no País. Estes estão preparados para dar formação a outros – aliás, neste momento decorrem formações em diversas dioceses. Esperamos rapidamente chegar a todos”, refere a mesma fonte, lembrando que os catequistas também têm sido abrangidos por este tipo de iniciativas.
Além dos catequistas e dos professores de Educação Moral Religiosa e Católica, o Grupo Vita acompanhou também a elaboração de uma tese de mestrado sobre a vivência do celibato entre membros de ordens religiosas.
A investigação contou com uma amostra de 25 religiosos (13 mulheres e 12 homens), um número que, segundo a psicóloga Joana Alexandre, membro do Grupo Vita e co-orientadora do trabalho, se explica pelas “questões sensíveis” em que toca, “sobre as quais nunca se tinha feito nenhum estudo antes do que conheço em Portugal.
“Falar de celibato é ainda um tema que necessita de tempo. Por isso, termos 25 respostas não é algo negativo. É sinal de que se inicia aqui um caminho para se compreender esta questão”, explicou à Renascença.
Os dados mostram, ainda, que, entre os religiosos que se disponibilizaram a participar, “há “um nível elevado de compromisso com o celibato”, que, entre os padres, é superior ao observado noutros países, como a Índia e a Alemanha.
O estudo conclui ainda que, à medida que as vivências espirituais de cada um destes religiosos aumentam, se assiste a uma diminuição das dificuldades sexuais manifestadas por alguns – maiores entre homens do que entre mulheres.