24 jan, 2025 - 10:10 • Olímpia Mairos
“Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações” é o título da mensagem do Papa Francisco para o Dia das Comunicações Sociais, que se celebra no dia 1 de junho de 2025.
“Neste nosso tempo marcado pela desinformação e pela polarização, no qual alguns centros de poder controlam uma grande massa de dados e de informações sem precedentes, dirijo-me a vós consciente do quanto, hoje mais do que nunca, é necessário o vosso trabalho de jornalistas e comunicadores”, escreve o Papa.
Francisco alerta para o facto de na atualidade a comunicação ser muitas vezes violenta, visando atacar e não estabelecer as condições para o diálogo e sinaliza a necessidade de desarmar a comunicação, purificá-la da agressão.
“Hoje em dia, com demasiada frequência, a comunicação não gera esperança, mas sim medo e desespero, preconceitos e rancores, fanatismo e até ódio. Muitas vezes, simplifica a realidade para suscitar reações instintivas; usa a palavra como uma espada; recorre mesmo a informações falsas ou habilmente distorcidas para enviar mensagens destinadas a exaltar os ânimos, a provocar e a ferir”, escreve o Papa.
O Santo Padre lembra que já várias vezes insistiu na necessidade de “desarmar” a comunicação, de a purificar da agressividade, advertindo que “nunca dá bom resultado reduzir a realidade a slogans”.
“Desde os talk shows televisivos até às guerras verbais nas redes sociais, todos constatamos o risco de prevalecer o paradigma da competição, da contraposição, da vontade de dominar e possuir, da manipulação da opinião pública”, assinala.
Na mensagem, Francisco aponta ainda outro fenómeno preocupante que pode ser designado “como a ‘dispersão programada da atenção’ através de sistemas digitais que, ao traçarem o nosso perfil de acordo com as lógicas do mercado, alteram a nossa perceção da realidade”.
“Assistimos, muitas vezes impotentes, a uma espécie de atomização dos interesses, o que acaba por minar os fundamentos do nosso ser comunidade, a capacidade de trabalhar em conjunto por um bem comum, de nos ouvirmos uns aos outros, de compreendermos as razões do outro”, denuncia.
“Parece que, para a afirmação de si próprio, seja indispensável identificar um ‘inimigo’ a quem atacar verbalmente. E quando o outro se torna um ‘inimigo’, quando o seu rosto e a sua dignidade são obscurecidos de modo a escarnecê-lo e ridicularizá-lo, perde-se igualmente a possibilidade de gerar esperança”, acrescenta.
Para Francisco a comunicação dos cristãos, até a comunicação em geral, deve ser feita “com mansidão, com proximidade: eis o estilo dos companheiros de viagem, na peugada do maior Comunicador de todos os tempos, Jesus de Nazaré, que ao longo do caminho dialogava com os dois discípulos de Emaús, fazendo-lhes arder os corações através do modo como interpretava os acontecimentos à luz das Escrituras”.
"Sonho com uma comunicação que saiba fazer de nós companheiros de viagem de tantos irmãos e irmãs nossos para, em tempos tão conturbados, reacender neles a esperança"
“Uma comunicação que seja capaz de falar ao coração, de suscitar não reações impetuosas de fechamento e raiva, mas atitudes de abertura e amizade; capaz de apostar na beleza e na esperança mesmo nas situações aparentemente mais desesperadas; de gerar empenho, empatia, interesse pelos outros. Uma comunicação que nos ajude a «reconhecer a dignidade de cada ser humano e a cuidar juntos da nossa casa comum» (Carta enc. Dilexit nos, 217)”, explica o Papa.
Francisco diz sonhar com “uma comunicação que não venda ilusões ou medos, mas seja capaz de dar razões para ter esperança”, indicando que “para isso, precisamos de nos curar da ‘doença’ do protagonismo e da autorreferencialidade, evitar o risco de falarmos de nós mesmos”.
“O bom comunicador faz com que quem ouve, lê ou vê se torne participante, esteja próximo, possa encontrar o melhor de si e entrar com estas atitudes nas histórias contadas. Comunicar deste modo ajuda a tornarmo-nos ‘peregrinos de esperança’, como diz o lema do Jubileu”, observa o Papa.
Na mensagem, Francisco indica ainda que “a esperança é sempre um projeto comunitário”, sublinhando que o Jubileu que estamos a viver “abre-nos à esperança, aponta-nos a necessidade de uma comunicação atenta, amável, refletida, capaz de indicar caminhos de diálogo”.
“Encorajo-vos, portanto, a descobrir e a contar tantas histórias de bem escondidas por detrás das notícias; a imitar aqueles exploradores de ouro que, incansavelmente, peneiram a areia em busca duma pequeníssima pepita”
Para Francisco “é importante encontrar estas sementes de esperança e dá-las a conhecer” porque “ajuda o mundo a ser um pouco menos surdo ao grito dos últimos, um pouco menos indiferente, um pouco menos fechado”.
“Que saibais sempre encontrar as centelhas de bem que nos permitem ter esperança. Este tipo de comunicação pode ajudar a tecer a comunhão, a fazer-nos sentir menos sós, a redescobrir a importância de caminhar juntos”, aponta.
O Dia Mundial das Comunicações Sociais, única celebração do género estabelecida pelo Concílio Vaticano II (decreto ‘Inter Mirifica’, 1963), é celebrado no domingo que antecede o Pentecostes (1 de junho, em 2025).
A mensagem do Papa é tradicionalmente publicada por ocasião da festa litúrgica de São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas, que se celebra esta sexta-feira.