"Aqui as pessoas podem ser felizes dos zero aos 100 anos!”

Há 30 anos que o Centro Social e Paroquial do Campo Grande apoia quem vive naquela zona de Lisboa, com diversas valências e projetos. O objetivo não é apenas “assegurar as necessidades básicas dos que mais precisam”, mas “trabalhar para a pessoa no seu todo e nas várias fases da sua vida”, numa atitude de “amor ao próximo e compromisso com o bem-estar de todos”, diz à Renascença a diretora técnica do Centro.

“Há várias gerações que estamos na vida de muitas famílias. Costumo dizer que aqui as pessoas podem ser felizes dos 0 aos 100 anos”, sublinha Cristina Pimentel Ferreira, que fala com orgulho deste apoio alargado que conseguem assegurar, com qualidade, a utentes de todas as idades. E exemplifica.

“Recebemos os bebés na Creche, continuamos a acolhê-los em Jardim de Infância, depois saem daqui para ir fazer a escolaridade obrigatória, mas nós vamos com eles, porque o Centro Social assegura programas de apoio à família, na Escola de Santo António e na Eugénio dos Santos. Portanto, acompanhamos estes jovens ao longo da sua vida e alguns deles participam não só nas atividades que temos de apoio à família nessas escolas, como também nas atividades que disponibilizamos aqui no Centro Social, no ‘Espaço Boomerang’”.

Só ali apoiam 192 jovens do 2.º e 3.º ciclos, durante as aulas e nas férias escolares. “Temos atividades durante o período letivo de apoio ao estudo, várias dinâmicas de apoio psicológico e de orientação, mas também nas pausas letivas. No verão, na Páscoa ou no Natal, temos sempre respostas adequadas para os tempos livres desses jovens”.

Alguns que já entraram na idade adulta estão agora a ajudar nos projetos com idosos. “Temos o Centro de Dia, com várias atividades, e uma Academia Sénior, na qual podem participar, promovendo workshops. Temos também o apoio domiciliário, que presta ajuda a tantas famílias, aqui já não apenas em Alvalade, mas também nas Avenidas Novas. Direta ou indiretamente, tudo junto, estamos na vida de 900 famílias. É muita gente!”.

“Temos pessoas aqui que são verdadeiros casos de sucesso”

Vitória Ribeiro, de 78 anos, é uma das utentes do Centro Social e Paroquial do Campo Grande. “Estou aqui desde o início do ano letivo, ou seja, desde setembro. Vivia sozinha, era muito solitária, porque sou viúva há quatro anos, e sentia uma tristeza profunda. Entrei no programa ‘Sempre Acompanhados’, e daí para cá a minha vida melhorou muito, muito! Para melhor!”, conta à Renascença, agradecendo a forma como a têm ajudado.

“Passei a ter um apoio constante, alguém sempre disponível ao meu lado para me ouvir, aconselhar e ajudar nos momentos mais difíceis. Isso tem-me dado muita segurança, muito conforto e mais qualidade de vida”.

Catarina Castro, assistente social, é uma das responsáveis pelo programa ‘Sempre Acompanhados’. Coordenado pela psicóloga Dina Bértolo, foi pensado precisamente para ajudar a combater a solidão dos mais idosos, e abrange neste momento 160 utentes nas freguesias de Alvalade e Olivais, explica Catarina. “Aqui em Alvalade começámos em 2022 e nos Olivais em 2023. O nosso objetivo principal é acompanhar pessoas seniores que estejam a passar por um período delicado na sua vida, porque perderam o cônjuge, um filho ou outro parente. Ou então porque eram pessoas muito autónomas, e assim que entraram na reforma perderam tudo e isolarem-se cada vez mais”.

O projeto pretende ajudá-los a construir um novo projeto de vida. “A nossa intervenção passa, essencialmente, por um acompanhamento individual. Mediante uma avaliação dos seus gostos e interesses, construímos um plano de trabalho para a pessoa ganhar um novo sentido para a sua vida”.

Outro programa de que se orgulham é o da Estimulação Cognitiva, que pretende também ser preventivo. “É um programa que já existe no Centro Social há mais de 20 anos, foi pioneiro aqui na freguesia de Alvalade. O objetivo é avaliar e estimular todos os domínios cognitivos, possibilitando a reabilitação das funções mais comprometidas, mas também trabalhar na prevenção das primeiras queixas e na sua instalação”.

Esta atividade “decorre em grupo, não mais do que 10 pessoas. Cada um tem o seu próprio caderno individual, onde vão fazendo exercícios de estimulação”, conta ainda, adiantando que com estes programas abrangem um número significativo de utentes. “Atualmente existem cerca de nove grupos, sendo que um deles decorre online, pelo Zoom, para utentes com idades entre os 59 e os 98 anos. Temos um total de 70 pessoas neste Programa de Estimulação Cognitiva, que é um sucesso! As pessoas gostam muito de estar integradas neste programa, do qual a Vitória Ribeiro faz parte e já nota total de diferença”, conta.

Este é, por isso, um trabalho que Catarina Castro diz ser “muito gratificante”. “As pessoas chegam até nós emocionalmente muito em baixo, fragilizadas, e ver a evolução delas ao longo do nosso acompanhamento, é extraordinário!"

"Temos pessoas aqui que são verdadeiros casos de sucesso, entraram num processo de solidão, e hoje em dia estão tão integradas na comunidade que já nem nos ligam! Nós é que lhes ligamos a perguntar: 'então, nunca mais nos disse nada, como é que tem passado?’".

A Área Sénior do Centro Social inclui, assim, várias respostas sociais para os mais idosos: Serviço de Apoio Domiciliário, Centro de Dia, Programa de Estimulação Cognitiva e Programa Sempre Acompanhados.

“Estamos atentos aos sinais dos tempos”

É no Centro Social e Paroquial do Campo Grande que muitas famílias encontram apoio seguro e de qualidade para os seus filhos. Iva Sabino é o a diretora pedagógica do Centro, onde começam por receber diariamente dezenas de bebés e crianças. “Na Creche temos 66 crianças neste momento, e no Jardim de Infância temos 28 crianças inscritas”, explica à Renascença.

Através de um protocolo com a Câmara de Lisboa, em articulação com o Agrupamento de Escolas Rainha Dona Leonor, estão a assegurar atividades de animação e apoio às famílias, assim como as atividades de enriquecimento curricular para as crianças do jardim de infância e do 1.º ciclo.

“Temos uma equipa destacada de monitores auxiliares e professores numa escola pública da Freguesia de Alvalade, a EB Jardim de Infância Santo António. Neste momento temos 168 crianças inscritas, no total. São atividades que dinamizamos com os grupos de crianças, sempre em horário pós-letivo. Quando as crianças não estão com as educadoras ou com os professores titulares, a nossa equipa assume e desenvolve atividades ludicopedagógicas”.

Asseguram também as Atividades Extracurriculares (AEC). “Temos professores que lecionam as disciplinas de inglês, atividade física e desportiva e expressão artística, musical, dramática, com habilitações próprias para dar essas aulas no período já do horário final de dia”.

Muito importante, sublinha, são os Ateliês de Inteligência Emocional. “No Núcleo Infância, porque estamos atentos aos sinais dos tempos e acreditamos que as interações digitais podem limitar a capacidade de desenvolver e expressar empatia, autoconsciência e mesmo as habilidades relacionais e interrelacionais, desenvolvemos os Ateliês com uma psicóloga, para todas as crianças que estão integradas no Jardim de Infância, para que fortaleçam esta área de desenvolvimento que é muito importante. De 15 em 15 dias há uma sessão de Inteligência Emocional com todos os grupos do Jardim de Infância”.

Têm, ainda, o ‘Espaço Boomerang’, para crianças dos 9 aos 15 anos de idade. “Aqui, neste ano letivo, estamos a dar resposta a 172 agregados familiares. Apoiamos crianças do 2º e 3º ciclos, entre os 9, 10 anos até aos 14, 15 anos de idade, também em período não letivo. Portanto, eles estão connosco quando não estão em aulas. Este espaço tem como finalidade contribuir para o bem-estar de cada jovem, e temos por base dois eixos principais, por um lado, a orientação ao estudo e o lúdico-formativo”.

Uma “grande ajuda”, diz, para muitos pais, sobretudo os que não têm retaguarda familiar, nem locais onde deixar as crianças. “Precisam muito do nosso espaço e da nossa intervenção, e nós queremos contribuir para que, pelo menos o tempo que têm de ficar nos nossos serviços, que seja um tempo de qualidade, que os ajude a desenvolver e a crescer de forma integral, a todos os níveis”.

Há mais de duas décadas neste Centro Social, Iva Sabino também diz que este é um trabalho recompensador, mas nem sempre fácil. “É um desafio muito grande, diário. É um trabalho que eu, particularmente, gosto muito de fazer, estou no Centro Social há quase 24 anos e sempre foi muito gratificante para mim acompanhar os jovens que já passaram pelos nossos serviços, e que eu conheço desde crianças, ou mesmo bebés”.

É muito importante dar este acompanhamento efetivo a estas famílias, e conhecê-las tão bem e ir ao encontro das suas necessidades”, sublinha.

Também na avaliação de Vitória Ribeiro, utente sénior, o Centro merece nota máxima nos serviços que presta, e que a si a fizeram recuperar a alegria perdida. “Estou muito feliz aqui! Sinto-me bem, rodeada de pessoas gostam de mim, que me põem à vontade. Posso dizer que estou feliz!”.

O concerto solidário ‘Passa por Mim no Campo Grande – Lisboa e Canções de Amor’, previsto para 4 de fevereiro, às 21h, na Aula Magna, vai reverter para este Centro Social e Paroquial, que apoia 900 famílias. Incentivado pelo antigo ministro da economia Carlos Tavares - que é também um dos coordenadores musicais - vai reunir em palco João Gil, Vitorino, os Lucky Duckies, Manuel Rebelo e Maria Ana Bobone. Nicolau Santos, jornalista e presidente do Conselho de Administração da RTP, vai declamar poemas, num espetáculo que será apresentado por Margarida Mercês de Mello.

Os bilhetes estão à venda nos locais habituais.