03 fev, 2025 - 18:52 • Aura Miguel
O Papa vai preparar uma carta ou exortação apostólica dedicada às crianças, anunciou esta segunda-feira Francisco, no final de uma Cimeira dedicada aos direitos das crianças, que decorreu no Vaticano.
“Graças a vós, as salas do Palácio Apostólico tornaram-se hoje um ‘observatório’ aberto sobre a realidade da infância em todo o mundo, uma infância que infelizmente é muitas vezes ferida, explorada, negada”, afirmou o Papa.
Francisco agradeceu a presença de dezenas de relatores, cuja experiência e compaixão “deram vida a um observatório e, sobretudo, a um ‘laboratório’, em que vários grupos temáticos elaboraram propostas para a proteção dos direitos das crianças, considerando-as não como números, mas como rostos”.
Participaram nesta Cimeira personalidades como a rainha Rania Al Abdullah da Jordânia, Ahmed Naser Al-Raisi, presidente da Interpol e os prémios Nobel da Paz, Kailash Satyarthi e Al Gore.
Rania da Jordânia sublinhou, que hoje em dia, uma em cada seis crianças sofre com os conflitos e diariamente dezenas delas são mortas ou mutiladas, privadas de todos os direitos e da proteção contra os abusos.
Cimeira Internacional sobre os direitos das crianças
Vivemos uma "crise moral global”, diz o Papa, dest(...)
A rainha revelou um estudo sobre a condição psicológica das crianças em Gaza, onde 96% das mais vulneráveis referem sentir a sua morte iminente.
”Quase metade delas disse querer morrer. Não que queriam ser astronautas ou bombeiros, como dizem as outras crianças, mas que queriam estar mortas. Como permitimos que a nossa humanidade chegasse a este ponto?”, interrogou-se a rainha.
Entre muitos contributos, destaque para a intervenção do padre franciscano Ibrahim Faltas. O custódio da Terra Santa deseja que a trégua permita alcançar a paz naquela região para aliviar as necessidades físicas e materiais das crianças, “mas será difícil cancelar os traumas visíveis e invisíveis que deixaram cicatrizes no corpo e na mente das minhas crianças”.
O padre Ibrahim referiu que grande parte destas crianças perderam tudo, incluindo pais, avós, irmãos e familiares mais próximos.
“Nos últimos 16 meses, morreram imensas. Muitas não tiveram a possibilidade de tratar-se e salvar-se. Pelo segundo ano consecutivo, as crianças não podem estudar porque as escolas foram destruídas. As crianças não veem o seu futuro, estão a perder a esperança”, lamentou o franciscano.
“As crianças olham para o mundo com os olhos da verdade. A paz é o direito principal das crianças, elas têm o direito de conhecer o bem, a educação à paz, ao respeito pela vida e ao próximo”, disse.
Antes da cimeira começar, o Papa recebeu uma carta de um grupo de miúdos provenientes de várias escolas e paróquias.
“Queremos a paz! Não queremos um mundo com guerra. A guerra não serve para nada: destrói, mata e torna todos mais tristes, mas isto alguns adultos ainda não o sabem!”, lê-se na carta.
“Contigo, queremos limpar o mundo das coisas feias, colori-lo com a amizade e o respeito e ajudar-te a construir um futuro belo para todos! É difícil? Mas se tu nos ajudas torna-se mais fácil!”, apelam as crianças.