16 fev, 2025 - 18:15 • Ana Catarina André
O Patriarca de Lisboa, D. Rui Valério, afirmou este domingo, na Igreja do Mosteiro de São Vicente, em Lisboa, que um “bispo tem de ser ‘sacramento de proximidade’”, para iluminar com a sua condição de vida nova as sombras (…) e os escombros caídos da humanidade”.
“Só pode e deve ser um homem cujo interesse amoroso se dirige para Deus, porque só então é que ele se interessa verdadeiramente também pelos homens. E vice-versa: um bispo deve ser um homem que se dedica abnegadamente aos outros”, sublinhou na homilia da missa da ordenação episcopal de D. Rui Gouveia, novo bispo auxiliar de Lisboa, em que participaram 28 bispos, 180 padres e 46 diáconos.
Falando do Evangelho deste domingo, o Patriarca de Lisboa disse que as Bem-Aventuranças são “como uma partitura” que “orienta a execução musical”. “Guiam-nos no caminho da santidade porque nos preenchem totalmente de Deus”; “estabelecem uma inversão dos critérios humanos em relação à felicidade, para nos libertarmos dos falsos valores do mundo e nos abrirmos aos bens verdadeiros, presentes e futuros”.
Dirigindo-se ao novo bispo auxiliar de Lisboa, que até agora era vigário-geral da diocese de Setúbal, D. Rui Valério lembrou, ainda, que “as Bem-Aventuranças de Lucas implicam um compromisso pessoal com os pobres, com os excluídos, com os que choram”, “um compromisso com a paz, com a não-violência entre os homens, mesmo correndo o risco da perseguição”.
Diante de cerca de 700 fiéis, o Patriarca pediu a D. Rui Gouveia que seja “pioneiro de uma realidade nova”, “obreiro da esperança”.
“Convido-te, pois, caríssimo D. Rui (…) a ires ao encontro dos irmãos para lhes revelares, na luz de Cristo Ressuscitado, que a nossa pátria verdadeira e autêntica é a eternidade”, frisou, recordando as palavras de São Paulo aos Efésios, que antes de se converterem viviam “sem esperança e sem Deus neste mundo”. Uma expressão que o Patriarca de Lisboa diz permanecer atual, “por causa da desorientação dos nossos dias, de modo particular do niilismo contemporâneo, que corrói a esperança no coração do homem, induzindo-o a pensar que dentro dele e ao seu redor reina o vazio: nada antes do nascimento, nada depois da morte”.
D. Rui Valério constatou, ainda, que “quando falta Deus, falta a esperança”. “Tudo perde a sua «consistência»”, considerou, acrescentando que “o missionário da esperança é aquele que reconhece que Deus é a sua fonte, o seu ponto de apoio e o seu horizonte”.
Presidida pelo Patriarca de Lisboa, a ordenação de D. Rui Gouveia, de 49 anos, teve como bispos co-ordenantes o cardeal D. Américo Aguiar, bispo de Setúbal, e D. Gilberto dos Reis, bispo emérito da mesma diocese.
No final, em declarações aos jornalistas, D. Rui Valério afirmou que estando a equipa episcopal completa – com a ordenação de D. Rui Gouveia, são três os bispos auxiliares, em Lisboa – “é mais uma condição que está preenchida para o caminho de realização da santidade”.
“Lisboa está numa vitalidade muito grande. As comunidades estão mobilizadas. O Jubileu veio como uma bênção, como a chuva que cai do céu em tempo de seca. A presença dos bispos, dos pastores, é importantíssima para que esse caminho, sobretudo a uma certa velocidade, se concretize”, referiu. E disse: “Cada um de nós tem sensibilidades, experiências de vida e perspetivas pastorais em que esteve envolvido também diversas, e isso é realmente um enriquecimento em ordem à resposta da fome genuína as pessoas: fome de Deus, de Palavra, de sentido de vida, de proximidade e nós quatro refletimos muito na concretização da resposta de todas estas necessidades, de todas estas fomes, com base naturalmente no Evangelho”.
D. Rui Valério adiantou, ainda,
que está em curso um projeto pastoral com a população sem-abrigo. “Ao mesmo
tempo que necessitam de apoio alimentar, roupa, medicamentos e habitação, há
outra dimensão que é fundamental, a dimensão espiritual, [e que inclui] a
possibilidade de serem escutados, uma escuta que se torne interpretação da
própria realidade de vida, a possibilidade de terem acesso a uma meditação da Palavra
de Deus, para serem iluminados na construção de um significado de vida, a
possibilidade de acederem aos sacramentos. Há uma consciencialização
generalizada para que isto aconteça”, disse, adiantando que recentemente se
realizaram peregrinações com pessoas em situação de sem-abrigo.
Questionado sobre os recentes insultos no Parlamento contra uma deputada do PS, D. Rui Valério disse que “a
elevação moral traduz-se, concretiza-se, encarna-se na elevação da linguagem, na
elevação das atitudes, na elevação dos comportamentos”. “Julgo que uma palavra,
uma frase, um discurso que não seja pautado pela elevação revela tanta coisa.
Tudo aquilo que é um pronunciamento em que, depois, constatamos que há sempre
alguém que fica ferido pelo que ouve, fica diminuído, fica atropelado, acho isso
não é bom.”