22 fev, 2025 - 16:00 • Aura Miguel
A hipótese da renúncia do Papa tem sido aflorada nestes dias, não só entre os jornalistas, mas também entre os cardeais. A questão assume agora novos contornos, considerando a situação crítica de saúde e eventuais complicações do pontífice, relacionadas com a dupla pneumonia e intensa medicação a que é submetido.
Após sete dias de internamento, o cardeal Gianfranco Ravasi, de 82 anos, ex-Prefeito da Cúria para a Cultura, levantou na passada quinta-feira, dia 20 de fevereiro, a hipótese da renúncia papal. “Penso que o poderá fazer porque é uma pessoa bastante determinada nas suas escolhas. Até agora, sempre pensou em continuar a sua atividade”, disse Ravasi numa entrevista à RTL Itália.
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“No entanto, não há dúvidas de que, se estiver numa situação em que a sua capacidade de manter contato direto, como ele gosta de fazer, de poder comunicar de forma imediata, incisiva e decidida ficar comprometida, então, acredito que ele poderá decidir renunciar.”
O mesmo referiu, nesse dia, o cardeal Jean-Marc Aveline. “Tudo é possível”, disse o arcebispo de Marselha respondendo a uma pergunta, à margem de uma conferência de imprensa.
Francisco continua "bem disposto", mas é um pacien(...)
O actual decano do colégio cardinalício, cardeal Giovanni Battista Re, com 91 anos, reagiu de imediato e disse que não, que “o Papa não vai renunciar”.
A maioria da Cúria mantém-se discreta. E os jornalistas insistem. Em declarações ao Corriere della Serra, o cardeal Pietro Parolin classificou de “especulações inúteis”, as vozes que falam em demissão.
“Agora pensamos na saúde do Santo Padre, na sua recuperação, no seu regresso ao Vaticano, são as únicas coisas que importam”, afirmou o Secretário de Estado do Vaticano. “Sinceramente, não sei se há manobras desse tipo e tento, em todo caso, ficar de fora. Por outro lado, acho bastante normal que nessas situações se espalhem boatos descontrolados ou que se faça algum comentário inapropriado: certamente não é a primeira vez que isso acontece”, disse.
“Não vejo um clima pré-Conclave”, afirma por sua v(...)
Apesar de ainda não visto o Papa desde que foi hospitalizado, o cardeal Parolin, informou-o que está disponível para o encontrar no hospital, se julgar necessário, "mas até agora não houve necessidade". E acrescentou: “é melhor que ele permaneça protegido e tenha o mínimo de visitas possível, para poder descansar e assim tornar mais eficazes as terapias que está a fazer”.
Ao jornal La Nación, o cardeal argentino Víctor Manuel Fernández, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, também se manifestou contra a resignação.
“Não faz sentido que alguns grupos pressionem a favor de uma renúncia. Já fizeram isso várias vezes, nos últimos anos, mas esta decisão do Santo Padre, para ser válida, terá de ser completamente livre”. E, a propósito de especulações sobre um futuro Papa, Fernandez responde: “Não vejo um clima pré-conclave, não vejo mais conversas sobre um possível sucessor do que houve há um ano, ou seja, nada de especial.” Para o cardeal argentino e velho amigo de Bergoglio, “o mais importante é que o corpo do Papa possa reagir bem à terapia atual”.
Sabemos, pelas palavras do próprio Papa, que desde a sua eleição, em 2013, assinou uma carta a dizer se demitiria no caso de ficar paralisado de modo permanente - carta que, pelo menos desde Paulo VI, os últimos Papas têm assinado.
Nas suas últimas entrevistas, Francisco reconheceu que não tencionava resignar, a não ser que surgisse algum problema grave de saúde e ficasse demasiado limitado para poder governar e conduzir a igreja. E que, nesse caso, faria um discernimento sobre o assunto.
A especulação tem dominado os média, ao ponto de a Santa Sé ter desmentido, nesta sexta-feira, 21 de fevereiro, uma notícia da Rai News 24 que falava de um encontro do Papa, com o cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin e o cardeal Gianfranco Ghirlanda, este último famoso canonista e conhecedor dos procedimentos necessários para se avançar com a renúncia. Com rara veemência, o comunicado da Santa Sé não se fez esperar, desmentindo ter havido qualquer encontro desses dois cardeais com o Papa, no Hospital Gemellli.